127 horas
Danny Boyle dominou o Oscar de 2009 com sua saga indiana feita de uma forma sui generis. Quem quer ser milionário é um bom filme, sem dúvidas, mas não chega a mostrar a segurança da direção que mostra em 127 horas. É irônico, então, que Boyle seja apenas um coadjuvante na edição deste ano do prêmio maior da academia. Nem sequer foi indicado a melhor diretor, sendo seu filme apenas mais um que compõe os 10 finalistas. Baseado na história real de Aron Ralston, o longametragem é uma viagem interna de um ser em ebulição. Mostra como o ser humano em situação extrema arranca coragem, Deus sabe de onde, e pára para repensar suas condutas. É angustiante, mas é belo. Principalmente com o jogo de câmeras e encadeamento de pensamentos que Danny Boyle, que também assina o roteiro junto a Simon Beaufoy, consegue nos apresentar.
A história é conhecida por alguns, ignorada por outros e alardeada por muitos nos últimos tempos devido a uma cena específica que está causando mal estar em platéias. Se você não conhece, melhor ir ao cinema sem saber e deixar-se levar pela narrativa. Conhecendo a trama, ficamos na expectativa de quando acontecerá isso ou aquilo. Acaba sendo outra emoção. O fato é apenas que Aron Ralston é um montanhista que gosta de explorar lugares inóspitos. Um dia, ele resolve ir ao cânion Blue John em Utah, sozinho com sua mochila e suprimentos para um dia, câmera de fotografia e de vídeo. Um acidente o deixa preso a uma rocha, dentro da fenda. O filme é sobre as 127 horas que passou lá, sem possibilidades de se soltar, repensando sua vida.
James Franco encarna Aron Ralston com uma vivacidade incrível. Seu tom irônico, brincando consigo mesmo, a dor de estar preso, o desespero em alguns momentos, a tristeza, angústia, coragem, reconstrução de si mesmo. É uma aula de construção de personagem em nossa frente. Conhecemos Ralston pelos detalhes, desde a primeira cena. A câmera de Boyle nos prepara com closes nas mãos do montanhista, no canivete que esqueceu em casa, no carro que ficou na estrada com Gatorade, na bicicleta que voa pela estrada de barro, pelas pequenas frases, atitudes do personagem. A mistura de lembranças, alucinações, vontades e pensamentos dentro daquela pequena fenda é muito bem feita.
A trilha sonora também ajuda. O compositor A.R. Rahman nos leva em viagens auditivas, com sua ecleticidade peculiar que já lhe deu dois Oscars. A fotografia é muito bem realizada, assim como a montagem, principalmente no jogo de pensamentos e realidade do personagem. Na verdade, o filme inteiro joga muito com o realismo extremo de alguns momentos e as fantasias possíveis do pensamento. A tal cena, que prefiro não contar, é forte, mas não acho que chegue a provocar desmaios como alguns médicos estão alertando por aí. Se você é daqueles que não pode ver sangue, dá umas piscadinhas que está tudo certo.
127 horas não é o melhor filme dos últimos tempos, mas é bastante feliz em sua realização. Empolga e nos envolve em seu drama, nos levando a refletir junto com ele. Uma verdadeira catarse emocional de uma situação limite. E com uma interpretação digna da indicação ao Oscar que James Franco recebeu. Saí zonza do cinema.
127 horas: (127 Hours / 2010: Reino Unido, EUA)
Direção:Danny Boyle
Roteiro: Danny Boyle e Simon Beaufoy
Com:James Franco, Lizzy Caplan, Treat Williams, Kate Burton.
Duração: 93 min.
A história é conhecida por alguns, ignorada por outros e alardeada por muitos nos últimos tempos devido a uma cena específica que está causando mal estar em platéias. Se você não conhece, melhor ir ao cinema sem saber e deixar-se levar pela narrativa. Conhecendo a trama, ficamos na expectativa de quando acontecerá isso ou aquilo. Acaba sendo outra emoção. O fato é apenas que Aron Ralston é um montanhista que gosta de explorar lugares inóspitos. Um dia, ele resolve ir ao cânion Blue John em Utah, sozinho com sua mochila e suprimentos para um dia, câmera de fotografia e de vídeo. Um acidente o deixa preso a uma rocha, dentro da fenda. O filme é sobre as 127 horas que passou lá, sem possibilidades de se soltar, repensando sua vida.
James Franco encarna Aron Ralston com uma vivacidade incrível. Seu tom irônico, brincando consigo mesmo, a dor de estar preso, o desespero em alguns momentos, a tristeza, angústia, coragem, reconstrução de si mesmo. É uma aula de construção de personagem em nossa frente. Conhecemos Ralston pelos detalhes, desde a primeira cena. A câmera de Boyle nos prepara com closes nas mãos do montanhista, no canivete que esqueceu em casa, no carro que ficou na estrada com Gatorade, na bicicleta que voa pela estrada de barro, pelas pequenas frases, atitudes do personagem. A mistura de lembranças, alucinações, vontades e pensamentos dentro daquela pequena fenda é muito bem feita.
A trilha sonora também ajuda. O compositor A.R. Rahman nos leva em viagens auditivas, com sua ecleticidade peculiar que já lhe deu dois Oscars. A fotografia é muito bem realizada, assim como a montagem, principalmente no jogo de pensamentos e realidade do personagem. Na verdade, o filme inteiro joga muito com o realismo extremo de alguns momentos e as fantasias possíveis do pensamento. A tal cena, que prefiro não contar, é forte, mas não acho que chegue a provocar desmaios como alguns médicos estão alertando por aí. Se você é daqueles que não pode ver sangue, dá umas piscadinhas que está tudo certo.
127 horas não é o melhor filme dos últimos tempos, mas é bastante feliz em sua realização. Empolga e nos envolve em seu drama, nos levando a refletir junto com ele. Uma verdadeira catarse emocional de uma situação limite. E com uma interpretação digna da indicação ao Oscar que James Franco recebeu. Saí zonza do cinema.
127 horas: (127 Hours / 2010: Reino Unido, EUA)
Direção:Danny Boyle
Roteiro: Danny Boyle e Simon Beaufoy
Com:James Franco, Lizzy Caplan, Treat Williams, Kate Burton.
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
127 horas
2011-02-17T08:22:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|James Franco|livro|oscar 2011|
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