Onde está a felicidade? Pergunta complexa e ao mesmo tempo tão simples que poderia resultar em teses de doutorado ou simples divagações pessoais. Pensando nela, o casal
Carlos Alberto Riccelli e
Bruna Lombardi criou uma comédia romântica capaz de divertir públicos de todos os estilos. O resultado foi o prêmio de melhor filme no
Festival de Paulínia esse ano pelo voto popular e uma promessa de grandes bilheterias.
Terceiro trabalho da dupla, sempre com ele na direção e ela no roteiro, além de protagonista da trama,
Onde está a felicidade? é uma obra divertida sobre uma mulher que perde tudo e resolve fazer o
Caminho de Santiago em uma tentativa de se encontrar. O argumento já traz um humor irônico e despachado. Teodora é uma apresentadora de um programa de culinária afrodisíaca que está prestes a ser fechado porque a emissora foi comprada por uma igreja evangélica. Para completar, ela flagra seu marido tendo um caso virtual. Com a sensação de que o mundo acabou, Teodora embarca com seu antigo diretor para Espanha. E o
Caminho de Santiago que ela fará é bem diferente daquele feito pelos peregrinos tradicionais.

Em muitos momentos, a direção de arte do filme me lembrou as obras de
Almodovar, principalmente na fase inicial do diretor. As cores exageradamente vibrantes, as roupas, a estética quase brega, o tom irônico de uma mulher de salto alto, sombrinha e várias sacolas andando pelo caminho onde só passam peregrinos de tênis e mochila de acampamento, entre outros detalhes como o próprio cenário do programa "Receita do amor". Mas, nem Bruna, nem Riccelli têm o humor ácido do diretor espanhol, buscando um caminho mais leve para sua própria história e estilo autoral. O que não é ruim. Apesar de óbvio em muitos momentos e de recursos clichês,
Onde está a felicidade? não apela para o vulgar, nem para o besteirol, mantendo um nível de diversão para todos os gostos.

A trama se divide entre Brasil e Espanha em um
road movie com objetivos próprios, brincando com situações diversas de buscas pessoais. Enquanto Teodora constrói suas tentativas de chegar à Santiago, Nando, seu marido, sofre no Brasil com a falta da mulher, sendo ajudado pelos colegas de trabalho em tentativas diversas de sair da fossa. A economia narrativa nesse ponto é feliz, ao não deixar as tramas paralelas se unirem de forma gratuita. É interessante, por exemplo, a situação relacionada ao cachorro do casal. É divertida também a solução do surgimento de uma fã mirim de Nando, com os encontros e desencontros de Teodora na Espanha. O único problema aí é a conclusão da trama, que sofre do mesmo mal da maioria das comédias românticas em uma luta por sair do clichê.

Outra coisa que chama a atenção em
Onde está a felicidade? é a montagem.
Carlos Alberto e o montador
Daniel Grinspum conseguiram imprimir uma linguagem bastante funcional com várias divisões de tela e inserções gráficas que dão uma agilidade à trama. Apesar de nada inovadora, a divisão de tela facilita a visualização das situações em cenas como a conversa entre amigos ou as caminhadas do grupo. E os mapas localizam o espectador diante do caminho a ser percorrido de uma maneira divertida e lúdica, sem se constituir em uma quebra narrativa. A trilha sonora também acompanha o ritmo de uma maneira leve, só pecando em alguns momentos clichês como ao falar na Espanha, as castanholas já estarem tocando.

A mistura de elenco brasileiro e espanhol também é bastante fluida. No geral, não há grandes interpretações, nem grandes problemas. A exceção fica por conta da participação do casal
Dani Calabreza e
Marcelo Adnet, em inserções completamente gratuitas que não ajudam em nada na trama. O trio protagonista vivido por
Bruna Lombardi,
Marcello Airoldi e
Marta Larralde consegue um bom entrosamento.
Bruno Garcia também está natural como o marido Nando e funciona bem com o trio de colegas de trabalho, destaque para
Wandi Doratiotto sempre muito engraçado.
Onde está a felicidade? é daqueles filmes simpáticos. Bem produzido, com um bom ritmo e divertido, nos faz esquecer os problemas por cento e dez minutos para embarcar nessa viagem junto a Teodora em busca de uma resposta que parece não existir, pelo menos não como uma fórmula pronta. É ainda um filme que comprova o estilo do casal
Bruna e
Riccelli em trabalhar com questões internas do ser humano, seja de uma forma sombria como em
O Signo da Cidade ou colorida como em
Onde está a felicidade?, sempre questões existenciais.
Onde está a felicidade? (Onde está a Felicidade?: 2011 /Brasil, Espanha)
Direção: Carlos Alberto Riccelli
Roteiro: Bruna Lombardi
Com: Bruna Lombardi, Bruno Garcia, Maria Pujalte, Marcello Airoldi, Marta Larralde.
Duração: 110 min.