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Georgia Guerra-Peixe
O samba que mora em mim
O samba que mora em mim
A Mangueira já foi cantada em verso e prosa, até famosos sambistas de outras escolas como Paulinho da Viola já foram seduzidos pela verde e rosa. Não é com surpresa, então, que recebemos o filme O samba que mora em mim, de Geórgia Guerra-Peixe. O interessante, no entanto, é ver que o documentário não fala da Estação Primeira de Mangueira, apesar de a escola de samba estar lá. É na quadra que o filme começa, mas a famosa bateria só aparece aos 36 minutos em uma cena rápida, assim como o desfile é um detalhe. A obra é sobre o morro e, principalmente, as pessoas que ali vivem. Torna-se, então, um belo depoimento de pessoas comuns, que são a alma daquele local.
Geórgia Guerra-Peixe frequentou a Mangueira em sua infância e nunca esqueceu o local. A narração inicial tendo a quadra ao fundo é linda. Uma verdadeira poesia. Nela, a diretora explica o motivo daquele filme, sua relação com o samba, com a Mangueira, sua família. Aliás, todo o filme está repleto de pequenos indícios do que seja a Mangueira não apenas para Geórgia, mas para muitos. Há uma bela cena no início com um morador tocando As Rosas Não Falam de Cartola, mangueirense famoso que ajudou a fundar a escola. A cena clássica do amanhecer no morro ao som de Exaltação a Mangueira é outro ponto alto.
Todo o filme prima pela fotografia, assinada por Marcelo Rocha. São paisagens belíssimas, ângulos inusitados, enquadramentos que procuram investigar aquelas pessoas, compreender seu dia a dia. Em determinado momento uma das entrevistadas diz que as reportagens que vão ali só mostram as coisas ruins e que é preciso mostrar coisas boas. É isso que Geórgia Guerra Peixe faz, sem esconder as dificuldades, a violência ou o tráfico, mas, também sem focar esse lado. Os assuntos estão nas falas das pessoas que convivem com isso. Da mesma forma que também não foca o samba, nem a escola. Ela procura mostrar as pessoas simples e a rotina sem glamour de alguns moradores. O roteiro da própria diretora com Ticha Godoy é bastante feliz ao conduzir o passeio pelo morro.
Aliás, o samba não é o único ritmo que aparece no filme. O funk e os bailes do morro estão bastante presentes. Uma moradora diz que o samba pára depois do carnaval, mas o funk leva o ano todo. Outra já menospreza o ritmo dizendo que ela gosta de cantar, então, não dá para cantar funk. Há um pouco de tentativa de desmistificação, quando um morador fala que tem todos os ritmos ali, que um vizinho é roqueiro, o outro gosta de funk e outro de samba. É óbvio que nem todos que moram na Mangueira são sambistas. E o filme mostra isso de uma forma bem fluida.
É de se esperar, no entanto que o samba esteja presente no filme, principalmente pelo poético nome do documentário: O samba que mora em mim. Há uma cena rápida do ensaio da bateria, assim como o depoimento de um dos mestres dela, falando da tradição da bateria da Mangueira. Há ainda moradores se preparando para o desfile e um carro levando um grupo para Sapucaí. Mas, a forma como Geórgia Guerra-Peixe mostra o desfile foi o que me conquistou de vez nesse documentário. É emocionante, sutil, de uma beleza verdadeira. Precisava mesmo fugir do já conhecido. Assim como a coroação com o final novamente se valendo de poesia.
O documentário estreou em alguns cinemas na sexta-feira dia 11/02, não sei quando chega a todo o país, torço para que logo. Mas, pude assistir a essa bela obra pela iniciativa inédita de uma estreia na internet. Através do site da EloCompany. Quem sabe depois de correr o mundo, ele volte para lá.
O Samba que mora em mim (O Samba que Mora em Mim / 2011: Brasil, Portugal)
Direção: Georgia Guerra-Peixe
Roteiro: Ticha Godoy e Georgia Guerra-Peixe
Com:Timbaca, Cosminho, Lili, Vó Luciola.
Duração: 72 min
Geórgia Guerra-Peixe frequentou a Mangueira em sua infância e nunca esqueceu o local. A narração inicial tendo a quadra ao fundo é linda. Uma verdadeira poesia. Nela, a diretora explica o motivo daquele filme, sua relação com o samba, com a Mangueira, sua família. Aliás, todo o filme está repleto de pequenos indícios do que seja a Mangueira não apenas para Geórgia, mas para muitos. Há uma bela cena no início com um morador tocando As Rosas Não Falam de Cartola, mangueirense famoso que ajudou a fundar a escola. A cena clássica do amanhecer no morro ao som de Exaltação a Mangueira é outro ponto alto.
Todo o filme prima pela fotografia, assinada por Marcelo Rocha. São paisagens belíssimas, ângulos inusitados, enquadramentos que procuram investigar aquelas pessoas, compreender seu dia a dia. Em determinado momento uma das entrevistadas diz que as reportagens que vão ali só mostram as coisas ruins e que é preciso mostrar coisas boas. É isso que Geórgia Guerra Peixe faz, sem esconder as dificuldades, a violência ou o tráfico, mas, também sem focar esse lado. Os assuntos estão nas falas das pessoas que convivem com isso. Da mesma forma que também não foca o samba, nem a escola. Ela procura mostrar as pessoas simples e a rotina sem glamour de alguns moradores. O roteiro da própria diretora com Ticha Godoy é bastante feliz ao conduzir o passeio pelo morro.
Aliás, o samba não é o único ritmo que aparece no filme. O funk e os bailes do morro estão bastante presentes. Uma moradora diz que o samba pára depois do carnaval, mas o funk leva o ano todo. Outra já menospreza o ritmo dizendo que ela gosta de cantar, então, não dá para cantar funk. Há um pouco de tentativa de desmistificação, quando um morador fala que tem todos os ritmos ali, que um vizinho é roqueiro, o outro gosta de funk e outro de samba. É óbvio que nem todos que moram na Mangueira são sambistas. E o filme mostra isso de uma forma bem fluida.
É de se esperar, no entanto que o samba esteja presente no filme, principalmente pelo poético nome do documentário: O samba que mora em mim. Há uma cena rápida do ensaio da bateria, assim como o depoimento de um dos mestres dela, falando da tradição da bateria da Mangueira. Há ainda moradores se preparando para o desfile e um carro levando um grupo para Sapucaí. Mas, a forma como Geórgia Guerra-Peixe mostra o desfile foi o que me conquistou de vez nesse documentário. É emocionante, sutil, de uma beleza verdadeira. Precisava mesmo fugir do já conhecido. Assim como a coroação com o final novamente se valendo de poesia.
O documentário estreou em alguns cinemas na sexta-feira dia 11/02, não sei quando chega a todo o país, torço para que logo. Mas, pude assistir a essa bela obra pela iniciativa inédita de uma estreia na internet. Através do site da EloCompany. Quem sabe depois de correr o mundo, ele volte para lá.
O Samba que mora em mim (O Samba que Mora em Mim / 2011: Brasil, Portugal)
Direção: Georgia Guerra-Peixe
Roteiro: Ticha Godoy e Georgia Guerra-Peixe
Com:Timbaca, Cosminho, Lili, Vó Luciola.
Duração: 72 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O samba que mora em mim
2011-02-15T08:17:00-03:00
Amanda Aouad
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