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Meu País
Meu País
Meu País, meus problemas. Esse deveria ser o título do filme de André Ristum. É impressionante como o Brasil representa todos os problemas possíveis para o personagem de Rodrigo Santoro, sendo mais uma metáfora de um estado de espírito que propriamente um local. De uma maneira sutil e sensível, o diretor e os roteiristas Marco Dutra e Octávio Scopelliti passam por problemas familiares, crises econômicas mundiais e preconceitos de todos os tipos.
Marcos vive há muito tempo na Itália. Tem um casamento estável, um emprego de destaque e uma vida tranquila. Tudo muda quando recebe uma ligação do seu irmão mais novo, pedindo que retorne ao Brasil, pois seu pai acaba de falecer. Vindo, à primeira vista, apenas para o enterro, Marcos encontra um irmão irresponsável, uma empresa familiar a beira da falência e ainda descobre uma irmã doente mental que tem que ser assumida por alguém da família. Como se não bastasse, sua esposa, percebe que o relacionamento não é tão perfeito quanto aparentava. Como voltar à Itália e esquecer tudo isso?
O roteiro consegue nos conduzir nesse drama familiar sem cair no sentimentalismo barato. Lembra muito a estrutura dos filmes argentinos, que tratam do cotidiano de uma forma universal, com delicadeza. Marcos é esse ser com uma sensação eterna de estranhamento, que perdeu a noção de pertencimento de algum lugar. Vive em um país estrangeiro, seu passaporte é italiano, trata o irmão quase como um estranho e nem mesmo o cachorro da família parece reconhecê-lo. Ao mesmo tempo, ele é tocado pela saudade do passado, pelas fotos e recordações. Pela medalhinha que a mãe deu e seu irmão já perdeu, pela irmã estranha que precisa dele. É um ser em combustão, que esconde muito do que sente. A melhor cena do filme é um close dele tendo ao fundo uma música infantil que não detalho mais para não perder a surpresa. Ali, ele consegue passar a essência do personagem, até mesmo o que iremos apenas supor nas entrelinhas de algumas falas e que não precisam ser explicadas.
Rodrigo Santoro é o nome do filme, não por acaso levou o prêmio de melhor ator em Brasília. Ele interpreta Marcos com uma sensibilidade ímpar, capaz de passar emoção e contenção ao mesmo tempo. Mas, seus companheiros de cena não deixam por menos. Paulo José, mesmo com uma participação mínima, consegue impressionar em cena. Uma aula de interpretação. Cauã Reymond está bem como o irmão mais novo, Tiago, tendo uma interpretação bem dosada de um riquinho mimado que não está nem aí para vida, apesar de o roteiro estereotipar um pouco seu personagem, como em cenas de farras com champanhe ou cocaína. Além, claro, do vício no jogo. Já Débora Falabela tem o personagem mais difícil e fácil de cair em caricatura. Mas, consegue passar a deficiência de Manoela com delicadeza, até porque esta não é muito definida, apenas que tem um retardamento, a idade mental de uma criança. Uma cena com uma criança de verdade demonstra que ela está no mesmo tom.
A direção do estreante em longametragens André Ristum é bem realizada, dando o ritmo necessário para o filme. Ele não se alonga nas cenas, para não deixar cair o ritmo e as conduz com delicadeza, principalmente as do encontro de Marcos com Manoela. A cena do café da manhã, os textos nas entrelinhas, a forma como mostra a reação de cada um. Outro destaque é a cena do carro e o retrovisor mostrando a clínica. Na cena seguinte não precisa dizer muito para entender o que aconteceu. Isso é uma coisa boa em Meu País, não há didatismo, nem cenas desnecessárias, tudo se encaixa de forma natural. Isso sem falar das pistas em imagens como uma tal praia que parece importante para todos.
Meu País é um filme sensível, bem conduzido, que demonstra que relações familiares nem sempre precisam ser conduzidas pelo viés do melodrama. E não uso aqui o termo de forma pejorativa, é bom deixar claro, mas pelas características do gênero. É um filme sofrido, que nos diz muito sem precisar falar tanto. Um belo representante do que pode ser o cinema brasileiro.
Meu País (Meu País: 2011 /Brasil)
Direção: André Ristum
Roteiro: Marco Dutra, Octávio Scopelliti e André Ristum
Com: Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabela, Paulo José.
Duração: 90 min.
Marcos vive há muito tempo na Itália. Tem um casamento estável, um emprego de destaque e uma vida tranquila. Tudo muda quando recebe uma ligação do seu irmão mais novo, pedindo que retorne ao Brasil, pois seu pai acaba de falecer. Vindo, à primeira vista, apenas para o enterro, Marcos encontra um irmão irresponsável, uma empresa familiar a beira da falência e ainda descobre uma irmã doente mental que tem que ser assumida por alguém da família. Como se não bastasse, sua esposa, percebe que o relacionamento não é tão perfeito quanto aparentava. Como voltar à Itália e esquecer tudo isso?
O roteiro consegue nos conduzir nesse drama familiar sem cair no sentimentalismo barato. Lembra muito a estrutura dos filmes argentinos, que tratam do cotidiano de uma forma universal, com delicadeza. Marcos é esse ser com uma sensação eterna de estranhamento, que perdeu a noção de pertencimento de algum lugar. Vive em um país estrangeiro, seu passaporte é italiano, trata o irmão quase como um estranho e nem mesmo o cachorro da família parece reconhecê-lo. Ao mesmo tempo, ele é tocado pela saudade do passado, pelas fotos e recordações. Pela medalhinha que a mãe deu e seu irmão já perdeu, pela irmã estranha que precisa dele. É um ser em combustão, que esconde muito do que sente. A melhor cena do filme é um close dele tendo ao fundo uma música infantil que não detalho mais para não perder a surpresa. Ali, ele consegue passar a essência do personagem, até mesmo o que iremos apenas supor nas entrelinhas de algumas falas e que não precisam ser explicadas.
Rodrigo Santoro é o nome do filme, não por acaso levou o prêmio de melhor ator em Brasília. Ele interpreta Marcos com uma sensibilidade ímpar, capaz de passar emoção e contenção ao mesmo tempo. Mas, seus companheiros de cena não deixam por menos. Paulo José, mesmo com uma participação mínima, consegue impressionar em cena. Uma aula de interpretação. Cauã Reymond está bem como o irmão mais novo, Tiago, tendo uma interpretação bem dosada de um riquinho mimado que não está nem aí para vida, apesar de o roteiro estereotipar um pouco seu personagem, como em cenas de farras com champanhe ou cocaína. Além, claro, do vício no jogo. Já Débora Falabela tem o personagem mais difícil e fácil de cair em caricatura. Mas, consegue passar a deficiência de Manoela com delicadeza, até porque esta não é muito definida, apenas que tem um retardamento, a idade mental de uma criança. Uma cena com uma criança de verdade demonstra que ela está no mesmo tom.
A direção do estreante em longametragens André Ristum é bem realizada, dando o ritmo necessário para o filme. Ele não se alonga nas cenas, para não deixar cair o ritmo e as conduz com delicadeza, principalmente as do encontro de Marcos com Manoela. A cena do café da manhã, os textos nas entrelinhas, a forma como mostra a reação de cada um. Outro destaque é a cena do carro e o retrovisor mostrando a clínica. Na cena seguinte não precisa dizer muito para entender o que aconteceu. Isso é uma coisa boa em Meu País, não há didatismo, nem cenas desnecessárias, tudo se encaixa de forma natural. Isso sem falar das pistas em imagens como uma tal praia que parece importante para todos.
Meu País é um filme sensível, bem conduzido, que demonstra que relações familiares nem sempre precisam ser conduzidas pelo viés do melodrama. E não uso aqui o termo de forma pejorativa, é bom deixar claro, mas pelas características do gênero. É um filme sofrido, que nos diz muito sem precisar falar tanto. Um belo representante do que pode ser o cinema brasileiro.
Meu País (Meu País: 2011 /Brasil)
Direção: André Ristum
Roteiro: Marco Dutra, Octávio Scopelliti e André Ristum
Com: Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabela, Paulo José.
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Meu País
2011-10-19T09:26:00-02:00
Amanda Aouad
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