Água para Elefantes
"Tudo é ilusão", declara em um determinado momento a personagem de Reese Witherspoon para Robert Pattinson. A idéia da história baseada no livro de Sara Gruen é falar da ilusão da vida. Achamos que temos alguma coisa, que somos alguém, porém, tudo pode mudar em um piscar de olhos. Temos aqui o círculo perfeito de uma tragédia, mas que na tela do cinema se apresenta de uma forma frágil, enquanto nas páginas do livro era rico em detalhes e até mesmo profundo. Água para elefantes é, então, um filme regular. Consegue nos contar uma história, mas abusa dos efeitos melosos para nos emocionar a qualquer custo. E isso fica falso a maior parte do tempo.
A trama gira em torno de Jacob, um senhor que chega a um circo após o espetáculo e pede para ficar. O dono, incrédulo, quer saber qual sua experiência e ele conta o que aconteceu quando fazia parte do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra. Em 1931, Jacob estava prestes a se formar em medicina veterinária quando seus pais morreram em um acidente de carro. Orfão, sem dinheiro, nem local para morar, ele tem que abandonar a faculdade sem diploma e procurar emprego em algum lugar. Vai parar no circo e logo se torna o responsável pelos animais. Mas, encontra muito mais do que esperava naquele local, principalmente na figura de Marlena e da elefanta Rosie.
Amor proibido a gente encontra em várias histórias. Ainda mais do rapaz pobre que se apaixona pela mulher do patrão. É tudo meio marcado, conhecido, sem novidades. Até por isso, a grande atração da trama é a elefanta Rosie. Ela chega de repente, como uma solução mágica para aquele local e logo se torna uma decepção, vista como burra e sendo muito maltratada. É curioso aquela criatura tão grande e ao mesmo tempo tão frágil. Ainda mais quando Jacob descobre o segredo de como fazê-la obedecer aos comandos. É impressionante que a gente se afeiçoa à elefanta mais do que a qualquer personagem daquele circo. Talvez porque seja a única que não nos obriga a gostar dela. Ela está lá, sofrendo, sendo maltratada e logo sendo a salvação do bando. Os demais personagens são estereótipos conhecidos, que não encantam mais.
Francis Lawrence e o roteiro de Richard LaGravenese também têm dificuldade de adaptar a história para as telas e acabam caindo em armadilhas do melodrama adaptado. Exageram na voz over, explicando mais do que precisam nas palavras do narrador Jacob que sempre são acompanhadas de uma trilha melosa tentando nos emocionar. Nem mesmo a magia do circo consegue saltar aos nossos olhos. Não é demonstrada de forma natural, aparece em uma construção armada. Quase que nos alertando que aquilo é o mágico mundo do picadeiro. Da mesma forma, não nos mostra os bastidores desse circo, muitas vezes sujo e traiçoeiro tal qual faz muito bem o filme Trapézio. Os personagens são esterotipados demais. Em uma cena do trem, Jacob passa pela cabine dos palhaços e eles jogam tortas. Como se não fosse o bastante o outro personagem diz: "ninguém passa impune pelos palhaços". Eles não tiram a máscara nem na hora de dormir?
De uma forma realista, no entanto, o filme reconstrói o início dos anos 30, com a Grande Depressão Americana trazendo problemas para todos. O circo passa por uma grande crise financeira refletida, principalmente, na forma como tratam os animais. Comidas estragadas são entregues como alimento e eles trabalham até a exaustão. Mas, ao ser questionado por Jacob, August, o dono do circo, diz que todos estão passando por dificuldades. August, por sua vez, é o personagem mais complexo do filme. Em alguns momentos é um bom patrão, otimista, preocupado com todos e querendo o melhor do show. Em outros, é o homem sem coração, cruel e violento capaz de mandar jogar do trem em movimento funcionários para não pagar-lhes os salários atrasados. Neste ponto, ele acolhe Jacob de uma maneira quase paternal, apostando em sua inteligência para ajudar com os animais, mas ao mesmo tempo, é capaz de destruí-lo ao descobrir seus sentimentos por Marlena.
Não vou ser mais uma a criticar Robert Pattinson. O rapaz pode não encantar com uma grande interpretação, mas aqui consegue conduzir seu Jacob junto a Reese Witherspoon. O problema é que o brilho de Christopher Waltz ofusca qualquer interpretação. Só conseguimos olhar para ele quando está em cena. As nuances que dá ao personagem August são admiráveis. Temos diversas cenas a citar, porém, a sequência do espancamento da elefanta é o que mais me marcou. A forma como ele estava antes, esperando a notícia. O retorno da elefanta e a maneira como voa em direção ao animal em uma fúria imensa. E depois, chorando desesperado porque Marlena não quer perdoá-lo pelo ato. Um show de interpretação. A cena do espancamento se destaca também pela fotografia. A penumbra aumentando a tensão da cena. Os enquadramentos mostrando aquele imenso animal em primeiro plano, deitado, completamente indefeso diante daquele homem raivoso. Elefante e Chris Waltz em cena, só poderia ser o momento mais marcante do filme.
Não é à toa que Água para Elefantes está dividindo a crítica. O filme tem problemas claros, mas é também sensível em vários momentos. Há prós e contras. Emociona em algumas cenas e irrita em outras. Como um espetáculo de circo, que tem atrações boas, outras muito ruins, mas o show tem sempre que continuar.
Água para Elefantes (Water for Elephants: 2001 / EUA)
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Richard LaGravenese
Com: Reese Witherspoon, Robert Pattinson, Christoph Waltz, Hal Holbrook.
Duração: 122 min.
A trama gira em torno de Jacob, um senhor que chega a um circo após o espetáculo e pede para ficar. O dono, incrédulo, quer saber qual sua experiência e ele conta o que aconteceu quando fazia parte do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra. Em 1931, Jacob estava prestes a se formar em medicina veterinária quando seus pais morreram em um acidente de carro. Orfão, sem dinheiro, nem local para morar, ele tem que abandonar a faculdade sem diploma e procurar emprego em algum lugar. Vai parar no circo e logo se torna o responsável pelos animais. Mas, encontra muito mais do que esperava naquele local, principalmente na figura de Marlena e da elefanta Rosie.
Amor proibido a gente encontra em várias histórias. Ainda mais do rapaz pobre que se apaixona pela mulher do patrão. É tudo meio marcado, conhecido, sem novidades. Até por isso, a grande atração da trama é a elefanta Rosie. Ela chega de repente, como uma solução mágica para aquele local e logo se torna uma decepção, vista como burra e sendo muito maltratada. É curioso aquela criatura tão grande e ao mesmo tempo tão frágil. Ainda mais quando Jacob descobre o segredo de como fazê-la obedecer aos comandos. É impressionante que a gente se afeiçoa à elefanta mais do que a qualquer personagem daquele circo. Talvez porque seja a única que não nos obriga a gostar dela. Ela está lá, sofrendo, sendo maltratada e logo sendo a salvação do bando. Os demais personagens são estereótipos conhecidos, que não encantam mais.
Francis Lawrence e o roteiro de Richard LaGravenese também têm dificuldade de adaptar a história para as telas e acabam caindo em armadilhas do melodrama adaptado. Exageram na voz over, explicando mais do que precisam nas palavras do narrador Jacob que sempre são acompanhadas de uma trilha melosa tentando nos emocionar. Nem mesmo a magia do circo consegue saltar aos nossos olhos. Não é demonstrada de forma natural, aparece em uma construção armada. Quase que nos alertando que aquilo é o mágico mundo do picadeiro. Da mesma forma, não nos mostra os bastidores desse circo, muitas vezes sujo e traiçoeiro tal qual faz muito bem o filme Trapézio. Os personagens são esterotipados demais. Em uma cena do trem, Jacob passa pela cabine dos palhaços e eles jogam tortas. Como se não fosse o bastante o outro personagem diz: "ninguém passa impune pelos palhaços". Eles não tiram a máscara nem na hora de dormir?
De uma forma realista, no entanto, o filme reconstrói o início dos anos 30, com a Grande Depressão Americana trazendo problemas para todos. O circo passa por uma grande crise financeira refletida, principalmente, na forma como tratam os animais. Comidas estragadas são entregues como alimento e eles trabalham até a exaustão. Mas, ao ser questionado por Jacob, August, o dono do circo, diz que todos estão passando por dificuldades. August, por sua vez, é o personagem mais complexo do filme. Em alguns momentos é um bom patrão, otimista, preocupado com todos e querendo o melhor do show. Em outros, é o homem sem coração, cruel e violento capaz de mandar jogar do trem em movimento funcionários para não pagar-lhes os salários atrasados. Neste ponto, ele acolhe Jacob de uma maneira quase paternal, apostando em sua inteligência para ajudar com os animais, mas ao mesmo tempo, é capaz de destruí-lo ao descobrir seus sentimentos por Marlena.
Não vou ser mais uma a criticar Robert Pattinson. O rapaz pode não encantar com uma grande interpretação, mas aqui consegue conduzir seu Jacob junto a Reese Witherspoon. O problema é que o brilho de Christopher Waltz ofusca qualquer interpretação. Só conseguimos olhar para ele quando está em cena. As nuances que dá ao personagem August são admiráveis. Temos diversas cenas a citar, porém, a sequência do espancamento da elefanta é o que mais me marcou. A forma como ele estava antes, esperando a notícia. O retorno da elefanta e a maneira como voa em direção ao animal em uma fúria imensa. E depois, chorando desesperado porque Marlena não quer perdoá-lo pelo ato. Um show de interpretação. A cena do espancamento se destaca também pela fotografia. A penumbra aumentando a tensão da cena. Os enquadramentos mostrando aquele imenso animal em primeiro plano, deitado, completamente indefeso diante daquele homem raivoso. Elefante e Chris Waltz em cena, só poderia ser o momento mais marcante do filme.
Não é à toa que Água para Elefantes está dividindo a crítica. O filme tem problemas claros, mas é também sensível em vários momentos. Há prós e contras. Emociona em algumas cenas e irrita em outras. Como um espetáculo de circo, que tem atrações boas, outras muito ruins, mas o show tem sempre que continuar.
Água para Elefantes (Water for Elephants: 2001 / EUA)
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Richard LaGravenese
Com: Reese Witherspoon, Robert Pattinson, Christoph Waltz, Hal Holbrook.
Duração: 122 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Água para Elefantes
2011-04-28T08:23:00-03:00
Amanda Aouad
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