Home
Caco Ciocler
cinema brasileiro
critica
drama
filme brasileiro
Flávio Bauraqui
Quase Dois Irmãos
Quase Dois Irmãos
Uma coisa fica na nossa cabeça após assistir ao filme de Lúcia Murat: a música de Naná Vasconcellos. A cadência triste e envolvente do samba-canção é a tônica de Quase Dois Irmãos. O longametragem traz o contraste de dois mundos que se unem na Ilha Grande na época da ditadura militar dando origem ao Comando Vermelho. Ao contrário de 400 contra 1, esse filme não foca na reconstituição da formação da facção, mas tenta mostrar as diferenças dos dois grupos através de dois personagens: Miguel, um jovem intelectual de classe média preso político na Ilha Grande, e hoje deputado federal, e Jorge, filho de um sambista que, de pequenos assaltos, se transformou num dos líderes do Comando Vermelho. Eles são os quase irmãos do título. O problema é que essa relação de quase torna-se um abismo e quase incongruente.
O roteiro também assinado por Lúcia Murat, agora com Paulo Lins, opta por construir a história de forma não-linear intercalando três momentos: quando os dois eram pequenos e seus pais amigos, no convívio da Ilha Grande e, no presente, quando Jorge está preso e o deputado Miguel tenta lhe apresentar um projeto para a comunidade que Jorge ainda controla pelo celular. A trajetória da curva dramática segue um sentido, mas a divisão temporal acaba fazendo a história perder força. Principalmente no presente. Não há drama ali, é tudo meio gratuito. A parte em que a personagem de Maria Flor passeia pela favela é cansativa e a tentativa de denúncia e consequência por ela ser a filha de Miguel se esvai. Assim como a conversa dos quase dois irmãos na cadeia. Aliás, essa relação é pouco explorada. Não há um sentimento de amigos, de quase dois irmãos, e serve apenas para facilitar o diálogo, os dois já se conhecem.
O passado é interessante, principalmente pela participação de Luiz Melodia, como o sambista, pai do personagem Jorge. Ali há um drama interessante, o homem de classe média, pai de Miguel, amigo do sambista do morro, que adora aquele mundo e acaba aproximando os filhos de ambos. Essa parte, no entanto, não explora muito os laços de amizade entre os dois meninos, tornando o encontro deles na Ilha Grande apenas o encontro de dois conhecidos que passam a conviver. Quando Jorge chega a cadeia não há ainda divisão entre presos políticos e presos comuns, todos seguem uma mesma regra, e ele pode conviver com os militantes de esquerda de forma efetiva.
Jorge e Miguel são interpretados por Flávio Bauraqui e Caco Ciocler, respectivamente, nos anos 70 e por Antônio Pompeo e Werner Shünemann, no presente. Há mais intensidade de interpretação nos atores dos anos 70, apesar de Pompeo e Shünemann não comprometerem a evolução dos personagens. Maria Flor também defende bem a garota de classe média que gosta de frequentar bailes funks e subir o morro para se envolver com um traficante. Destaque ainda para Marieta Severo como mãe de Miguel.
A estética do filme é simples e a direção correta, tendo maior força na boa trilha sonora, edição interessante e boas atuações. Mas, falta algo para ser um filme tão intenso como prometia ser. Não que seja ruim. Os momentos na Ilha Grande e os flashbacks são envolventes, a quebra acontece, principalmente, no retrato do presente, que acaba desconstruindo um pouco o envolvimento da história principal. Ganhou vários festivais, mas mesmo sendo um filme de 2005 é hoje pouco lembrado. Fica apenas o registro de um filme que poderia ser muito mais.
O roteiro também assinado por Lúcia Murat, agora com Paulo Lins, opta por construir a história de forma não-linear intercalando três momentos: quando os dois eram pequenos e seus pais amigos, no convívio da Ilha Grande e, no presente, quando Jorge está preso e o deputado Miguel tenta lhe apresentar um projeto para a comunidade que Jorge ainda controla pelo celular. A trajetória da curva dramática segue um sentido, mas a divisão temporal acaba fazendo a história perder força. Principalmente no presente. Não há drama ali, é tudo meio gratuito. A parte em que a personagem de Maria Flor passeia pela favela é cansativa e a tentativa de denúncia e consequência por ela ser a filha de Miguel se esvai. Assim como a conversa dos quase dois irmãos na cadeia. Aliás, essa relação é pouco explorada. Não há um sentimento de amigos, de quase dois irmãos, e serve apenas para facilitar o diálogo, os dois já se conhecem.
O passado é interessante, principalmente pela participação de Luiz Melodia, como o sambista, pai do personagem Jorge. Ali há um drama interessante, o homem de classe média, pai de Miguel, amigo do sambista do morro, que adora aquele mundo e acaba aproximando os filhos de ambos. Essa parte, no entanto, não explora muito os laços de amizade entre os dois meninos, tornando o encontro deles na Ilha Grande apenas o encontro de dois conhecidos que passam a conviver. Quando Jorge chega a cadeia não há ainda divisão entre presos políticos e presos comuns, todos seguem uma mesma regra, e ele pode conviver com os militantes de esquerda de forma efetiva.
Jorge e Miguel são interpretados por Flávio Bauraqui e Caco Ciocler, respectivamente, nos anos 70 e por Antônio Pompeo e Werner Shünemann, no presente. Há mais intensidade de interpretação nos atores dos anos 70, apesar de Pompeo e Shünemann não comprometerem a evolução dos personagens. Maria Flor também defende bem a garota de classe média que gosta de frequentar bailes funks e subir o morro para se envolver com um traficante. Destaque ainda para Marieta Severo como mãe de Miguel.
A estética do filme é simples e a direção correta, tendo maior força na boa trilha sonora, edição interessante e boas atuações. Mas, falta algo para ser um filme tão intenso como prometia ser. Não que seja ruim. Os momentos na Ilha Grande e os flashbacks são envolventes, a quebra acontece, principalmente, no retrato do presente, que acaba desconstruindo um pouco o envolvimento da história principal. Ganhou vários festivais, mas mesmo sendo um filme de 2005 é hoje pouco lembrado. Fica apenas o registro de um filme que poderia ser muito mais.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Quase Dois Irmãos
2010-11-29T08:28:00-03:00
Amanda Aouad
Caco Ciocler|cinema brasileiro|critica|drama|filme brasileiro|Flávio Bauraqui|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...