Demônio
A crítica tem sido cruel com M. Night Shyamalan. Desde sua estreia arrebatadora, exigem dele não menos que a perfeição. Uma das críticas mais comuns é dele querer ser autor demais, escrevendo, dirigindo e produzindo seus filmes. Ele, então, inovou completamente. Escreveu durante anos anotações em seu caderno pessoal sobre casos e histórias que gostaria de ver como filme, criando a série "The Night Chronicles", que será composta por três filmes, segundo a assessoria de imprensa. O primeiro deles, chegou semana passada ao Brasil com o nome de Demônio. A grande diferença é que Shyamalan criou apenas o argumento e produz o filme. Suas anotações de 14 páginas foram para as mãos de Brian Nelson, de 30 dias de Noite e Meninamá.com, para virar roteiro. A direção, por sua vez, ficou a cargo de John Erick Dowdle. Se a intenção era fazer um novo clássico do terror, falhou feio, mas o filme tem seus momentos.
A história é tola e o roteiro não consegue nos convencer de que possa ser verdadeira. Isso já é um problema. Embutir a idéia de que o demônio passeia entre nós e por vezes toma a forma humana para castigar pessoas más é meio inverossímil para plateias calejadas em pleno século XXI. Para completar, M. Night Shyamalan declarou que "A trama do filme é centrada em descobrir quem das cinco pessoas no elevador é o personagem que dá título ao filme, então era preciso haver cinco pessoas que pudessem ser o protagonista – ou serem mortas a qualquer momento." Desculpa, mas na primeira análise dos cinco protagonistas ficou claro para mim, e para muitos que conhecem o estilo de filme, quem era o dito cujo. Nem a pegadinha no meio da trama tirou a certeza da escolha.
A sinopse é simples, cinco pessoas estranhas ficam presas em um elevador entre o andar 21 e 22 de um prédio comercial. Se não bastasse o título do filme, o narrador totalmente dispensável, nos explica que o demônio passeia por nós, podendo tomar a forma humana e que um suicídio é a porta de entrada para ele. Uma pessoa se suicida no tal prédio pouco antes do ocorrido. E esse suicídio só serve para isso mesmo, sendo completamente esquecido depois. Então, temos os cinco personagens presos e um funcionário latino da segurança observando a situação pela câmera do elevador e compreendendo tudo para explicar aos demais personagens. Ele faz a ligação do suicídio, do elevador preso, dos acontecimentos estranhos que começam a acontecer e, para não deixar dúvidas, ainda consegue congelar uma imagem do demo que piscou na câmera. A única cena impactante desse rapaz é quando ele reza em espanhol. Porque a explicação da geléia é demais para inteligência de qualquer um.
Após destruir o roteiro e alguns detalhes forçados, vamos ao que pode ser positivo no filme. Ele tem um suspense inteligente, principalmente nos primeiros minutos do elevador. A gente sente a claustrofobia dos personagens. O problema é que o roteiro não se sustenta apenas dentro da cabine, nos deixando respirar com as ações do lado de fora. Acompanhamos o Detetive Bowden, vivido por Chris Messina, que acaba de se recuperar da perda de sua família e é designado para acompanhar o caso. Claro que o passado de Messina vai ter importância na história do elevador. Temos os dois seguranças observando pelo painel de controle, um deles o latino. O mecânico que tenta resolver o problema do elevador, que a narração faz questão de antecipar os passos explicando didaticamente que quando o dito cujo escolhe suas vítimas não tem salvação e que pessoas inocentes acabam morrendo tentando ajudar. E a movimentação no hall do prédio.
Dentro do elevador, os cinco protagonistas brilham ao passar a tensão daquele momento. Geoffrey Arend como o vendedor chato, Bojana Novakovic como a jovem mulher, Jenny O´Hara como a senhora, Bokeem Woodbine como o segurança do prédio, Jacob Vargas como o rapaz calado. Os estereótipos são claros de filmes de terror. Sabemos nas primeiras cenas quem vai ser o primeiro a morrer, quem vai sofrer mais, quem tem chances de redenção, quem é o assassino. Então, a boa interpretação dos atores de acordo com os estereótipos dos personagens acaba nos dando a dica do que deveria ser surpresa. Parece que estamos brincando de Bang, só falta os participantes piscarem dando pistas.
Destaque para a forma como o filme começa, com as imagens de cabeça para baixo, dando uma intenção de inversão das coisas, com o céu em baixo e o inferno em cima. É apenas um ponto de vista. De qualquer forma, as escolhas de câmera, a forma como a luz apaga e acende com um novo cadáver, o ritmo contrastante em alguns momentos das pessoas correndo do lado de fora e eles espremidos no lado de dentro, a forma como o vão do elevador é construído para não ter saída, já que pararam entre dois andares que aquele elevador não atende. Tudo faz com que sejamos um pouco levados pelas estratégias de suspense, basta esquecer o tom didático do roteiro e dar uma chance ao filme. Torna-se um entretenimento curioso. Não mais do que isso.
A história é tola e o roteiro não consegue nos convencer de que possa ser verdadeira. Isso já é um problema. Embutir a idéia de que o demônio passeia entre nós e por vezes toma a forma humana para castigar pessoas más é meio inverossímil para plateias calejadas em pleno século XXI. Para completar, M. Night Shyamalan declarou que "A trama do filme é centrada em descobrir quem das cinco pessoas no elevador é o personagem que dá título ao filme, então era preciso haver cinco pessoas que pudessem ser o protagonista – ou serem mortas a qualquer momento." Desculpa, mas na primeira análise dos cinco protagonistas ficou claro para mim, e para muitos que conhecem o estilo de filme, quem era o dito cujo. Nem a pegadinha no meio da trama tirou a certeza da escolha.
A sinopse é simples, cinco pessoas estranhas ficam presas em um elevador entre o andar 21 e 22 de um prédio comercial. Se não bastasse o título do filme, o narrador totalmente dispensável, nos explica que o demônio passeia por nós, podendo tomar a forma humana e que um suicídio é a porta de entrada para ele. Uma pessoa se suicida no tal prédio pouco antes do ocorrido. E esse suicídio só serve para isso mesmo, sendo completamente esquecido depois. Então, temos os cinco personagens presos e um funcionário latino da segurança observando a situação pela câmera do elevador e compreendendo tudo para explicar aos demais personagens. Ele faz a ligação do suicídio, do elevador preso, dos acontecimentos estranhos que começam a acontecer e, para não deixar dúvidas, ainda consegue congelar uma imagem do demo que piscou na câmera. A única cena impactante desse rapaz é quando ele reza em espanhol. Porque a explicação da geléia é demais para inteligência de qualquer um.
Após destruir o roteiro e alguns detalhes forçados, vamos ao que pode ser positivo no filme. Ele tem um suspense inteligente, principalmente nos primeiros minutos do elevador. A gente sente a claustrofobia dos personagens. O problema é que o roteiro não se sustenta apenas dentro da cabine, nos deixando respirar com as ações do lado de fora. Acompanhamos o Detetive Bowden, vivido por Chris Messina, que acaba de se recuperar da perda de sua família e é designado para acompanhar o caso. Claro que o passado de Messina vai ter importância na história do elevador. Temos os dois seguranças observando pelo painel de controle, um deles o latino. O mecânico que tenta resolver o problema do elevador, que a narração faz questão de antecipar os passos explicando didaticamente que quando o dito cujo escolhe suas vítimas não tem salvação e que pessoas inocentes acabam morrendo tentando ajudar. E a movimentação no hall do prédio.
Dentro do elevador, os cinco protagonistas brilham ao passar a tensão daquele momento. Geoffrey Arend como o vendedor chato, Bojana Novakovic como a jovem mulher, Jenny O´Hara como a senhora, Bokeem Woodbine como o segurança do prédio, Jacob Vargas como o rapaz calado. Os estereótipos são claros de filmes de terror. Sabemos nas primeiras cenas quem vai ser o primeiro a morrer, quem vai sofrer mais, quem tem chances de redenção, quem é o assassino. Então, a boa interpretação dos atores de acordo com os estereótipos dos personagens acaba nos dando a dica do que deveria ser surpresa. Parece que estamos brincando de Bang, só falta os participantes piscarem dando pistas.
Destaque para a forma como o filme começa, com as imagens de cabeça para baixo, dando uma intenção de inversão das coisas, com o céu em baixo e o inferno em cima. É apenas um ponto de vista. De qualquer forma, as escolhas de câmera, a forma como a luz apaga e acende com um novo cadáver, o ritmo contrastante em alguns momentos das pessoas correndo do lado de fora e eles espremidos no lado de dentro, a forma como o vão do elevador é construído para não ter saída, já que pararam entre dois andares que aquele elevador não atende. Tudo faz com que sejamos um pouco levados pelas estratégias de suspense, basta esquecer o tom didático do roteiro e dar uma chance ao filme. Torna-se um entretenimento curioso. Não mais do que isso.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Demônio
2010-12-02T08:53:00-03:00
Amanda Aouad
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