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Cinema, Aspirinas e urubus

Segunda-Feira, dia de filme nacional. Apesar da Tela Quente da Globo estar anunciando Se Eu Fosse Você, destaco o filme que passará na madrugada da mesma emissora: Cinema, Aspirinas e Urubus. Mais um filme com João Miguel, apenas coincidência, mas a história de Johann é uma fábula digna de ser vista e comentada diversas vezes.

Um alemão que passeia pelo sertão nordestino vendendo aspirina através de um cinema mambembe, utiliza a magia da tela para encantar o povo simples que compra o milagroso comprimido, sem nem mesmo questionar para que serve. Ao dar carona ao sertanejo Ranulpho, os dois homens começam uma relação de amizade e troca de experiências enriquecedoras que nos envolve de maneira simples.

O diretor Marcelo Gomes faz sua estreia com pé direito. Contando a história através do seu cotidiano, estende a narrativa de forma inteligente, mostrando os detalhes, o calor do sertão, as ações simples em um relato visual muito bonito. Aliás, a fotografia é um ponto forte, já chama a atenção a cena inicial de Johann em seu caminhão passando por uma paisagem quase branca, dando a exatidão da temperatura seca ali presente.

Não é o primeiro, nem o último filme sobre o sertão nordestino. Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos, inspirado na obra de Graciliano Ramos, continua sendo o maior clássico dessa situação de miséria e êxodo da região. Porém, o filme de Marcelo Gomes mostra uma ótica poética e inusitada ao se utilizar de metalinguagem, nos fazendo pensar. Claro que ao ver aquele povo comprando aspirinas do nada, questionamentos são gerados. Mas é exatamente para isso que é feito o filme, para levantar pensamentos.

João Miguel se destaca na pele do sertanejo simples, cansado da miséria em que vive e embarca no sonho do alemão, aprendendo o ofício e buscando um rumo para sua vida. Peter Ketnath, também, está bem na pele do vendedor de aspirinas (ou seria de sonhos?) que tenta fugir da realidade da guerra e encontra outra realidade dura no Nordeste brasileiro. A construção da amizade dos dois personagens é envolvente e faz o filme transpirar.


Não podemos deixar de citar que este é, evidentemente um road-movie, muito comum em filmes brasileiros, principalmente de Cacá Diegues[bb]. E que sempre dá uma sensação de jornada ao desconhecido. Não é o melhor filme brasileiro já visto, nem uma obra-prima. Mas, com certeza entra para o hall de bons filmes, além de ter sido o maior destaque do ano de 2005.


Prêmios:
- Grande Prêmio Cinema Brasil: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Fotografia.
- Prêmio Especial do Júri e o prêmio de Melhor Ator (João Miguel), no Festival do Rio.
- Melhor Filme, Melhor Filme Brasileiro e Melhor Ator (João Miguel), na Mostra de Cinema de São Paulo.
- Astor de Prata de Melhor Filme Ibero-Americano, no Festival de Mar del Plata.
- Prêmio do Sistema Educacional Francês, no Festival de Cannes.
- Recebeu 2 indicações ao Prêmio ACIE de Cinema, nas categorias de Melhor Filme e Melhor Fotografia.
- Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (João Miguel), Melhor Roteiro e Melhor Fotografia, no Prêmio Contigo! de Cinema.

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