Obrigado por fumar
Quais os limites da ética e das obrigações de uma profissão ou emprego? Afinal, como deve agir um advogado diante de um cliente que sabe ser culpado de um crime? Ou um médico que tem que operar e salvar a vida de um assassino? Como atender bem um ser desprezível diante da sociedade ou, pior que isso, como defender algo que faz mal à humanidade? O filme Obrigado por Fumar, traz esses questionamentos em um tom de sátira crítica e acaba tendo ótimos resultados.
O protagonista Nick Naylor não tem problemas éticos em sua atividade de defender as indústrias de tabaco, pois em sua cabeça aquilo é apenas o seu trabalho. É profissional, não pessoal. Então, ele consegue transformar o Governo, que ajuda as pessoas com câncer de pulmão, em algoz e seu cliente, que vende cigarro para o mundo todo, em vítima. Tudo isso apenas com argumentos lógicos. Obrigado por fumar, dirigido por Jason Reitman é uma verdadeira crítica ao nosso mundo. Perspicaz, traz em voga um tema indigesto com muito humor. O filme torna-se leve, gostoso de assistir. Tal qual Juno ou Amor sem escalas, do mesmo diretor.
Aaron Eckhart está ótimo como o protagonista Nick. Ágil, versátil e convincente, ele realmente nos envolve em seus argumentos. Parece que nossa ética também é suspensa, o que chega a ser perigoso, e torcemos para que ele consiga sempre se desvencilhar dos governantes e ativistas que o perseguem. Não conseguimos nem mesmo achar ruim sua influência negativa ao filme. Claro que tudo isso enquanto estamos lá, envolvidos com o filme. Como entretenimento, nos permitimos suspender a ética. Da mesma forma que torcemos para um bandido como Scarface não ser pego. O fato é que Nick nos convence de que não defende o cigarro propriamente dito, uma droga que mata, mas a liberdade de escolha de todo cidadão que pode ou não escolher fumar.
Para deixar a trama ainda mais ágil, Jason Reitman, que também assina o roteiro, nos apresenta os "Mercadores da Morte". Nick e dois amigos, um representante de armas e uma representante de bebidas que se encontram em um bar para trocar idéias ao final de cada dia. A troca de idéias, conselhos e avaliação de casos é interessante. Nos envolve. Em determinado momento, eles começam a disputar quem mata mais, quem causa mais problemas à sociedade como se estivessem disputando pontos no mercado de ação. O humor negro impera, mas com um senso tão inteligente que nos pega.
O próprio título Obrigado por fumar, uma tradução literal do original, nos indica a ironia contida na obra. Sim, a indústria nos agradece a cada cigarro que acendemos, mas é ilusão achar que o filme procura conscientizar alguém disso. Há vários momentos que demonstra a hipocrisia do discurso anti-tabagista e até mesmo que todos têm seu preço, como na cena do cowboy. Não que eu concorde com tudo isso, mas o filme defende bem a sua própria tese. Consegue amarrar o seu raciocínio e nos fazer admirar o resultado, assim como admiramos o talento de Nick Naylor para envolver a todos.
Com um roteiro bem construído que apresenta o personagem, traça sua trajetória, vai complicando aos poucos sua vida até chegar ao ponto crucial da definição, Obrigado por Fumar é daquelas obras que marcam. Mas, mais do que isso, nos pegam no contrapé. Eu mesma odeio cigarros, mas torço para que Nick se dê bem no final. Uma triste constatação que só nos faz pensar nos limites de uma profissão tão persuasiva e seus perigos.
Obrigado por fumar (Thank You for Smoking: 2006 / EUA)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman
Com: Aaron Eckhart, Maria Bello, Cameron Bright, Adam Brody, Katie Holmes.
Duração: 92 min
O protagonista Nick Naylor não tem problemas éticos em sua atividade de defender as indústrias de tabaco, pois em sua cabeça aquilo é apenas o seu trabalho. É profissional, não pessoal. Então, ele consegue transformar o Governo, que ajuda as pessoas com câncer de pulmão, em algoz e seu cliente, que vende cigarro para o mundo todo, em vítima. Tudo isso apenas com argumentos lógicos. Obrigado por fumar, dirigido por Jason Reitman é uma verdadeira crítica ao nosso mundo. Perspicaz, traz em voga um tema indigesto com muito humor. O filme torna-se leve, gostoso de assistir. Tal qual Juno ou Amor sem escalas, do mesmo diretor.
Aaron Eckhart está ótimo como o protagonista Nick. Ágil, versátil e convincente, ele realmente nos envolve em seus argumentos. Parece que nossa ética também é suspensa, o que chega a ser perigoso, e torcemos para que ele consiga sempre se desvencilhar dos governantes e ativistas que o perseguem. Não conseguimos nem mesmo achar ruim sua influência negativa ao filme. Claro que tudo isso enquanto estamos lá, envolvidos com o filme. Como entretenimento, nos permitimos suspender a ética. Da mesma forma que torcemos para um bandido como Scarface não ser pego. O fato é que Nick nos convence de que não defende o cigarro propriamente dito, uma droga que mata, mas a liberdade de escolha de todo cidadão que pode ou não escolher fumar.
Para deixar a trama ainda mais ágil, Jason Reitman, que também assina o roteiro, nos apresenta os "Mercadores da Morte". Nick e dois amigos, um representante de armas e uma representante de bebidas que se encontram em um bar para trocar idéias ao final de cada dia. A troca de idéias, conselhos e avaliação de casos é interessante. Nos envolve. Em determinado momento, eles começam a disputar quem mata mais, quem causa mais problemas à sociedade como se estivessem disputando pontos no mercado de ação. O humor negro impera, mas com um senso tão inteligente que nos pega.
O próprio título Obrigado por fumar, uma tradução literal do original, nos indica a ironia contida na obra. Sim, a indústria nos agradece a cada cigarro que acendemos, mas é ilusão achar que o filme procura conscientizar alguém disso. Há vários momentos que demonstra a hipocrisia do discurso anti-tabagista e até mesmo que todos têm seu preço, como na cena do cowboy. Não que eu concorde com tudo isso, mas o filme defende bem a sua própria tese. Consegue amarrar o seu raciocínio e nos fazer admirar o resultado, assim como admiramos o talento de Nick Naylor para envolver a todos.
Com um roteiro bem construído que apresenta o personagem, traça sua trajetória, vai complicando aos poucos sua vida até chegar ao ponto crucial da definição, Obrigado por Fumar é daquelas obras que marcam. Mas, mais do que isso, nos pegam no contrapé. Eu mesma odeio cigarros, mas torço para que Nick se dê bem no final. Uma triste constatação que só nos faz pensar nos limites de uma profissão tão persuasiva e seus perigos.
Obrigado por fumar (Thank You for Smoking: 2006 / EUA)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman
Com: Aaron Eckhart, Maria Bello, Cameron Bright, Adam Brody, Katie Holmes.
Duração: 92 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Obrigado por fumar
2011-05-11T08:46:00-03:00
Amanda Aouad
Aaron Eckhart|comedia|critica|drama|
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