Planeta dos Macacos: A Origem
O cinema é reflexo de sua época e isso é uma das coisas mais fascinantes da sétima arte. Mesmo ao retratar uma época, está impresso na tela o momento em que ele foi feito. É natural, então, que a Origem de O Planeta dos Macacos acabe sendo diferente daquilo que Pierre Boulle imaginou. Quando o livro O Planeta dos Macacos foi escrito, estávamos em plena Guerra Fria, o medo de uma guerra nuclear que dizimasse o planeta era enorme. Nesse cenário, também chegou o primeiro filme de Franklin J. Schaffner com Charlton Heston no papel principal. Agora, o temor da humanidade não parece mais ser a guerra, mas as experiências genéticas que nos fazem brincar de Deus. É coerente então, que o roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver se baseiem nisso.
James Franco é Will Rodman, um cientista obcecado por um projeto em que acredita poder encontrar a cura para o mal de Alzheimer. A justificativa é a já bastante utilizada motivação pessoal, já que seu pai vivido pelo ator John Lithgow sofre da doença. Após diversos testes com macacos, ele acredita ter conseguido encontrar a fórmula perfeita o ALZ 112, mas a macaca modelo se revolta no dia da apresentação, fazendo os investidores desistirem do projeto. O que eles não sabiam é que ela estava apenas protegendo o seu filhote. Caesar que acabara de nascer e que herdou dela os genes modificados pelo ALZ 112, se tornando um macaco bastante evoluído.
O filme se baseia na relação de amor e ódio entre humanos e macacos representada na convivência entre o cientista Will Rodman e o macaco Caesar. O nome sugestivo já lhe dá indícios de que ele poderá ser o líder de uma revolução. Através deles, temos uma projeção da forma como os seres humanos tratam os seres que consideram inferiores a eles, as difíceis situações das cobaias, a aproximação e capacidade de criar vínculos, além do sentimento de rejeição e traição que pode ser o início de uma guerra. Tudo está bem distribuído na trama do filme, apesar os diálogos não serem os mais felizes.
A melhor parte do filme é aquela que não precisa de palavras, talvez por isso, o melhor ator em cena esteja atrás de uma máquina e se comunique principalmente através do olhar. Andy Serkis que empresta seus movimentos para construção em computador do macaco Caesar impressiona a todo momento. Desde sua impressionante performance como Sméagol/Gollum em O Senhor dos Anéis, o ator parece estar se especializando nesse tipo de personagem. Caesar não é apenas expressivo, ele realmente fala com os olhos, nos cativando em sua dor. Ele é o protagonista do filme, é por ele que torcemos, nos identificamos e compreendemos. James Franco é apenas um coadjuvante, que não consegue sustentar a mesma emoção. Destaque ainda para John Lithgow, ótimo como o pai doente, e para a participação de Tom Felton com os mesmo trejeitos de Draco Malfoy.
A direção de Rupert Wyatt é bastante feliz, principalmente por dar tanto destaque ao olhar, janela da alma, em vários movimentos em zooms que buscam a retina dos primatas como se procurassem pistas. Há alguns momentos de passagem bem inspirados, como quando Caesar sobe em uma árvore e a cada galho há uma elipse indicando que passou um certo tempo através das estações do ano. É interessante observar também que Wyatt praticamente ressuscitou o efeito de fusão, ao utilizá-lo de forma bastante significativa, como na passagem de noite para dia, por exemplo, ou na ligação entre macaco e cientista. O uso do plongée, a câmera de cima para baixo, que indica superioridade também é usada de uma forma a mudar o ponto de vista de quem é que está por cima na disputa homem vs macaco. No início do filme, os macacos são vistos de cima, depois são os humanos que são vistos assim.
As referências à saga original também são inúmeras. Em um momento, vemos Caesar brincando com uma miniatura da Estátua da Liberdade, impossível não lembrar da emblemática cena final de Charlton Heston no mar. Uma das macacas da jaula se chama Cornélia, em uma referência ao Dr. Cornelius do filme de 68. Quando está preso, Caesar recebe um jato de água como castigo por sua rebeldia, da mesma forma que o personagem de Charlton Heston foi punido em O Planeta dos Macacos. E claro, há um link sutil, mas essencial para que a trama possa ser continuada, basta prestar atenção na televisão e na capa do jornal.
Ainda que a inteligência dos macacos venha através de uma fórmula quase mágica, há coerência em O Planeta dos Macacos: A Origem. As situações vão se sucedendo de uma maneira bastante crível. E fica a certeza de que a humanidade ainda precisa aprender muito sobre convivência, respeito e preservação da espécie para ser digna de um futuro. Mesmo que não tenhamos mais a ameaça de uma guerra iminente, ainda somos capazes de nos destruir. E nossos sucessores na cadeia evolutiva estão preparados para assumir o planeta. Ou não.
O Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes: 2011 /EUA)
Direção: Rupert Wyatt
Roteiro: Rick Jaffa e Amanda Silver
Com: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, Tyler Labine, John Lithgow, Brian Cox, Tom Felton.
Duração: 105 min.
James Franco é Will Rodman, um cientista obcecado por um projeto em que acredita poder encontrar a cura para o mal de Alzheimer. A justificativa é a já bastante utilizada motivação pessoal, já que seu pai vivido pelo ator John Lithgow sofre da doença. Após diversos testes com macacos, ele acredita ter conseguido encontrar a fórmula perfeita o ALZ 112, mas a macaca modelo se revolta no dia da apresentação, fazendo os investidores desistirem do projeto. O que eles não sabiam é que ela estava apenas protegendo o seu filhote. Caesar que acabara de nascer e que herdou dela os genes modificados pelo ALZ 112, se tornando um macaco bastante evoluído.
O filme se baseia na relação de amor e ódio entre humanos e macacos representada na convivência entre o cientista Will Rodman e o macaco Caesar. O nome sugestivo já lhe dá indícios de que ele poderá ser o líder de uma revolução. Através deles, temos uma projeção da forma como os seres humanos tratam os seres que consideram inferiores a eles, as difíceis situações das cobaias, a aproximação e capacidade de criar vínculos, além do sentimento de rejeição e traição que pode ser o início de uma guerra. Tudo está bem distribuído na trama do filme, apesar os diálogos não serem os mais felizes.
A melhor parte do filme é aquela que não precisa de palavras, talvez por isso, o melhor ator em cena esteja atrás de uma máquina e se comunique principalmente através do olhar. Andy Serkis que empresta seus movimentos para construção em computador do macaco Caesar impressiona a todo momento. Desde sua impressionante performance como Sméagol/Gollum em O Senhor dos Anéis, o ator parece estar se especializando nesse tipo de personagem. Caesar não é apenas expressivo, ele realmente fala com os olhos, nos cativando em sua dor. Ele é o protagonista do filme, é por ele que torcemos, nos identificamos e compreendemos. James Franco é apenas um coadjuvante, que não consegue sustentar a mesma emoção. Destaque ainda para John Lithgow, ótimo como o pai doente, e para a participação de Tom Felton com os mesmo trejeitos de Draco Malfoy.
A direção de Rupert Wyatt é bastante feliz, principalmente por dar tanto destaque ao olhar, janela da alma, em vários movimentos em zooms que buscam a retina dos primatas como se procurassem pistas. Há alguns momentos de passagem bem inspirados, como quando Caesar sobe em uma árvore e a cada galho há uma elipse indicando que passou um certo tempo através das estações do ano. É interessante observar também que Wyatt praticamente ressuscitou o efeito de fusão, ao utilizá-lo de forma bastante significativa, como na passagem de noite para dia, por exemplo, ou na ligação entre macaco e cientista. O uso do plongée, a câmera de cima para baixo, que indica superioridade também é usada de uma forma a mudar o ponto de vista de quem é que está por cima na disputa homem vs macaco. No início do filme, os macacos são vistos de cima, depois são os humanos que são vistos assim.
As referências à saga original também são inúmeras. Em um momento, vemos Caesar brincando com uma miniatura da Estátua da Liberdade, impossível não lembrar da emblemática cena final de Charlton Heston no mar. Uma das macacas da jaula se chama Cornélia, em uma referência ao Dr. Cornelius do filme de 68. Quando está preso, Caesar recebe um jato de água como castigo por sua rebeldia, da mesma forma que o personagem de Charlton Heston foi punido em O Planeta dos Macacos. E claro, há um link sutil, mas essencial para que a trama possa ser continuada, basta prestar atenção na televisão e na capa do jornal.
Ainda que a inteligência dos macacos venha através de uma fórmula quase mágica, há coerência em O Planeta dos Macacos: A Origem. As situações vão se sucedendo de uma maneira bastante crível. E fica a certeza de que a humanidade ainda precisa aprender muito sobre convivência, respeito e preservação da espécie para ser digna de um futuro. Mesmo que não tenhamos mais a ameaça de uma guerra iminente, ainda somos capazes de nos destruir. E nossos sucessores na cadeia evolutiva estão preparados para assumir o planeta. Ou não.
O Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes: 2011 /EUA)
Direção: Rupert Wyatt
Roteiro: Rick Jaffa e Amanda Silver
Com: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, Tyler Labine, John Lithgow, Brian Cox, Tom Felton.
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Planeta dos Macacos: A Origem
2011-08-25T08:15:00-03:00
Amanda Aouad
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