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A visão de dentro - entrevista exclusiva com diretora
A visão de dentro - entrevista exclusiva com diretora
A Visão de dentro, da jovem Sophia Mídian, é a atração dessa terça-feira, no Espaço Unibanco. O projeto faz parte da quarta edição do DOCTV e lança um olhar inquietante sobre uma comunidade de sem-terras do assentamento Menino Jesus, na região semi-árida baiana. A proposta é ir além do exposto na mídia, mostrando o MST a partir do seu cotidiano, sentimentos, conquistas e dificuldades de um povo lutador, que encontra na fé e na cultura a força necessária às batalhas da existência.
O documentário ainda não tem data para exibição na TV, mas pode ser conferido pelos baianos nessa terça-feira, dia 06/10, às 20hs. A entrada é gratuita. Em meio à expectativa, conversei com a diretora Sophia Mídian. Confiram:
- Como surgiu a idéia de falar sobre o movimento dos sem terra?
Sophia Mídian: Sou do interior e por mais que estejamos integrados numa vida mais cosmopolita, na raiz houve um contato forte com a roça. Minha família Bagues mesmo tem origem no povoado do Velame e o nome da geração foi inventado e nomeado pelo meu Avô aos filhos, por causa de um apelido que ele tinha. Na infância, vez ou outra ia passear na roça e talvez por isso sinta uma identificação grande com as pessoas simples, mas com firmeza de caráter.
Depois, na faculdade de jornalismo, na Uesb, participava (e ainda faço parte aqui) de um coletivo do Intervozes, que tem por bandeira o direito à comunicação. Uma vez, por meio deste, contribui de alguma forma para uma ocupação do MTD - Movimento dos Trabalhadores Desempregados. Além disso, era do Centro Acadêmico e sempre me movimentava com o grupo, em ações neste sentido.
Por ser jornalista, sinto ter uma dívida com a sociedade, até porque, muito dos nossos pares se envolvem em certos circuitos e deixam de noticiar os dois lados da questão, negando o princípio da imparcialidade. Muito embora, no documentário eu me atenho a revelar a voz do outro, do noticiado, dos sem-terra. Não nego que haja contradições, mas há muita gente necessitada que consegue sair da miséria e trabalhar dignamente num pedaço de chão.
Então, a ideia surgiu do "ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo", como diria Paulo Freire.
- A experiência de um documentário é bastante investigativa, como você se preparou para entrar no mundo daquelas pessoas?
SM: Antes de ir comecei a ler alguns livros sobre o tema. Conheci uns assentamentos, mas o mais essencial foi ter mantido uma boa interlocução com dois caras do MST, um jovem e um mais maduro. O mais velho é o Geraldo Fontes, cientista político mexicano que veio pro Brasil na gênese do MST, por intermédio de Stedili, o qual havia conhecido na faculdade, na Cidade do México. Tivemos alguns encontros preciosos onde debatíamos a conjuntura e eu ouvia, tal aprendiz, o que ele me contava; sempre evocando as contradições que eu pudesse encontrar e soprando o véu de fumaça do romantismo.
- Conte um pouco da experiência no acampamento, houve alguma resistência, como foi a receptividade em geral?
SM: Passei uns dias no assentamento, hospedada na casa de S. Samuel e D. Lecy. Fui tratada como gente da família e conheci os vizinhos e pessoas de várias gerações no assentamento. Jogava bola com as meninas no campo, lia Heiddeger no pé da árvore, ia pros "sambas roubados" da folia de reis... até o jogo de búzios eu fiz lá. Uma temporada de descoberta e encantamento. Não houve resistência alguma, pelo contrário, fui muito bem recebida. Eles rezavam por mim.
- O que você considera mais importante nessa experiência?
SM: Meu Deus. Além do convívio com pessoas que passei a amar, aprendi muito no processo de realização do filme e principalmente no que diz respeito às relações e objetivos.
- Você já tinha tido experiências com filmes institucionais e experimentais, quais as diferenças que sentiu em um projeto como o Doc Tv?
SM: Logo de cara participei de uma oficina pra discutir o projeto. A ideia antes restrita à minha cabeça e ao papel, foi debatida antes de voltar novamente para os meus domínios. Ao trabalhar com recursos públicos vc sente na pele a responsabilidade. É bom poder escolher a equipe e pagar pelos serviços. Envolver-se com outras personalidades, se confrontar no processo criativo e etc. É muito bacana a certeza da recepção do filme, afinal, ele será exibido em rede nacional... Você acaba possuindo um poder de longo alcance com a sua voz.
- Você criou o argumento, dirigiu e montou o documentário, qual a importância que você vê em participar efetivamente de todas as fases do filme?
SM: Tem umas cenas do filme, como árvores, chão e nuvens que eu tb filmei. Taí algo que se aproxima dos trabalhos independentes anteriores, essa de artesão. É importante porque a versatilidade te dá uma visão mais ampla do processo, você entende a linguagem que quer falar!
- Com qual das três funções você se identifica mais (diretor, roteirista, montador)?
SM: Amo e me identifico com as três.
- As pessoas costumam colocar em sua apresentação o fato de vir de Vitória da Conquista. Você acha que vir da terra de Gláuber teve influência em sua formação?
SM: Eu vim mesmo de Conquista, mas nasci em Seabra, na Chapada Diamantina. Acho que a influência foi do grupo com o qual me envolvi. Todos estão hoje lidando com arte e engajamento político. Fizemos até um coletivo aqui em Salvador, Kinemadinovo. Do grupo, George Neri, Dió Araújo e Denise Santos estão fazendo documentários pro edital dos 26 territórios... Outra coisa, em Conquista é realizada uma Mostra de Cinema, então uma vez no ano acontecia um evento que aglutinava o pensamento em cinema, embora eu tenha vindo fazer a especialização aqui. Num evento desses de cinema, numa homenagem a Glauber, pude conhecer o Eryk e aí sim Glauber tinha a ver, pois foi por conta do pai que ele foi parar lá. Conversamos muito nessa ocasião e viemos a nos tornar amigos depois. Ele me estimulou a encarar o cinema de frente.
- E os planos para o futuro? Pretende continuar com documentários ou tem interesse em ficção?
SM: Vou fazer os dois, além de TV. Tenho projetos de programa e, no momento, estamos engendrando uma grade bacana na TV Ufba.
O documentário ainda não tem data para exibição na TV, mas pode ser conferido pelos baianos nessa terça-feira, dia 06/10, às 20hs. A entrada é gratuita. Em meio à expectativa, conversei com a diretora Sophia Mídian. Confiram:
- Como surgiu a idéia de falar sobre o movimento dos sem terra?
Sophia Mídian: Sou do interior e por mais que estejamos integrados numa vida mais cosmopolita, na raiz houve um contato forte com a roça. Minha família Bagues mesmo tem origem no povoado do Velame e o nome da geração foi inventado e nomeado pelo meu Avô aos filhos, por causa de um apelido que ele tinha. Na infância, vez ou outra ia passear na roça e talvez por isso sinta uma identificação grande com as pessoas simples, mas com firmeza de caráter.
Depois, na faculdade de jornalismo, na Uesb, participava (e ainda faço parte aqui) de um coletivo do Intervozes, que tem por bandeira o direito à comunicação. Uma vez, por meio deste, contribui de alguma forma para uma ocupação do MTD - Movimento dos Trabalhadores Desempregados. Além disso, era do Centro Acadêmico e sempre me movimentava com o grupo, em ações neste sentido.
Por ser jornalista, sinto ter uma dívida com a sociedade, até porque, muito dos nossos pares se envolvem em certos circuitos e deixam de noticiar os dois lados da questão, negando o princípio da imparcialidade. Muito embora, no documentário eu me atenho a revelar a voz do outro, do noticiado, dos sem-terra. Não nego que haja contradições, mas há muita gente necessitada que consegue sair da miséria e trabalhar dignamente num pedaço de chão.
Então, a ideia surgiu do "ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo", como diria Paulo Freire.
- A experiência de um documentário é bastante investigativa, como você se preparou para entrar no mundo daquelas pessoas?
SM: Antes de ir comecei a ler alguns livros sobre o tema. Conheci uns assentamentos, mas o mais essencial foi ter mantido uma boa interlocução com dois caras do MST, um jovem e um mais maduro. O mais velho é o Geraldo Fontes, cientista político mexicano que veio pro Brasil na gênese do MST, por intermédio de Stedili, o qual havia conhecido na faculdade, na Cidade do México. Tivemos alguns encontros preciosos onde debatíamos a conjuntura e eu ouvia, tal aprendiz, o que ele me contava; sempre evocando as contradições que eu pudesse encontrar e soprando o véu de fumaça do romantismo.
- Conte um pouco da experiência no acampamento, houve alguma resistência, como foi a receptividade em geral?
SM: Passei uns dias no assentamento, hospedada na casa de S. Samuel e D. Lecy. Fui tratada como gente da família e conheci os vizinhos e pessoas de várias gerações no assentamento. Jogava bola com as meninas no campo, lia Heiddeger no pé da árvore, ia pros "sambas roubados" da folia de reis... até o jogo de búzios eu fiz lá. Uma temporada de descoberta e encantamento. Não houve resistência alguma, pelo contrário, fui muito bem recebida. Eles rezavam por mim.
- O que você considera mais importante nessa experiência?
SM: Meu Deus. Além do convívio com pessoas que passei a amar, aprendi muito no processo de realização do filme e principalmente no que diz respeito às relações e objetivos.
- Você já tinha tido experiências com filmes institucionais e experimentais, quais as diferenças que sentiu em um projeto como o Doc Tv?
SM: Logo de cara participei de uma oficina pra discutir o projeto. A ideia antes restrita à minha cabeça e ao papel, foi debatida antes de voltar novamente para os meus domínios. Ao trabalhar com recursos públicos vc sente na pele a responsabilidade. É bom poder escolher a equipe e pagar pelos serviços. Envolver-se com outras personalidades, se confrontar no processo criativo e etc. É muito bacana a certeza da recepção do filme, afinal, ele será exibido em rede nacional... Você acaba possuindo um poder de longo alcance com a sua voz.
- Você criou o argumento, dirigiu e montou o documentário, qual a importância que você vê em participar efetivamente de todas as fases do filme?
SM: Tem umas cenas do filme, como árvores, chão e nuvens que eu tb filmei. Taí algo que se aproxima dos trabalhos independentes anteriores, essa de artesão. É importante porque a versatilidade te dá uma visão mais ampla do processo, você entende a linguagem que quer falar!
- Com qual das três funções você se identifica mais (diretor, roteirista, montador)?
SM: Amo e me identifico com as três.
- As pessoas costumam colocar em sua apresentação o fato de vir de Vitória da Conquista. Você acha que vir da terra de Gláuber teve influência em sua formação?
SM: Eu vim mesmo de Conquista, mas nasci em Seabra, na Chapada Diamantina. Acho que a influência foi do grupo com o qual me envolvi. Todos estão hoje lidando com arte e engajamento político. Fizemos até um coletivo aqui em Salvador, Kinemadinovo. Do grupo, George Neri, Dió Araújo e Denise Santos estão fazendo documentários pro edital dos 26 territórios... Outra coisa, em Conquista é realizada uma Mostra de Cinema, então uma vez no ano acontecia um evento que aglutinava o pensamento em cinema, embora eu tenha vindo fazer a especialização aqui. Num evento desses de cinema, numa homenagem a Glauber, pude conhecer o Eryk e aí sim Glauber tinha a ver, pois foi por conta do pai que ele foi parar lá. Conversamos muito nessa ocasião e viemos a nos tornar amigos depois. Ele me estimulou a encarar o cinema de frente.
- E os planos para o futuro? Pretende continuar com documentários ou tem interesse em ficção?
SM: Vou fazer os dois, além de TV. Tenho projetos de programa e, no momento, estamos engendrando uma grade bacana na TV Ufba.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A visão de dentro - entrevista exclusiva com diretora
2009-10-03T10:00:00-03:00
Amanda Aouad
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