
O talento de Chaplin é inquestionável e aqui ele brinca bastante com sua capacidade de se expressar com o corpo. Os trinta primeiros segundos, a câmera está quase parada, faz apenas um movimento panorâmico de correção para acompanhar a sequência de ações do personagem. O movimento que dita o ritmo da cena é o da máquina. A imagem é clara, três operários em processo serial, cada um fazendo parte da função para produzir mais rápido. A repetição do movimento que já tinha sido explorado no filme em várias cenas, está quase no limite. Ele faz a sua parte, mas ainda não é rápido o suficiente. Tem que acelerar para apertar o parafuso. Seus companheiros reclamam a falta de tempo, que prejudica a parte deles. O chefe aparece e faz pressão. Ele tem que acelerar a ação e por isso, "enlouquece". A própria cartela reforça isso.

Ele sai de lá completamente confuso. Não consegue mais parar de repetir o movimento. Robotizou. Perdeu o juízo, o sentido. Claro que Chaplin se utiliza do humor nesse ponto. Com cortes rápidos mostra de vários ângulos os movimentos do personagem pelo cenário, sempre em busca do que apertar. A chegada da mulher com roupa cheia de botões é o clímax. Ele corre atrás dela que foge enlouquecida. É divertido ver aquela situação, torna a crítica mais leve. Chaplin sabe que não pode passar dos limites. Mas, ali está o exemplo vivo do que a revolução industrial fez ao ser humano e o quão cruel era o sistema de trabalho. Esse mesmo sistema que foi questionado em Chicago e logo ganhou as ruas mundiais. No Brasil, só conseguimos uma constituição com esses direitos em 1930. Antes tarde do que nunca. Fiquem com esta cena de Tempos Modernos. pena que a qualidade não está tão boa, mas dá para assistir.