Grandes Cenas: Sociedade dos Poetas Mortos
Em 1989, Peter Weir dirigiu um filme muito diferente do seu maior sucesso até então, A Testemunha. Um melodrama sensível, que falava de sonhos e vontade de viver a vida. Em um conservador colégio, chega um professor diferente. Carismático, Mr. Keating (Captain) quer ensinar aos jovens a pensar por si só e viver a vida intensamente. Suas aulas mexem profundamente com alguns alunos, mas mexe com a ortodoxa tradição da escola, gerando problemas.
Um dos principais alunos envolvidos na grande mudança é Todd, o tímido garoto interpretado por Ethan Hawke. Escolhi então, a cena em que ele aprende a "fazer" poesia, sem se importar com críticas para análise.
Keating havia pedido que cada aluno levasse uma poesia para ler em voz alta, após muitas tentativas, Todd desistiu e apenas assumiu que não havia feito nada. O professor percebe que o problema do garoto é auto-estima baixa e resolve lhe dar uma lição. Interessante perceber o enquadramento da câmera quando Keating chama Todd, sempre subjetiva, vendo Todd de cima para baixo, dando a sensação de inferioridade. E o professor de baixo para cima, dando a impressão de austeridade, força, como gostava o realismo alemão.
Pedindo que ele vá a frente da sala, o professsor começa soltando sua tensão e pedindo para ele gritar. Sem graça, Todd começa, sem muita força e o professor insiste até que consegue que ele grite. A partir daí começa o processo criativo. A câmera começa a rodar em torno dos dois, dando uma sensação solta, perdida, tal qual Todd deve estar se sentindo. Mr. Keating vai circulando ao redor de Todd, a câmera também, só que em outro ritmo, e ele vai perguntando coisas que possam vir a cabeça do garoto em relação a um retrato na sala. O jogo de palavras vai se formando.
O professor, então, pede que Todd feche os olhos e descreva o que vê. Nervoso, Todd começa a soltar as palavras. A câmera continua rodando, Mr. Keating segura os olhos de Todd e roda com ele e continua lhe fazendo perguntas. Até sentir que o garoto pegou o ritmo, então, se afasta e ouve a poesia junto com os outros alunos, maravilhado. Após o final, todos batem palma. E Mr. Keating finaliza, "nunca esqueça isso".
Nunca esqueça o quê? Que a poesia é sentimento, solto, sem preparo, expressão pura e bela. Há beleza nas palavras, mesmo que não seja um profissional. Mais tarde, o garoto vai mostrar ao Capitan que aprendeu a lição, não digo como para não estragar o momento de quem não tenha visto o filme.
Robin Williams já provou que não é um ator apenas de comédia. Denso, versátil, sabe dosar a emoção com pequenos gestos, olhar e sorriso. Como o professor Keating ele incorpora o próprio herói, grande homem obstinado, ídolo e exemplo de todos. Não é a toa que arrebatou espectadores no mundo inteiro. Nesta cena específica, ele conduz a ação de forma simples, ágil, dando a emoção necessária para que todos se envolvam no processo de criação da poesia. Já Ethan Hawke, conhecido na época por seu papel infantil em Viagem ao Mundo dos Sonhos, demonstrou talento para fortes emoções e soube defender seu tímido Todd com muita expressividade. Não é a toa que de todos os "poetas mortos" foi o único a ter uma carreira expressiva em Hollywood.
É interessante perceber também a direção, sempre buscando que o movimento de câmera interaja na ação, sempre dinâmica, o que por vezes incomoda, mas nessa cena funciona, já que a confusão de Todd nos é passada por essa proliferação de movimentos.
Um dos principais alunos envolvidos na grande mudança é Todd, o tímido garoto interpretado por Ethan Hawke. Escolhi então, a cena em que ele aprende a "fazer" poesia, sem se importar com críticas para análise.
Keating havia pedido que cada aluno levasse uma poesia para ler em voz alta, após muitas tentativas, Todd desistiu e apenas assumiu que não havia feito nada. O professor percebe que o problema do garoto é auto-estima baixa e resolve lhe dar uma lição. Interessante perceber o enquadramento da câmera quando Keating chama Todd, sempre subjetiva, vendo Todd de cima para baixo, dando a sensação de inferioridade. E o professor de baixo para cima, dando a impressão de austeridade, força, como gostava o realismo alemão.
Pedindo que ele vá a frente da sala, o professsor começa soltando sua tensão e pedindo para ele gritar. Sem graça, Todd começa, sem muita força e o professor insiste até que consegue que ele grite. A partir daí começa o processo criativo. A câmera começa a rodar em torno dos dois, dando uma sensação solta, perdida, tal qual Todd deve estar se sentindo. Mr. Keating vai circulando ao redor de Todd, a câmera também, só que em outro ritmo, e ele vai perguntando coisas que possam vir a cabeça do garoto em relação a um retrato na sala. O jogo de palavras vai se formando.
O professor, então, pede que Todd feche os olhos e descreva o que vê. Nervoso, Todd começa a soltar as palavras. A câmera continua rodando, Mr. Keating segura os olhos de Todd e roda com ele e continua lhe fazendo perguntas. Até sentir que o garoto pegou o ritmo, então, se afasta e ouve a poesia junto com os outros alunos, maravilhado. Após o final, todos batem palma. E Mr. Keating finaliza, "nunca esqueça isso".
Nunca esqueça o quê? Que a poesia é sentimento, solto, sem preparo, expressão pura e bela. Há beleza nas palavras, mesmo que não seja um profissional. Mais tarde, o garoto vai mostrar ao Capitan que aprendeu a lição, não digo como para não estragar o momento de quem não tenha visto o filme.
Robin Williams já provou que não é um ator apenas de comédia. Denso, versátil, sabe dosar a emoção com pequenos gestos, olhar e sorriso. Como o professor Keating ele incorpora o próprio herói, grande homem obstinado, ídolo e exemplo de todos. Não é a toa que arrebatou espectadores no mundo inteiro. Nesta cena específica, ele conduz a ação de forma simples, ágil, dando a emoção necessária para que todos se envolvam no processo de criação da poesia. Já Ethan Hawke, conhecido na época por seu papel infantil em Viagem ao Mundo dos Sonhos, demonstrou talento para fortes emoções e soube defender seu tímido Todd com muita expressividade. Não é a toa que de todos os "poetas mortos" foi o único a ter uma carreira expressiva em Hollywood.
É interessante perceber também a direção, sempre buscando que o movimento de câmera interaja na ação, sempre dinâmica, o que por vezes incomoda, mas nessa cena funciona, já que a confusão de Todd nos é passada por essa proliferação de movimentos.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Sociedade dos Poetas Mortos
2009-05-15T09:16:00-03:00
Amanda Aouad
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