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Nine - Vamos repensar o cinema?
Nine - Vamos repensar o cinema?
Começando sua carreira como roteirista do neo-realismo italiano, Federico Fellini nunca foi muito adepto das regras do movimento, apesar de muitos estudiosos o classificarem como tal. Após seu oitavo filme, o cineasta estava em crise, achava que não tinha mais nada a dizer. Resolveu colocar sua angústia na tela e intitulou o filme como Oito e Meio. Fellini dizia que era um grande mentiroso, pois seus filmes eram a partir de lembranças. Talvez por isso, achou que este não poderia ser considerado um filme inteiro. Mas acabou sendo uma obra-prima de sua cinegrafia, junto a Amarcord.
Em sua homenagem, Arthur Kopit estreou na Broadway o musical Nine, baseado em Oito e Meio, com Raul Julia no papel principal. Traz a mesma história do filme italiano: Guido um cineasta em crise criativa que apela para as lembranças das mulheres que passaram em sua vida para tentar fazer a trama. A diferença é o ritmo, com músicas criadas para a nova história e o nome, Nine, afinal, ele não era apenas meio filme.
A adaptação para o cinema dessa história me lembra uma frase de Godard: "Tenho pena do cinema francês por não ter dinheiro e tenho pena do cinema norte-americano por não ter idéias". Claro que o fundador da nouvelle vague tinha muito preconceito em relação a Hollywood, mas a enxurrada de adaptações e refilmagens demonstram que o cinema está cada vez menos criativo. Ainda assim, por mais paradoxal que possa parecer, Nine é um bom filme. Pelo menos, é bem produzido, com grandes interpretações e faz jus aos questionamentos que Fellini propôs em 1963. Afinal, qual a função e o sentido do cinema?
Há em Oito e Meio, várias cutucações ao movimento neo-realista como a frase de Guido "...estou cheio desses filmes em que nada acontecem..." Ou o formato narrativo que flerta com o surrealismo, escandalizando os neo-realistas que viam em um filme a essência da vida. A ponto do termo "felliniano", virar uma gíria na Itália que significa pessoas bizarras e imagens circenses. Filme é sonho, gritava Fellini com sua obra. É interessante ver o Guido de Daniel Day Lewis dizer em Nine que acha ser o palhaço daquele circo. Uma referência não apenas a isso, como a cena final de Oito e Meio, feita em um picadeiro ao ar livre.
Em Oito e Meio, e em Nine por consequência, Fellini recorre a sua infância em Rimini e outros detalhes, mostra a lembrança dolorosa dos pais, a Igreja punitiva e opressiva, e a, ao mesmo tempo, prazerosa e incômoda presença da mulher. O musical mantêm toda essa essência, a mistura surrealista entre realidade e sonho, além da metalinguagem explícita.
Daniel Day Lewis está esplêndido no papel que foi de Mastroiani, dando a densidade exata para o cineasta em crise, e ainda cantando muito bem. As mulheres são um show a parte, destaco apenas Marion Cotillard que desde Piaf não nos brindava com uma interpretação tão intensa. Quanto às demais, deixo a dica de um post interessante que este já está ficando imenso.
Por ser bem produzido, ter uma história interessante, um roteiro bem feito e interpretações tão boas fica o questionamento de o porquê Nine ter sido tão excluído do Oscar. Apenas Penélope Cruz, que parece ter virado a nova queridinha da América, está na lista de indicados. Talvez seja um prenúncio da morte definitiva dos musicais. Tiveram sua época áurea nas décadas de 50/60, um revival na década de 80 e poucos contemporâneos de sucesso. Interessante é perceber que hoje não cabe mais ninguém sair cantando e dançando no meio de uma cena. Assim como Chicago, Nine só utiliza músicas na imaginação de um personagem. Será que não há mais espaço para musicais em Hollywood? Fica a questão para pensar...
Em sua homenagem, Arthur Kopit estreou na Broadway o musical Nine, baseado em Oito e Meio, com Raul Julia no papel principal. Traz a mesma história do filme italiano: Guido um cineasta em crise criativa que apela para as lembranças das mulheres que passaram em sua vida para tentar fazer a trama. A diferença é o ritmo, com músicas criadas para a nova história e o nome, Nine, afinal, ele não era apenas meio filme.
A adaptação para o cinema dessa história me lembra uma frase de Godard: "Tenho pena do cinema francês por não ter dinheiro e tenho pena do cinema norte-americano por não ter idéias". Claro que o fundador da nouvelle vague tinha muito preconceito em relação a Hollywood, mas a enxurrada de adaptações e refilmagens demonstram que o cinema está cada vez menos criativo. Ainda assim, por mais paradoxal que possa parecer, Nine é um bom filme. Pelo menos, é bem produzido, com grandes interpretações e faz jus aos questionamentos que Fellini propôs em 1963. Afinal, qual a função e o sentido do cinema?
Há em Oito e Meio, várias cutucações ao movimento neo-realista como a frase de Guido "...estou cheio desses filmes em que nada acontecem..." Ou o formato narrativo que flerta com o surrealismo, escandalizando os neo-realistas que viam em um filme a essência da vida. A ponto do termo "felliniano", virar uma gíria na Itália que significa pessoas bizarras e imagens circenses. Filme é sonho, gritava Fellini com sua obra. É interessante ver o Guido de Daniel Day Lewis dizer em Nine que acha ser o palhaço daquele circo. Uma referência não apenas a isso, como a cena final de Oito e Meio, feita em um picadeiro ao ar livre.
Em Oito e Meio, e em Nine por consequência, Fellini recorre a sua infância em Rimini e outros detalhes, mostra a lembrança dolorosa dos pais, a Igreja punitiva e opressiva, e a, ao mesmo tempo, prazerosa e incômoda presença da mulher. O musical mantêm toda essa essência, a mistura surrealista entre realidade e sonho, além da metalinguagem explícita.
Daniel Day Lewis está esplêndido no papel que foi de Mastroiani, dando a densidade exata para o cineasta em crise, e ainda cantando muito bem. As mulheres são um show a parte, destaco apenas Marion Cotillard que desde Piaf não nos brindava com uma interpretação tão intensa. Quanto às demais, deixo a dica de um post interessante que este já está ficando imenso.
Por ser bem produzido, ter uma história interessante, um roteiro bem feito e interpretações tão boas fica o questionamento de o porquê Nine ter sido tão excluído do Oscar. Apenas Penélope Cruz, que parece ter virado a nova queridinha da América, está na lista de indicados. Talvez seja um prenúncio da morte definitiva dos musicais. Tiveram sua época áurea nas décadas de 50/60, um revival na década de 80 e poucos contemporâneos de sucesso. Interessante é perceber que hoje não cabe mais ninguém sair cantando e dançando no meio de uma cena. Assim como Chicago, Nine só utiliza músicas na imaginação de um personagem. Será que não há mais espaço para musicais em Hollywood? Fica a questão para pensar...
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Nine - Vamos repensar o cinema?
2010-02-05T07:51:00-03:00
Amanda Aouad
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