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Grandes Cenas: Abril Despedaçado
Grandes Cenas: Abril Despedaçado
Talvez por não ter sido indicado ao Oscar, Abril Despedaçado não seja tão lembrado pelo grande público. Mas, é um dos melhores filmes brasileiros já feitos, uma obra-prima de Walter Salles de 2000. Baseado no livro do albanês Ismail Kadaré, traz para o sertão nordestino uma briga entre famílias bem peculiar. Por anos, os Breves e os Ferreira se matam em nome de vingança, terra e honra. O quase pacto consiste em esperar a camisa do último defunto amarelar no vento para vingá-lo matando o próximo descendente da família rival. Nessa situação está Tonho, vivido por Rodrigo Santoro, que após ver a camisa do irmão morto ficar amarela é obrigado a matar mais um descendente dos Ferreira e esperar a morte certa em consequência.
No meio dessa tradição funesta, Pacu, irmão mais novo de Tonho, começa a questioná-lo sobre a falta de lógica de tudo aquilo e a necessidade de libertação. Tonho, confuso, rígido e sem esperanças, não sabe como dar ouvidos aos apelos daquele menino, até que conhece Clara, uma mulher do circo vivida pela atriz Flavia Marco Antonio, livre, sem amarras que pode mostrar a Tonho outro significado para vida.
É esse o simbolismo que a cena escolhida carrega: a liberdade e a nova forma de ver o mundo. Em um passeio na vila, Clara vê uma corda e chama Tonho dizendo que vai lhe mostrar uma coisa. A moça sobe na corda e pede que Tonho a gire. Primeiro vemos a corda em uma pan vertical, dando a dimensão de sua altura. Depois em outra pan vertical, Clara vai subindo aos poucos, tendo Tonho logo abaixo, segurando-a. Ela no alto, ele plantado no chão. Ainda é uma transformação.
Clara pede que Tonho gire a corda. Nessa hora estamos em um plano médio de Tonho, olhando para cima tendo a sombra de Clara ao fundo. Ele gira meio tímido. A câmera mostra Clara pendurada pela corda, sendo balançada em uma velocidade cada vez maior. Volta para Tonho, sempre com a sombra de Clara no chão, e agora ele está sorrindo. Aquilo é divertido. Nesse jogo, a música sobe, ampliando o clima. O plano vai ficando mais fechado. Tanto dela rodando, quanto dele olhando de baixo, até que vemos apenas detalhes de Clara passando pela câmera.
Temos, então, um contra-plongé mostrando Tonho e Clara pela primeira vez em um mesmo quadro. Eles estão completamente em sintonia, apesar de em pontos opostos. Corta para um plongée também enquadrando os dois, só que agora a câmera também gira, em um convite ao espectador para entrar naquela dança libertadora. É o clímax.
A cena vai desacelerando aos poucos. Mostra novamente apenas Clara girando e Tonho sorrindo, com o céu escurecendo para demonstrar a passagem do tempo. Até que finalmente é noite, em um belo balé, Clara desce da corda, sendo amparada por Tonho. Os dois exaustos, mas leves. Não é à toa que Tonho diz que nunca esquecerá aquilo, nem Clara. Uma verdadeira pintura no mundo cinematográfico.
No meio dessa tradição funesta, Pacu, irmão mais novo de Tonho, começa a questioná-lo sobre a falta de lógica de tudo aquilo e a necessidade de libertação. Tonho, confuso, rígido e sem esperanças, não sabe como dar ouvidos aos apelos daquele menino, até que conhece Clara, uma mulher do circo vivida pela atriz Flavia Marco Antonio, livre, sem amarras que pode mostrar a Tonho outro significado para vida.
É esse o simbolismo que a cena escolhida carrega: a liberdade e a nova forma de ver o mundo. Em um passeio na vila, Clara vê uma corda e chama Tonho dizendo que vai lhe mostrar uma coisa. A moça sobe na corda e pede que Tonho a gire. Primeiro vemos a corda em uma pan vertical, dando a dimensão de sua altura. Depois em outra pan vertical, Clara vai subindo aos poucos, tendo Tonho logo abaixo, segurando-a. Ela no alto, ele plantado no chão. Ainda é uma transformação.
Clara pede que Tonho gire a corda. Nessa hora estamos em um plano médio de Tonho, olhando para cima tendo a sombra de Clara ao fundo. Ele gira meio tímido. A câmera mostra Clara pendurada pela corda, sendo balançada em uma velocidade cada vez maior. Volta para Tonho, sempre com a sombra de Clara no chão, e agora ele está sorrindo. Aquilo é divertido. Nesse jogo, a música sobe, ampliando o clima. O plano vai ficando mais fechado. Tanto dela rodando, quanto dele olhando de baixo, até que vemos apenas detalhes de Clara passando pela câmera.
Temos, então, um contra-plongé mostrando Tonho e Clara pela primeira vez em um mesmo quadro. Eles estão completamente em sintonia, apesar de em pontos opostos. Corta para um plongée também enquadrando os dois, só que agora a câmera também gira, em um convite ao espectador para entrar naquela dança libertadora. É o clímax.
A cena vai desacelerando aos poucos. Mostra novamente apenas Clara girando e Tonho sorrindo, com o céu escurecendo para demonstrar a passagem do tempo. Até que finalmente é noite, em um belo balé, Clara desce da corda, sendo amparada por Tonho. Os dois exaustos, mas leves. Não é à toa que Tonho diz que nunca esquecerá aquilo, nem Clara. Uma verdadeira pintura no mundo cinematográfico.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Abril Despedaçado
2010-04-05T08:15:00-03:00
Amanda Aouad
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