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João Miguel
Pola Ribeiro
Jardim das Folhas Sagradas
Jardim das Folhas Sagradas
Talvez você não tenha ouvido falar desse filme baiano, a não ser que tenha ido ao Festival do Rio ou seja muito atento às novidades cinematográficas. Jardim das Folhas Sagradas é um filme de Pola Ribeiro, diretor baiano da geração Super-8, que fala sobre candomblé, ecologia e intolerância em diversos níveis. Tive o prazer de conferir em uma sessão fechada no último sábado e devo dizer que fiquei bastante impressionada com o resultado. A direção e o roteiro, também do diretor, são cuidadosos e a fotografia de Antonio Luiz Mendes é uma pintura compondo personagens e natureza de uma forma tão harmônica quanto prega o objeto do filme.
A história é centrada em Bonfim, aparentemente um pacato diretor de um banco sólido, casado com uma mulher evangélica e tendo uma vida confortável. O problema é que sua verdade está muito longe dessa aparente vida estável. Ele é bissexual, ecologista e herdeiro de uma tradição milenar. Todos ao seu redor lhe cobram que preencha seu espaço no candomblé comandando um terreiro tal qual sua mãe. Filho de Ossaim, orixá das plantas, ele não aceita, no entanto, a matança de animais que existe em sua religião e resolve encarar o desafio depois de alguns acontecimentos em sua vida, mas só se puder mudar algumas regras.
Esse poço de controvérsias que é o personagem Bonfim serve de ponto de partida para Pola discutir discriminação racial e sexual, além de contar um pouco da religião africana que aportou em nosso país, construindo parte de nossa cultura, discutindo pontos que sempre são citados como obscuros nessa tradição, principalmente no que está relacionado ao derramamento de sangue para as oferendas. Sem julgamentos, sem preconceitos, apenas expondo fatos, mesmo quando inclui em suas cenas pessoas da religião evangélica para discutir o candomblé. Há sim, uma certa tendência a depreciar os evangélicos, mostrando-os como intolerantes e fixados em rotular tudo que não segue sua crença como diabo. Mas, não está muito longe da verdade que vemos nas ruas, o que é uma pena.
O maior mérito do filme consiste nas escolhas da fotografia, Pola em parceria com Antonio Luiz Mendes conseguem contar essa história em imagens impressionantes. Há sempre um cuidado de enquadrar as cenas com uma moldura de folhas, representação do orixá de seu protagonista. A composição metafórica de alguns momentos como Bonfim chorando deitado em uma raiz de uma árvore cortada é belíssima, diz muito com poucos recursos. A produção de algumas cenas também merece destaque como o incêndio ou a criação do terreiro de candomblé. A trilha sonora também tem seu destaque, desde a música tema apresentada na abertura por Maria Bethânia e nos créditos pelo autor Gerônimo, a cada inserção de ruído e som. A única nota triste fica por conta de um reggae no momento em que um certo cigarro é aceso. O filme não precisava de algo tão clichê e forçado.
Jardim das Folhas Sagradas tem poesia, história, conscientização e um tema universal, por mais que esteja enraizado na Bahia. Fala de intolerância e luta por aquilo em que acreditamos, mesmo que mexa com tradições, grupos ou sobrenatual. O elenco é bastante diversificado, com atores veteranos, outros mais comuns de teatro e alguns rostos novos. Isso acaba trazendo um certo desequilíbrio nas atuações. Destaque para o sempre ótimo João Miguel, impressionante a naturalidade com que atua. Já o protagonista Antônio Godi, parece sentir um pouco a linguagem mais natural do cinema. Ainda assim, a história flui de uma forma harmônica. Pode não ser o melhor filme já visto, mas é de dar orgulho a seus realizadores. O clima é de celebração. A que tudo indica, o filme deve estrear para o público em agosto desse ano. Espero que chegue realmente a todos.
Ah, uma curiosidade para os soteropolitanos aflitos com a eterna espera do metrô. No filme há uma passagem de tempo e ele aparece lá, funcionando como em nossos sonhos, tendo inclusive uma fictícia estação no Bonocô, coisa que ficou esquecida no projeto que está tentando ser terminado nas ruas da cidade há mais de dez anos. Mas, aí é assunto para outros blogs.
A história é centrada em Bonfim, aparentemente um pacato diretor de um banco sólido, casado com uma mulher evangélica e tendo uma vida confortável. O problema é que sua verdade está muito longe dessa aparente vida estável. Ele é bissexual, ecologista e herdeiro de uma tradição milenar. Todos ao seu redor lhe cobram que preencha seu espaço no candomblé comandando um terreiro tal qual sua mãe. Filho de Ossaim, orixá das plantas, ele não aceita, no entanto, a matança de animais que existe em sua religião e resolve encarar o desafio depois de alguns acontecimentos em sua vida, mas só se puder mudar algumas regras.
Esse poço de controvérsias que é o personagem Bonfim serve de ponto de partida para Pola discutir discriminação racial e sexual, além de contar um pouco da religião africana que aportou em nosso país, construindo parte de nossa cultura, discutindo pontos que sempre são citados como obscuros nessa tradição, principalmente no que está relacionado ao derramamento de sangue para as oferendas. Sem julgamentos, sem preconceitos, apenas expondo fatos, mesmo quando inclui em suas cenas pessoas da religião evangélica para discutir o candomblé. Há sim, uma certa tendência a depreciar os evangélicos, mostrando-os como intolerantes e fixados em rotular tudo que não segue sua crença como diabo. Mas, não está muito longe da verdade que vemos nas ruas, o que é uma pena.
O maior mérito do filme consiste nas escolhas da fotografia, Pola em parceria com Antonio Luiz Mendes conseguem contar essa história em imagens impressionantes. Há sempre um cuidado de enquadrar as cenas com uma moldura de folhas, representação do orixá de seu protagonista. A composição metafórica de alguns momentos como Bonfim chorando deitado em uma raiz de uma árvore cortada é belíssima, diz muito com poucos recursos. A produção de algumas cenas também merece destaque como o incêndio ou a criação do terreiro de candomblé. A trilha sonora também tem seu destaque, desde a música tema apresentada na abertura por Maria Bethânia e nos créditos pelo autor Gerônimo, a cada inserção de ruído e som. A única nota triste fica por conta de um reggae no momento em que um certo cigarro é aceso. O filme não precisava de algo tão clichê e forçado.
Jardim das Folhas Sagradas tem poesia, história, conscientização e um tema universal, por mais que esteja enraizado na Bahia. Fala de intolerância e luta por aquilo em que acreditamos, mesmo que mexa com tradições, grupos ou sobrenatual. O elenco é bastante diversificado, com atores veteranos, outros mais comuns de teatro e alguns rostos novos. Isso acaba trazendo um certo desequilíbrio nas atuações. Destaque para o sempre ótimo João Miguel, impressionante a naturalidade com que atua. Já o protagonista Antônio Godi, parece sentir um pouco a linguagem mais natural do cinema. Ainda assim, a história flui de uma forma harmônica. Pode não ser o melhor filme já visto, mas é de dar orgulho a seus realizadores. O clima é de celebração. A que tudo indica, o filme deve estrear para o público em agosto desse ano. Espero que chegue realmente a todos.
Ah, uma curiosidade para os soteropolitanos aflitos com a eterna espera do metrô. No filme há uma passagem de tempo e ele aparece lá, funcionando como em nossos sonhos, tendo inclusive uma fictícia estação no Bonocô, coisa que ficou esquecida no projeto que está tentando ser terminado nas ruas da cidade há mais de dez anos. Mas, aí é assunto para outros blogs.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Jardim das Folhas Sagradas
2011-02-01T08:26:00-03:00
Amanda Aouad
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