
O filme, como está se tornando praxe nas obras do diretor, é dividido em um prólogo e duas partes. O prólogo é uma profusão de imagens impactantes em câmera muito lenta, quase fotos, ao som de Wagner. Um resumo da angústia do filme em uma poesia única. Só ele já daria um curta-metragem incrível que termina com o enorme planeta Melancolia engolindo a Terra. Depois, acompanhamos a história das irmãs Justine, vivida por Kirsten Dunst e Claire, interpretada por Charlotte Gainsbourg. A divisão é exatamente para enfatizar o ponto de vista das duas, em relação à aproximação de um planeta que poderá colidir com a Terra. Mesmo assim, é Justine a protagonista absoluta em ambas as partes.

Toda a primeira parte de Melancolia, intitulada Justine, se resume à festa de casamento da protagonista. Há aqui um eco de um dos filmes do Dogma, dirigido por Thomas Vinterberg, Festa de Família. Guardadas as devidas proporções, há muito daquele clima de família problemática reunida, discursos desconcertantes e situações embaraçosas. Em um tom realista, Lars Von Trier percorre a festa desnudando seus personagens. Aqui, apenas alguns indícios do planeta que se aproxima, o foco é Justine e seus problemas pessoais. A relação doentia entre Justine e sua mãe, vivida por Charlotte Rampling e a veneração pelo pai, vivido por John Hurt. Isso sem falar no chefe inconveniente e o estagiário em busca de um slogan em plena festa.

Lars Von Trier coloca diversos símbolos escondidos em cada cena, como a própria situação da encruzilhada, ou o misterioso buraco 19, quando passou o filme inteiro nos lembrando que só existem 18 buracos no campo de golfe. Temos ainda as frases de efeito ditas pelos personagens como "Pare de sonhar, Justine" ou "A Terra é má, ninguém sentirá saudades dela". A escolha da música Tristão e Isolda para conduzir a história também é bastante simbólica, já que trata-se da história de amor mais triste e antiga da humanidade.

Melancolia não é das obras mais controversas de Lars Von Trier. O público não irá sair chocado como foi em Anti-Cristo, nem emocionalmente abalado como foi em Dançando no Escuro, muito menos verá uma desconstrução do cinema como no caso de Dogville ou mesmo de Os Idiotas que marcou o Dogma 95. Ainda assim, não se trata de um filme menor. É forte, intenso, chocante, belo. Um deleite cinematográfico para todos os gostos.
Melancolia (Melancholia: 2011 /Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Suécia)
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Com: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, John Hurt.
Duração: 130 min.