Depois da vida
Se você só pudesse guardar uma lembrança de sua vida, qual você escolheria? É interessante que o momento mais importante de nossas vidas raramente é algo grandioso ou complicado. São pequenos gestos, atos que trazem grandes emoções, como sentir a neve pela primeira vez, um carinho de sua mãe ou instantes com a pessoa amada em um parque. Valendo-se disso, o japonês Hirokazu Koreeda fez Depois da Vida, um filme que causou grande impacto entre público e crítica por retratar um local intermediário entre a vida e a morte, quando os recém falecidos têm uma semana para escolher o momento mais marcante de sua existência que será a única lembrança levada para o próximo estágio que não fica muito claro no filme qual seria.
O local é um prédio velho, uma espécie de escola abandonada, com várias salas. Os personagens são divididos em dois grupos, os instrutores e os recém falecidos. O primeiro momento do filme é quase documental. Os instrutores são designados para determinados casos e entrevistam os candidatos, explicando o que acontecerá. Eles têm três dias para relembrar a vida e escolher uma memória, nos outros dias, a equipe irá recriar o momento e no último dia, todos assistem e são liberados para a nova etapa apenas com essa lembrança na memória.
Os candidatos são de todos os tipos, desde uma criança que lembra logo da Disney a uma senhora bem idosa que só dá risada e observa a janela. Em vida, ela já havia tido uma doença onde perdera parte da memória. Há, também, um senhor que só quer lembrar de suas aventuras em um bordel. Mas os dois personagens que se destacam são Watanabe e Iseya. Iseya é um jovem rebelde que simplesmente se recusa a escolher uma lembrança. Ele afirma a todo tempo que não é que não possa, ele simplesmente não quer escolher. Sua atitude é um questionamento sobre o sentido de tudo aquilo, o significado da memória, o porquê escolher apenas uma lembrança. A recusa é um apego sincero que todo ser humano possui a tudo que passou. E por ser tão jovem ainda está na fase de questionar o que poderia ter vivido. Ele chega a perguntar se poderia escolher um sonho.
Já Watanabe é um senhor, perto dos oitenta anos, que não consegue lembrar algo tão importante em sua existência que justifique a escolha. Ele solicita uma revisão da vida e passa os dias assistindo as fitas, uma fita para cada ano que viveu. Nesse ponto, sua história se cruza com a do assistente Mochizuki, que apesar da aparência jovem, já morreu há 50 anos e seria contemporâneo de Watanabe. Há algo na lembrança do recém falecido que toca profundamente o instrutor e, a princípio, a gente apenas supõe o que seja. Seu incômodo chama a atenção de Shiori, sua auxiliar, que tenta ajudá-lo.
Surpreendentemente simples, a direção nos leva em uma viagem interior de questionamentos sobre o que realmente é importante, tornando Depois da Vida um filme marcante. A reconstrução da memória, no entanto, é bastante esquisita. Em um estúdio precário, de uma maneira bem mambembe, as lembranças são recriadas com os candidatos interpretando a si mesmos. Acredito que a sensação de reviver aquilo é o mais importante, já que as fitas reais existem e eles poderiam simplesmente assistir. O ato de recriar, relembrando os detalhes é que importa. Uma espécie de última catarse antes do fim. Ou do começo, sabe-se lá o que Hirokazu Koreeda imaginava que viria depois dali.
O local é um prédio velho, uma espécie de escola abandonada, com várias salas. Os personagens são divididos em dois grupos, os instrutores e os recém falecidos. O primeiro momento do filme é quase documental. Os instrutores são designados para determinados casos e entrevistam os candidatos, explicando o que acontecerá. Eles têm três dias para relembrar a vida e escolher uma memória, nos outros dias, a equipe irá recriar o momento e no último dia, todos assistem e são liberados para a nova etapa apenas com essa lembrança na memória.
Os candidatos são de todos os tipos, desde uma criança que lembra logo da Disney a uma senhora bem idosa que só dá risada e observa a janela. Em vida, ela já havia tido uma doença onde perdera parte da memória. Há, também, um senhor que só quer lembrar de suas aventuras em um bordel. Mas os dois personagens que se destacam são Watanabe e Iseya. Iseya é um jovem rebelde que simplesmente se recusa a escolher uma lembrança. Ele afirma a todo tempo que não é que não possa, ele simplesmente não quer escolher. Sua atitude é um questionamento sobre o sentido de tudo aquilo, o significado da memória, o porquê escolher apenas uma lembrança. A recusa é um apego sincero que todo ser humano possui a tudo que passou. E por ser tão jovem ainda está na fase de questionar o que poderia ter vivido. Ele chega a perguntar se poderia escolher um sonho.
Já Watanabe é um senhor, perto dos oitenta anos, que não consegue lembrar algo tão importante em sua existência que justifique a escolha. Ele solicita uma revisão da vida e passa os dias assistindo as fitas, uma fita para cada ano que viveu. Nesse ponto, sua história se cruza com a do assistente Mochizuki, que apesar da aparência jovem, já morreu há 50 anos e seria contemporâneo de Watanabe. Há algo na lembrança do recém falecido que toca profundamente o instrutor e, a princípio, a gente apenas supõe o que seja. Seu incômodo chama a atenção de Shiori, sua auxiliar, que tenta ajudá-lo.
Surpreendentemente simples, a direção nos leva em uma viagem interior de questionamentos sobre o que realmente é importante, tornando Depois da Vida um filme marcante. A reconstrução da memória, no entanto, é bastante esquisita. Em um estúdio precário, de uma maneira bem mambembe, as lembranças são recriadas com os candidatos interpretando a si mesmos. Acredito que a sensação de reviver aquilo é o mais importante, já que as fitas reais existem e eles poderiam simplesmente assistir. O ato de recriar, relembrando os detalhes é que importa. Uma espécie de última catarse antes do fim. Ou do começo, sabe-se lá o que Hirokazu Koreeda imaginava que viria depois dali.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Depois da vida
2010-02-20T12:22:00-03:00
Amanda Aouad
cinema asiático|critica|drama|
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