O Profissional
Há uma certa falsa premissa de que em filme de ação não importa roteiro, nem construção de personagem, a adrenalina é o mais importante, com cenas bem orquestradas e efeitos especiais de primeira categoria. Ainda bem que existe Luc Besson, diretor e roteirista que consegue nos brindar com boas histórias, muitas vezes reflexivas, com personagens complexos e sim, muita cena de ação de tirar o fôlego. É assim com O Profissional, filme que hoje é conhecido por ter revelado Natalie Portman para o mundo e que tem uma trama muito bem amarrada em seus personagens e na profundidade de uma relação de amor e amizade entre um matador profissional e uma menininha de doze anos.
Leon é um assassino profissional. O mais competente em Nova York. Na cena inicial do filme temos a certeza de que nada pode impedí-lo de atingir o alvo encomendado. Mas, o que vemos depois é que Leon esconde por trás dessa máscara um homem sensível, que tem em uma planta seu único amigo. A situação fica ainda mais complicada quando uma família vizinha é assassinada por causa de drogas, deixando apenas a pequena Mathilda viva, pois estava fazendo compras no mercado. Mathilda vai parar na casa de Leon, primeiro para fugir dos assassinos de sua família que ainda estavam no apartamento, depois porque quer se tornar uma assassina como Leon para vingar a morte de seu irmão de quatro anos, único da família com o qual realmente se importava.
Jean Reno está ótimo como o assassino Leon. Sua sensibilidade para construir um homem frio e ao mesmo tempo sentimental é perfeita. A caracterização do personagem também ajuda. O óculos redondo que usa virou marca para identificá-lo. Natalie Portman tinha apenas onze anos e estava estreando no cinema, mas sua Mathilda impressiona pela capacidade de nos passar emoção. Uma determinada cena na parede mesmo, perto do final, é impressionante. Não por acaso se tornou a atriz que é hoje. Já Gary Oldman, apesar de todos os elogios da crítica da época, me incomoda pelo exagero dos tiques. Sim, ele nos passa medo, o policial corrupto, chefe da gangue, é assustador e louco. Aquele cacoete de comprimido e cabeça para cima soou para mim um pouco exagerado.
As cenas de ação são bem orquestradas. Leon demonstra total controle da situação e consegue vencer vários em um balé onde a câmera de Besson nos mostra sem mostrar. Muita coisa apenas imaginamos, é por isso que fica tão bom. A cena da morte da família de Mathilda é outro primor. A tensão das pessoas, principalmente do garotinho escondido em baixo do móvel e a forma como tenta fugir. A expectativa do primeiro tiro do pai. Isso tudo em paralelo com Mathilda feliz fazendo suas compras e Leon assistindo a cena pelo buraco da fechadura. Isso sem falar da grandiosidade da batalha final, que não vou entrar em detalhes para não dar spoilers a quem não tenha visto. Mas, a resolução com aquela frase é primorosa.
Mas, como disse, não é por ser um filme de ação que não há uma história complexa por trás. Só a premissa de uma garotinha de doze anos com um assassino profissional já é argumento para um grande filme. Está certo que não é uma simples garotinha inocente. Mathilda era a garota-problema, fumava, fugia da escola, apanhava gratuitamente do pai, não era respeitada pela irmã mais velha e só encontrava carinho no pequeno irmão. Mesmo assim, era uma criança que teve que aprender a crescer e pegar em armas, viver no mundo de Leon. A amizade que surge entre os dois e a velada tensão sexual também é muito bem construída. No roteiro inicial de Besson, a relação de Leon e Mathilda era muito mais ambígua, mas por pedido dos pais de Natalie Portman, o roteiro foi reescrito. Muitas cenas que explicitavam melhor a relação chegaram a ser gravadas, mas foram retiradas da versão final e só voltaram na versão do diretor em 2004, com 24 minutos a mais. Elas também podem ser vistas nos extras do DVD. Por tudo isso, acaba sendo uma linda história de amor.
O Profissional é daqueles bons filmes que ficam guardados em nossa mente e nossa estante, com ação, drama, romance e alguma dose de reflexão, torna-se uma obra que pode agradar a todos os gostos. Um verdadeiro presente de Luc Besson ao mundo cinematográfico. A gente torce por aqueles personagens, é envolvido pela cadência do roteiro, se surpreende e fica satisfeito com aquele final. Falta pouco para eu considerá-lo uma obra-prima do gênero.
O Profissional: (Léon: 1994 / França, EUA)
Direção: Luc Besson
roteiro: Luc Besson
Com: Jean Reno, Gary Oldman, Natalie Portman, Danny Aiello.
Duração: 133 min
Leon é um assassino profissional. O mais competente em Nova York. Na cena inicial do filme temos a certeza de que nada pode impedí-lo de atingir o alvo encomendado. Mas, o que vemos depois é que Leon esconde por trás dessa máscara um homem sensível, que tem em uma planta seu único amigo. A situação fica ainda mais complicada quando uma família vizinha é assassinada por causa de drogas, deixando apenas a pequena Mathilda viva, pois estava fazendo compras no mercado. Mathilda vai parar na casa de Leon, primeiro para fugir dos assassinos de sua família que ainda estavam no apartamento, depois porque quer se tornar uma assassina como Leon para vingar a morte de seu irmão de quatro anos, único da família com o qual realmente se importava.
Jean Reno está ótimo como o assassino Leon. Sua sensibilidade para construir um homem frio e ao mesmo tempo sentimental é perfeita. A caracterização do personagem também ajuda. O óculos redondo que usa virou marca para identificá-lo. Natalie Portman tinha apenas onze anos e estava estreando no cinema, mas sua Mathilda impressiona pela capacidade de nos passar emoção. Uma determinada cena na parede mesmo, perto do final, é impressionante. Não por acaso se tornou a atriz que é hoje. Já Gary Oldman, apesar de todos os elogios da crítica da época, me incomoda pelo exagero dos tiques. Sim, ele nos passa medo, o policial corrupto, chefe da gangue, é assustador e louco. Aquele cacoete de comprimido e cabeça para cima soou para mim um pouco exagerado.
As cenas de ação são bem orquestradas. Leon demonstra total controle da situação e consegue vencer vários em um balé onde a câmera de Besson nos mostra sem mostrar. Muita coisa apenas imaginamos, é por isso que fica tão bom. A cena da morte da família de Mathilda é outro primor. A tensão das pessoas, principalmente do garotinho escondido em baixo do móvel e a forma como tenta fugir. A expectativa do primeiro tiro do pai. Isso tudo em paralelo com Mathilda feliz fazendo suas compras e Leon assistindo a cena pelo buraco da fechadura. Isso sem falar da grandiosidade da batalha final, que não vou entrar em detalhes para não dar spoilers a quem não tenha visto. Mas, a resolução com aquela frase é primorosa.
Mas, como disse, não é por ser um filme de ação que não há uma história complexa por trás. Só a premissa de uma garotinha de doze anos com um assassino profissional já é argumento para um grande filme. Está certo que não é uma simples garotinha inocente. Mathilda era a garota-problema, fumava, fugia da escola, apanhava gratuitamente do pai, não era respeitada pela irmã mais velha e só encontrava carinho no pequeno irmão. Mesmo assim, era uma criança que teve que aprender a crescer e pegar em armas, viver no mundo de Leon. A amizade que surge entre os dois e a velada tensão sexual também é muito bem construída. No roteiro inicial de Besson, a relação de Leon e Mathilda era muito mais ambígua, mas por pedido dos pais de Natalie Portman, o roteiro foi reescrito. Muitas cenas que explicitavam melhor a relação chegaram a ser gravadas, mas foram retiradas da versão final e só voltaram na versão do diretor em 2004, com 24 minutos a mais. Elas também podem ser vistas nos extras do DVD. Por tudo isso, acaba sendo uma linda história de amor.
O Profissional é daqueles bons filmes que ficam guardados em nossa mente e nossa estante, com ação, drama, romance e alguma dose de reflexão, torna-se uma obra que pode agradar a todos os gostos. Um verdadeiro presente de Luc Besson ao mundo cinematográfico. A gente torce por aqueles personagens, é envolvido pela cadência do roteiro, se surpreende e fica satisfeito com aquele final. Falta pouco para eu considerá-lo uma obra-prima do gênero.
O Profissional: (Léon: 1994 / França, EUA)
Direção: Luc Besson
roteiro: Luc Besson
Com: Jean Reno, Gary Oldman, Natalie Portman, Danny Aiello.
Duração: 133 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Profissional
2011-03-23T08:32:00-03:00
Amanda Aouad
acao|critica|drama|Gary Oldman|Jean Reno|Luc Besson|Natalie Portman|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...