The Blind Side
John Lee Hancock começa o filme com uma narração de Sandra Bullock explicando a função de um quarterback e linebacker. A explicação aparentemente solta serve para evidenciar a função do nome do filme em inglês, "o lado cego", que se refere ao mesmo tempo à posição do jogo e à metáfora de uma parcela da sociedade que vive nesse "lado cego", sem que ninguém se preocupe ou faça nada. Por isso, o título original é mais fiel ao filme do que Um sonho possível, até porque nosso protagonista era tão apático que nem mesmo tinha um sonho, ele ia deixando a vida o levar.
O filme é baseado na história real de Michael Jerome Oher, um garoto negro, pobre, filho de uma viciada em crack que é adotado por uma família rica e branca tornando-se um astro do futebol americano. O longa é uma espécie de mistura de Preciosa e Invictus, com uma dose de fantasia um pouco mais desconcertante. Não sei até que ponto tudo ali é real, mas tudo parece romanceado demais para ser crível. Aristóteles em sua Poética já dizia que, em uma narrativa, é melhor você escolher coisas irreais, mas críveis, do que coisas reais, mas incríveis. É o conceito da tal verossimilhança que falta em Um Sonho Possível. Tudo é fácil demais para o jovem Michael. Não há um grande conflito e os que aparecem são frouxos e facilmente resolvidos.
O filme começa com Big Mike sendo aceito em uma escola porque o professor esportivo o vê jogando basquete. Ele é apático, perdeu no teste de Q.I, quase não presta atenção nas aulas, mas fica lá, no seu mundo. Interessante que o professor gosta dele por vê-lo jogando basquete, mas o coloca no time de futebol, que ele nunca tinha jogado na vida, só por seu tamanho. Uma noite de frio, ele passa andando pelo carro da família de Sandra Bullock e ela resolve levá-lo para casa. Em uma conversa surreal, ela deixa o garoto dormindo no sofá da sala e fala ao marido que não sabe se ele roubará nada, mas se no dia seguinte ela descer e gritar, ele ligue para seguradora... Admiro tanto despredimento material. A partir dessa noite, o garoto vai ficando e se tornando membro da família, melhorando nos estudos e aprendendo a jogar futebol. Em outra cena irreal, Sandra Bullock visita a mãe de Michael e discute com os traficantes locais. No mundo real, no mínimo ela levava um tapa, talvez um tiro, mas tudo bem.
Um sonho possível fala de esperança, de valores familiares e de superação, mas o problema é que ele não aprofunda nada disso. O roteiro vai passando superficialmente por tudo como se dissesse "não sei como foi possível, só sei que foi assim". Sandra Bullock está realmente muito bem como a perua loura de bom coração, mas nada excepcional. Após ver sua atuação começo a torcer pelo terceiro Oscar de Meryl Streep, apesar de ter dito que a interpretação da atriz em Julie e Júlia não merecia o prêmio. Na verdade, a interpretação chave do filme é do garoto Jae Head, que faz S.J., o irmão adotivo de Michael. Quinton Aaron é apenas honesto em seu Big Mike.
O fato é que a história do garoto negro, gordo e pobre (tal qual Preciosa) que encontra a superação pelo esporte de uma forma meio mágica, vencendo jogos improváveis (como em Invictus), pode ter conseguido sua indicação ao Oscar, mas não atinge a profundidade necessária para um bom drama. Ainda assim, é um filme a ser visto.
O filme é baseado na história real de Michael Jerome Oher, um garoto negro, pobre, filho de uma viciada em crack que é adotado por uma família rica e branca tornando-se um astro do futebol americano. O longa é uma espécie de mistura de Preciosa e Invictus, com uma dose de fantasia um pouco mais desconcertante. Não sei até que ponto tudo ali é real, mas tudo parece romanceado demais para ser crível. Aristóteles em sua Poética já dizia que, em uma narrativa, é melhor você escolher coisas irreais, mas críveis, do que coisas reais, mas incríveis. É o conceito da tal verossimilhança que falta em Um Sonho Possível. Tudo é fácil demais para o jovem Michael. Não há um grande conflito e os que aparecem são frouxos e facilmente resolvidos.
O filme começa com Big Mike sendo aceito em uma escola porque o professor esportivo o vê jogando basquete. Ele é apático, perdeu no teste de Q.I, quase não presta atenção nas aulas, mas fica lá, no seu mundo. Interessante que o professor gosta dele por vê-lo jogando basquete, mas o coloca no time de futebol, que ele nunca tinha jogado na vida, só por seu tamanho. Uma noite de frio, ele passa andando pelo carro da família de Sandra Bullock e ela resolve levá-lo para casa. Em uma conversa surreal, ela deixa o garoto dormindo no sofá da sala e fala ao marido que não sabe se ele roubará nada, mas se no dia seguinte ela descer e gritar, ele ligue para seguradora... Admiro tanto despredimento material. A partir dessa noite, o garoto vai ficando e se tornando membro da família, melhorando nos estudos e aprendendo a jogar futebol. Em outra cena irreal, Sandra Bullock visita a mãe de Michael e discute com os traficantes locais. No mundo real, no mínimo ela levava um tapa, talvez um tiro, mas tudo bem.
Um sonho possível fala de esperança, de valores familiares e de superação, mas o problema é que ele não aprofunda nada disso. O roteiro vai passando superficialmente por tudo como se dissesse "não sei como foi possível, só sei que foi assim". Sandra Bullock está realmente muito bem como a perua loura de bom coração, mas nada excepcional. Após ver sua atuação começo a torcer pelo terceiro Oscar de Meryl Streep, apesar de ter dito que a interpretação da atriz em Julie e Júlia não merecia o prêmio. Na verdade, a interpretação chave do filme é do garoto Jae Head, que faz S.J., o irmão adotivo de Michael. Quinton Aaron é apenas honesto em seu Big Mike.
O fato é que a história do garoto negro, gordo e pobre (tal qual Preciosa) que encontra a superação pelo esporte de uma forma meio mágica, vencendo jogos improváveis (como em Invictus), pode ter conseguido sua indicação ao Oscar, mas não atinge a profundidade necessária para um bom drama. Ainda assim, é um filme a ser visto.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
The Blind Side
2010-02-10T13:51:00-03:00
Amanda Aouad
cinebiografia|critica|drama|John Lee Hancock|Oscar 2010|Sandra Bullock|
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