Alô, Alô, Terezinha!
Abelardo Barbosa foi um ícone na televisão brasileira. Com seu jeito palhaço, sua linguagem escrachada, marcou a vida de muitas pessoas, inclusive a minha, uma criança que cresceu assistindo o Cassino do Chacrinha aos sábados. Nada é parecido com aquilo, tão autêntico como a cultura brasileira. Os programas de auditório de hoje são cópias de programas americanos, por vezes, com o mesmo nome. Não há mais a espontaneidade, a cultura popular, o espaço para o povo e novos artistas. Como foi dito no filme, apareceu no Chacrinha, era certeza de música tocando nas rádios.
Por isso, senti uma tristeza ao ver uma sala de pré-estreia (normalmente disputada com filas enormes) tão esvaziada. As pessoas demonstraram um certo preconceito com o popular, como se fosse algo menor, brega. Temo pela bilheteria do longa, se a visão continuar essa, até porque o público de Chacrinha, ou seja a grande massa, não frequenta cinema. Segundo pesquisa recente apenas 9% da população vai aos cinemas. Loucura, não é?
Voltando ao longa, o diretor Nelson Hoineff fez uma escolha muito feliz. Como ele declarou antes da exibição do filme não é um documentário biográfico, é um resgate do clima do programa de auditório e do mundo criado por Chacrinha. Em um estilo clássico, há depoimentos atuais intercalados com cenas dos antigos programas. Levando em consideração que ele utiliza tanto os dois da extinta TV Tupi (A buzina e a discoteca do Chacrinha) e o da Rede Globo (Cassino do Chacrinha), foram muitas horas de decupagem. Com a ajuda de Newton Cannito, o roteiro é inteligente e a montagem constrói discussões interessantes como a real situação das Chacretes, as figuras emblemáticas e os calouros sem noção. É possível rir com um desafinado que diz ter alma de artista e afimar ser melhor que Roberto Carlos, a quem considera uma enganação.
Todas as chacretes são homenageadas, vemos a situação atual de cada uma delas, em sua maioria, longe da fama, como cozinheira, dona de mercadinho, entre outras. E o contraste com Rita Cadillac, a única que conseguiu se manter na mídia. O filme vai sendo construído a partir da lembrança das pessoas. Vários artistas se revezam na tela, com maior ou menor destaque. E um depoimento emocionante de Russo, o eterno ajudante de palco.
Apesar de ser um documentário, percebe-se uma preocupação com a direção de arte. O cenário é escolhido de acordo com a personalidade que fala, como Wanderley Cardoso ao lado de uma placa "o bom rapaz", Beth Carvalho em um sofá todo verde e rosa, ou Elimar Santos com um lindo piano. Sendo assim, surgiu a idéia do parapente na sequência de Biafra cantando "Sonho de Ícaro", que virou hit na internet por causa do acidente que está na íntegra no filme.
É um filme que diverte, resgata uma cultura que começa a ser esquecida e dá voz a pessoas que perderam o seu espaço na mídia. Por isso, é tão belo e fundamental. Que o nosso país não seja de um povo sem memória, viva a Alô, Alô, Terezinha!
Por isso, senti uma tristeza ao ver uma sala de pré-estreia (normalmente disputada com filas enormes) tão esvaziada. As pessoas demonstraram um certo preconceito com o popular, como se fosse algo menor, brega. Temo pela bilheteria do longa, se a visão continuar essa, até porque o público de Chacrinha, ou seja a grande massa, não frequenta cinema. Segundo pesquisa recente apenas 9% da população vai aos cinemas. Loucura, não é?
Voltando ao longa, o diretor Nelson Hoineff fez uma escolha muito feliz. Como ele declarou antes da exibição do filme não é um documentário biográfico, é um resgate do clima do programa de auditório e do mundo criado por Chacrinha. Em um estilo clássico, há depoimentos atuais intercalados com cenas dos antigos programas. Levando em consideração que ele utiliza tanto os dois da extinta TV Tupi (A buzina e a discoteca do Chacrinha) e o da Rede Globo (Cassino do Chacrinha), foram muitas horas de decupagem. Com a ajuda de Newton Cannito, o roteiro é inteligente e a montagem constrói discussões interessantes como a real situação das Chacretes, as figuras emblemáticas e os calouros sem noção. É possível rir com um desafinado que diz ter alma de artista e afimar ser melhor que Roberto Carlos, a quem considera uma enganação.
Todas as chacretes são homenageadas, vemos a situação atual de cada uma delas, em sua maioria, longe da fama, como cozinheira, dona de mercadinho, entre outras. E o contraste com Rita Cadillac, a única que conseguiu se manter na mídia. O filme vai sendo construído a partir da lembrança das pessoas. Vários artistas se revezam na tela, com maior ou menor destaque. E um depoimento emocionante de Russo, o eterno ajudante de palco.
Apesar de ser um documentário, percebe-se uma preocupação com a direção de arte. O cenário é escolhido de acordo com a personalidade que fala, como Wanderley Cardoso ao lado de uma placa "o bom rapaz", Beth Carvalho em um sofá todo verde e rosa, ou Elimar Santos com um lindo piano. Sendo assim, surgiu a idéia do parapente na sequência de Biafra cantando "Sonho de Ícaro", que virou hit na internet por causa do acidente que está na íntegra no filme.
É um filme que diverte, resgata uma cultura que começa a ser esquecida e dá voz a pessoas que perderam o seu espaço na mídia. Por isso, é tão belo e fundamental. Que o nosso país não seja de um povo sem memória, viva a Alô, Alô, Terezinha!
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Alô, Alô, Terezinha!
2009-10-24T09:55:00-03:00
Amanda Aouad
comedia|critica|documentario|
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