Inverno da Alma
Uma garota de 17 anos pode assumir o papel de chefe de família? E quando essa função a faz entrar em um mundo em que poucos homens conseguem enfrentar? Inverno da Alma tem uma das premissas mais complexas que já vi nos últimos tempos. É um filme belo, sensível, emocionante, mas que acaba se perdendo em algum momento. Por mais que nos envolvamos com o drama da personagem de Jennifer Lawrence, há um momento em que cansa. Cansa ver tanta miséria, tanta ética distorcida, tantos valores deturpados. Não que o mundo seja cor de rosa, mas ficamos nos perguntando em que mundo aquela pequena cidade americana se esconde em que crianças tenham que superar os adultos na busca pela sobrevivência.
Ree Dolly é uma garota forte e decidida que cuida de seus dois irmãos menores, um de doze, outra de seis e uma mãe doente. O pai, fabricante de drogas, é foragido da polícia. Saiu da cadeia, dando como garantia de fiança a fazenda onde a família mora. Acontece que ele sumiu. E agora, além de lidar com três vidas que dependem de si, Ree Dolly tem que encontrar o progenitor antes que deixem sua família ao relento.
É o tipo do filme que nos incomoda por ver o mundo doente em que vivemos, onde pessoas se trancam em suas próprias vidas e regras, sem se preocupar com o que acontece ao lado. Está bem que a vizinha até ajuda um pouco a falida família, mas o tio, o primo, e o grupo que Ree Dolly tem que procurar em busca do paradeiro do pai demonstra o quanto as pessoas estão embrutecidas. A determinação de Ree Dolly é a única chave para quebrar essa crosta que se tornou o mundo.
Debra Granik que também assina o roteiro junto a Anne Rosellini, é muito feliz ao construir essa história sem estereótipos nem clichês. Aquele mundo, por mais cruel e insensato que seja, é realista. Talvez por isso, tão incômodo. Não há saída para aquelas pessoas. Nem mesmo para a doce Ree Dolly, que parece se adaptar ao meio hostil em que foi criada. O filme se arrasta, é anti-climático e talvez por isso, agrade a poucos. Não há ousadia na câmera de Granik; sua maior ousadia foi ir a fundo naquela sociedade destruída.
As atuações acompanham a estética do filme. John Hawkes torna seu assustador Teardrop algo o mais próximo do real possível, principalmente no meio do segundo ato em diante. Mas, não chega a ser tão impactante ao ponto de merecer a indicação ao Oscar, única indicação da temporada para sua atuação. Já Jennifer Lawrence merece o destaque recebido. Sua atuação nos convence do drama daquela menina que precisa carregar sua família nas costas para sobreviver. A cena em que ela vai se alistar no exército é um ícone de sua renúncia.
Inverno da Alma é um filme angustiante. Foi incômodo assistí-lo, mas ao mesmo tempo é perceptível sua qualidade. Não foi apenas para compor a lista que esteja figurando entre os dez mais do Oscar 2011. Apesar de ser, entre todos, o que menos me agrada.
Inverno da Alma: (Winter´s Bone / 2010: EUA)
Direção: Debra Granik
Roteiro: Debra Granik e Anne Rosellini
Com: Jennifer Lawrence, Isaiah Stone, Ashlee Thompson, Valerie Richards.
Duração: 100 min
Ree Dolly é uma garota forte e decidida que cuida de seus dois irmãos menores, um de doze, outra de seis e uma mãe doente. O pai, fabricante de drogas, é foragido da polícia. Saiu da cadeia, dando como garantia de fiança a fazenda onde a família mora. Acontece que ele sumiu. E agora, além de lidar com três vidas que dependem de si, Ree Dolly tem que encontrar o progenitor antes que deixem sua família ao relento.
É o tipo do filme que nos incomoda por ver o mundo doente em que vivemos, onde pessoas se trancam em suas próprias vidas e regras, sem se preocupar com o que acontece ao lado. Está bem que a vizinha até ajuda um pouco a falida família, mas o tio, o primo, e o grupo que Ree Dolly tem que procurar em busca do paradeiro do pai demonstra o quanto as pessoas estão embrutecidas. A determinação de Ree Dolly é a única chave para quebrar essa crosta que se tornou o mundo.
Debra Granik que também assina o roteiro junto a Anne Rosellini, é muito feliz ao construir essa história sem estereótipos nem clichês. Aquele mundo, por mais cruel e insensato que seja, é realista. Talvez por isso, tão incômodo. Não há saída para aquelas pessoas. Nem mesmo para a doce Ree Dolly, que parece se adaptar ao meio hostil em que foi criada. O filme se arrasta, é anti-climático e talvez por isso, agrade a poucos. Não há ousadia na câmera de Granik; sua maior ousadia foi ir a fundo naquela sociedade destruída.
As atuações acompanham a estética do filme. John Hawkes torna seu assustador Teardrop algo o mais próximo do real possível, principalmente no meio do segundo ato em diante. Mas, não chega a ser tão impactante ao ponto de merecer a indicação ao Oscar, única indicação da temporada para sua atuação. Já Jennifer Lawrence merece o destaque recebido. Sua atuação nos convence do drama daquela menina que precisa carregar sua família nas costas para sobreviver. A cena em que ela vai se alistar no exército é um ícone de sua renúncia.
Inverno da Alma é um filme angustiante. Foi incômodo assistí-lo, mas ao mesmo tempo é perceptível sua qualidade. Não foi apenas para compor a lista que esteja figurando entre os dez mais do Oscar 2011. Apesar de ser, entre todos, o que menos me agrada.
Inverno da Alma: (Winter´s Bone / 2010: EUA)
Direção: Debra Granik
Roteiro: Debra Granik e Anne Rosellini
Com: Jennifer Lawrence, Isaiah Stone, Ashlee Thompson, Valerie Richards.
Duração: 100 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Inverno da Alma
2011-02-19T10:01:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Jennifer Lawrence|oscar 2011|
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