Grandes Cenas: Feliz Natal
A aproximação do Natal me fez procurar cenas que simbolizassem o espírito dessa data. Acredito que nada traduz melhor o sentimento de amor pela humanidade que o Cristo veio nos ensinar do que essa cena do filme Feliz Natal (Joyeux Noel) de 2005. Baseado em uma história real, o longametragem conta a história de três tropas inimigas durante a Primeira Guerra Mundial que esqueceram as desavenças para celebrar a noite de Natal.
O filme já é uma confraternização, já que trata-se de uma co-produção entre França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Romênia. Atores de cada país falam suas próprias línguas, sem privilegiar uma ou outra. Apenas para se comunicar, eles usam por vezes o francês ou o inglês, já que alemão é uma língua mais difícil de outros povos falarem. Todo o filme é bem realizado com diversos momentos emocionantes. Mas, nada supera a véspera de Natal de 1914 quando as três tropas encontram-se no campo de batalha, formando um triângulo de trincheira. Em um vértice, encontra-se o exército alemão, em outro, o escocês, e, no terceiro, o francês.
Como sempre, a música une as nações. O lado escocês começa a tocar um instrumento típico local: a gaita escocesa. Logo, todos os soldados estão cantando em coro a música. Como estão todos muito perto, a música começa a ecoar nas demais trincheiras. A câmera intercala principalmente entre os escoceses e os alemães. Em close, os alemães ouvem emocionados os escoceses cantarem. O som é condizente com o ambiente, sendo ouvido de longe pelo lado alemão e bastante nítido quando foca o lado escocês.
O gancho para trincheira alemã é justificado pelo próximo passo. Entre os soldados germânicos, existe um tenor famoso em Berlim. Ele havia sido convocado para tocar na festa de Natal dos comandantes do exército, porém foge junto à sua noiva, uma soprano local para tocar na trincheira para seus companheiros. Sua chegada faz com que os alemães coloquem árvores de Natal ao redor da trincheira e isso chama a atenção dos franceses que estavam ainda em estratégia de guerra. Um soldado, que estava se arrastando para descobrir quais as localizações da artilharia do inimigo, se esconde. E o companheiro que estava dando cobertura da trincheira francesa chama o seu comandante para ver a cena estranha.
Quando o tenor alemão começa a cantar "Noite Feliz", parece que uma mágica paira em todo o local. A cena muda, é a vez dos escoceses ouvirem maravilhados. Porém, após a primeira parte, o escocês pega sua gaita e acompanha o tenor. Ele, então, sobe na trincheira para ser melhor ouvido por todos. O soldado francês mira nele, mas seu comandante o impede. Todos já estavam envolvidos pelo espírito natalino. O escocês puxa mais uma música, agora eles já estão também no topo da trincheira. O tenor pega uma árvore de Natal e vai cantando até o centro do campo de batalha. É uma das cenas mais belas do filme, aquele homem com uma árvore de Natal nas mãos, cantando a plenos pulmões, sendo observado por soldados de três países que deveriam estar em guerra.
A câmera faz uma panorâmica no lado escocês e vira em direção ao tenor que começa a se aproximar do horizonte. Todos os soldados escoceses se levantam e observam. A câmera agora em plano médio acompanha o tenor. Intercala com o lado francês que observa maravilhado. O soldado que antes queria atirar, agora canta emocionado. Uma subjetiva da trincheira capta o tenor andando emoldurado pela cerca. Em um plano mais fechado, ele termina de cantar. Depois em um plano aberto, mostra ele levantando a árvore quase como um troféu e colocando-a no chão. É a deixa para que comandantes alemão e escocês se aproximem, seguidos, um tempo depois, pelo francês. Os três chegam a conclusão de que uma noite de confraternização não irá decidir a guerra. E resolvem comemorar o Natal bebendo, conversando e até assistindo a uma missa. Já que um dos escoceses é um padre. É na missa que temos a soprano cantando a Ave Maria em outra cena emocionante. Mas, aí, já é outra história.
Se o mundo pudesse se olhar como os soldados naquela noite mágica, teríamos mais paz e menos guerra. Acho que foi isso que Jesus Cristo veio nos mostrar e que, pelo menos, uma vez por ano nós paramos para pensar. Um feliz Natal a todos.
O filme já é uma confraternização, já que trata-se de uma co-produção entre França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Romênia. Atores de cada país falam suas próprias línguas, sem privilegiar uma ou outra. Apenas para se comunicar, eles usam por vezes o francês ou o inglês, já que alemão é uma língua mais difícil de outros povos falarem. Todo o filme é bem realizado com diversos momentos emocionantes. Mas, nada supera a véspera de Natal de 1914 quando as três tropas encontram-se no campo de batalha, formando um triângulo de trincheira. Em um vértice, encontra-se o exército alemão, em outro, o escocês, e, no terceiro, o francês.
Como sempre, a música une as nações. O lado escocês começa a tocar um instrumento típico local: a gaita escocesa. Logo, todos os soldados estão cantando em coro a música. Como estão todos muito perto, a música começa a ecoar nas demais trincheiras. A câmera intercala principalmente entre os escoceses e os alemães. Em close, os alemães ouvem emocionados os escoceses cantarem. O som é condizente com o ambiente, sendo ouvido de longe pelo lado alemão e bastante nítido quando foca o lado escocês.
O gancho para trincheira alemã é justificado pelo próximo passo. Entre os soldados germânicos, existe um tenor famoso em Berlim. Ele havia sido convocado para tocar na festa de Natal dos comandantes do exército, porém foge junto à sua noiva, uma soprano local para tocar na trincheira para seus companheiros. Sua chegada faz com que os alemães coloquem árvores de Natal ao redor da trincheira e isso chama a atenção dos franceses que estavam ainda em estratégia de guerra. Um soldado, que estava se arrastando para descobrir quais as localizações da artilharia do inimigo, se esconde. E o companheiro que estava dando cobertura da trincheira francesa chama o seu comandante para ver a cena estranha.
Quando o tenor alemão começa a cantar "Noite Feliz", parece que uma mágica paira em todo o local. A cena muda, é a vez dos escoceses ouvirem maravilhados. Porém, após a primeira parte, o escocês pega sua gaita e acompanha o tenor. Ele, então, sobe na trincheira para ser melhor ouvido por todos. O soldado francês mira nele, mas seu comandante o impede. Todos já estavam envolvidos pelo espírito natalino. O escocês puxa mais uma música, agora eles já estão também no topo da trincheira. O tenor pega uma árvore de Natal e vai cantando até o centro do campo de batalha. É uma das cenas mais belas do filme, aquele homem com uma árvore de Natal nas mãos, cantando a plenos pulmões, sendo observado por soldados de três países que deveriam estar em guerra.
A câmera faz uma panorâmica no lado escocês e vira em direção ao tenor que começa a se aproximar do horizonte. Todos os soldados escoceses se levantam e observam. A câmera agora em plano médio acompanha o tenor. Intercala com o lado francês que observa maravilhado. O soldado que antes queria atirar, agora canta emocionado. Uma subjetiva da trincheira capta o tenor andando emoldurado pela cerca. Em um plano mais fechado, ele termina de cantar. Depois em um plano aberto, mostra ele levantando a árvore quase como um troféu e colocando-a no chão. É a deixa para que comandantes alemão e escocês se aproximem, seguidos, um tempo depois, pelo francês. Os três chegam a conclusão de que uma noite de confraternização não irá decidir a guerra. E resolvem comemorar o Natal bebendo, conversando e até assistindo a uma missa. Já que um dos escoceses é um padre. É na missa que temos a soprano cantando a Ave Maria em outra cena emocionante. Mas, aí, já é outra história.
Se o mundo pudesse se olhar como os soldados naquela noite mágica, teríamos mais paz e menos guerra. Acho que foi isso que Jesus Cristo veio nos mostrar e que, pelo menos, uma vez por ano nós paramos para pensar. Um feliz Natal a todos.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Feliz Natal
2010-12-23T11:50:00-03:00
Amanda Aouad
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