Giuseppe Tornatore consegue, em seu segundo filme, uma obra-prima. Com o roteiro escrito pelo próprio diretor com a colaboração de Vanna Paoli vemos um retrato do que era a Itália pós-guerra. Em uma cidadezinha do interior da Sicília, a população local tem um único divertimento: ir ao Cinema Paradiso aos fins-de-semana, ver as novas fitas vindas de todo o mundo. A grande expectativa era saber se finalmente veriam um beijo entre os atores, coisa que o padre local sempre censurava antes da projeção inicial. Alfredo, o projecionista, tem algo muito mais complicado com o que lidar do que as censuras bobas do padre. É a curiosidade e paixão por aquela cabine que tem o menino Salvatore di Vitto, que todos conhecem como Totó.
Esperto e determinado, Totó não cansa até conseguir que Alfredo o deixe ficar ali e aprender a arte de projetar filmes. A amizade que surge entre o velho homem e o menino é emocionante e rege todo o filme, reforçada após um acidente grave no velho Paradiso. Com a reforma, o cinema continua sendo a grande atração local e Totó continua projetando filmes, até sua adolescência, quando Alfredo insiste que ali não é o seu destino. No começo do filme já vemos Salvatore em Roma, como um diretor reconhecido, então, nada disso é spoiler. O gancho inicial do filme é o telefonema de sua mãe comunicando a morte de Alfredo.
Cinema, amizade, destino, vida. Cinema Paradiso constrói sua trajetória com belas cenas da Itália, uma caracterização bem feita do cinema na época, uma história gostosa de acompanhar e uma trilha sonora emocionante assinada por Morricone. Dos três atores que fazem Totó, o maior destaque é o pequeno Salvatore Cascio, um verdadeiro achado de Tornatore, que após este fez ainda seis filmes quando criança. Recentemente fez uns trabalhos para televisão. O jovem Totó é interpretado por Marco Leonardi e o adulto por Jacques Perrin. Philippe Noiret é outro destaque como Alfredo. Da química dos dois atores, nasce uma das histórias de amizade mais bonitas do cinema.
Cinema Paradiso é um marco cinematográfico, não apenas pelos prêmios que ganhou, mas por conseguir tocar os espectadores naquilo que eles têm de melhor na alma. A alegria da vida, simples, sem grandes complicações e na busca de nossos sonhos mais íntimos. Totó foi o predestinado, porque sempre perseguiu seus sonhos, seja o cinema, a namorada ou a carreira profissional. E teve como mentor um homem humilde, mas que sabia que o destino de alguém que ama tanto o cinema não poderia ser uma cabine esquecida em uma cidade sem futuro.
E pra quem já viu o filme, nunca é demais rever a cena final. Um resumo da amizade dos dois protagonistas. Mas, só se você já viu o filme, por favor... Senão, veja o filme inteiro primeiro. Garanto que não vai se arrepender.