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Laís Bodanzky
As Melhores Coisas do Mundo
As Melhores Coisas do Mundo
Houve uma vez dois verões de Jorge Furtado era a melhor referência de filme brasileiro jovem que eu tinha até essa semana. Antes que perguntem, Os Famosos e os Duendes da Morte, ainda não chegou a Salvador, então, não vi e nem posso falar sobre essa outra produção lançada esse mês. Mas, As melhores coisas do mundo conseguiu me surpreender e muito. O texto é sensível, a direção é cuidadosa, os atores estão bem e a construção é muito realista, tem a cara do jovem paulistano, brasileiro e, por que não, mundial. Fala dos medos, das dores, das dificuldades dessa fase tão paradoxal quanto a adolescência, sem menosprezar o sentimento dos meninos, nem ser caricata.
Os filmes de Laís Bodanzky tendem a ter essa característica realista, principalmente em parceria com o roteirista Luiz Bolognesi o mesmo de Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade. Contando a história de Mano, um adolescente de quinze anos que tem sua vida revirada com a separação dos pais, e principalmente, o motivo pelo qual o pai saiu de casa, o filme trata de preconceitos, medos, amor, amizade, ética e escolhas. É feliz também ao retratar um problema que vem crescendo no Sudeste brasileiro que é o bullying. Inspirado na série de livros “Mano descobre...” de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, o roteiro foi lido e criticado por grupos de adolescentes antes de começar a produção, o que comprova esse retrato fiel da juventude, do jeito que eles querem ser retratados.
Há alguns pequenos percalços no caminho, como o início que dá uma falsa impressão de caricato e superficial, além de um pequeno clichê: Mano é interessado na loira popular da escola e não vê aquela que está ali ao seu lado, pois ela é só mais uma da turma. Além disso, o filme não conta exatamente uma história, mas retrata um cotidiano, sem necessariamente passar por uma jornada. Mas, mesmo assim, ou até mesmo por isso, a trajetória é envolvente e emociona em pequenos gestos, em cenas simbólicas como mãe e filho jogando ovos na parede.
“Cinema é reflexão, cidadania e educação”, define Laís Bodanzky. Mas, como gosto de repetir, cinema é principalmente montagem, foi o que ele trouxe de novo ao compilar as demais artes. E ter um montador como Daniel Rezende na equipe é um plus para um bom filme. Em seu currículo, além do candidato ao Oscar Cidade de Deus, estão filmes como Narradores de Javé, Diários de Motocicleta, Tropa de Elite e Ensaio sobre a Cegueira.
O elenco também é bem interessante, formado principalmente por jovens desconhecidos que conseguem sustentar muito bem seus papéis de forma natural, tem alguns nomes de peso como Denise Fraga, no papel da mãe de Mano, uma professora universitária, assim como seu ex-marido vivido por Zé Carlos Machado. Caio Blat também defende bem seu professor Artur e mesmo Paulo Vilhena não compromete. O garoto Francisco Miguez, que vive o protagonista é uma bela surpresa. Mas, o destaque é mesmo Fiuk - Filipe Galvão - que vive Pedro, o irmão mais velho de Mano. Filho de Fábio Júnior, o garoto que é vocalista da banda Hori, começa sua carreira como ator nesse filme de forma cativante. Atualmente na novelinha Malhação, no filme ele mostra que tem capacidade para ir além. Seu romântico Pedro, com direito a blog depressivo e frases como "Se você quer perder sua virgindade humilhando uma mulher, problema seu" fazem dele, para mim, o personagem mais interessante do filme.
As melhores coisas do mundo pode não ser a melhor obra que já surgiu no cinema nacional, mas com certeza entra para o hall dos grandes filmes sobre adolescentes já feitos. E mostra que o cinema nacional está cada vez mais maduro, podendo dar passos mais altos. Torço sempre por essa realidade.
Os filmes de Laís Bodanzky tendem a ter essa característica realista, principalmente em parceria com o roteirista Luiz Bolognesi o mesmo de Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade. Contando a história de Mano, um adolescente de quinze anos que tem sua vida revirada com a separação dos pais, e principalmente, o motivo pelo qual o pai saiu de casa, o filme trata de preconceitos, medos, amor, amizade, ética e escolhas. É feliz também ao retratar um problema que vem crescendo no Sudeste brasileiro que é o bullying. Inspirado na série de livros “Mano descobre...” de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, o roteiro foi lido e criticado por grupos de adolescentes antes de começar a produção, o que comprova esse retrato fiel da juventude, do jeito que eles querem ser retratados.
Há alguns pequenos percalços no caminho, como o início que dá uma falsa impressão de caricato e superficial, além de um pequeno clichê: Mano é interessado na loira popular da escola e não vê aquela que está ali ao seu lado, pois ela é só mais uma da turma. Além disso, o filme não conta exatamente uma história, mas retrata um cotidiano, sem necessariamente passar por uma jornada. Mas, mesmo assim, ou até mesmo por isso, a trajetória é envolvente e emociona em pequenos gestos, em cenas simbólicas como mãe e filho jogando ovos na parede.
“Cinema é reflexão, cidadania e educação”, define Laís Bodanzky. Mas, como gosto de repetir, cinema é principalmente montagem, foi o que ele trouxe de novo ao compilar as demais artes. E ter um montador como Daniel Rezende na equipe é um plus para um bom filme. Em seu currículo, além do candidato ao Oscar Cidade de Deus, estão filmes como Narradores de Javé, Diários de Motocicleta, Tropa de Elite e Ensaio sobre a Cegueira.
O elenco também é bem interessante, formado principalmente por jovens desconhecidos que conseguem sustentar muito bem seus papéis de forma natural, tem alguns nomes de peso como Denise Fraga, no papel da mãe de Mano, uma professora universitária, assim como seu ex-marido vivido por Zé Carlos Machado. Caio Blat também defende bem seu professor Artur e mesmo Paulo Vilhena não compromete. O garoto Francisco Miguez, que vive o protagonista é uma bela surpresa. Mas, o destaque é mesmo Fiuk - Filipe Galvão - que vive Pedro, o irmão mais velho de Mano. Filho de Fábio Júnior, o garoto que é vocalista da banda Hori, começa sua carreira como ator nesse filme de forma cativante. Atualmente na novelinha Malhação, no filme ele mostra que tem capacidade para ir além. Seu romântico Pedro, com direito a blog depressivo e frases como "Se você quer perder sua virgindade humilhando uma mulher, problema seu" fazem dele, para mim, o personagem mais interessante do filme.
As melhores coisas do mundo pode não ser a melhor obra que já surgiu no cinema nacional, mas com certeza entra para o hall dos grandes filmes sobre adolescentes já feitos. E mostra que o cinema nacional está cada vez mais maduro, podendo dar passos mais altos. Torço sempre por essa realidade.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Melhores Coisas do Mundo
2010-04-16T08:46:00-03:00
Amanda Aouad
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