Akira
Antes que o mundo acabe, ou melhor que o mito se transforme com a versão americana, vamos falar aqui de Akira. Um dos mangás, e consequentemente animes, mais cultuados de todos os tempos, a obra de Katsuhiro Otomo vai mesmo ganhar versão live action pela Warner e já deixa muitos fãs preocupados com o resultado. É de se espantar que Hollywood tenha esperado tanto tempo, já que a história tem muitos elementos para atrair todos os públicos mesmo aqueles que não são fãs do estilo japonês.
A trama é ambientada em um mundo pós terceira guerra mundial, em uma Neo Tóquio que se prepara para as Olímpiadas 2020. Mas, o clima não é dos melhores, a cidade está repleta de ataques terroristas e manifestações diversas. No meio disso, encontra-se Kaneda e seu amigo Tetsuo, dois orfãos motoqueiros que vivem em rixas com Os Palhaços, uma gangue rival. Em uma dessas brigas em duas rodas, Tetsuo encontra um garoto especial e se vê no meio de uma experiência científica secreta que envolvem crianças psíquicas e um mito energético chamado Akira. A força desse ser, hoje desaparecido, foi a responsável pela explosão de Tóquio e início da terceira guerra. O governo esconde tais experimentos e acha que agora pode controlá-los, mas Tetsuo irá mostrar que eles estavam errados.
É fácil perceber porque Akira faz tanto sucesso e arrebata tantos fãs até hoje. Uma animação de 1988 que constrói uma mitologia em torno de si com elementos novos e antigos misturados. Afinal, a energia que move o mundo, a origem da vida, o sexto sentido, nada disso é novo. Mas, a forma como os elementos se encaixam no roteiro e a roupagem moderna aproveitando o ainda medo da Guerra Fria e de uma nova bomba sobre o Japão na época dão o embasamento necessário para a trama. É interessante ver ainda que apesar de tudo eles sobreviveram e já estão programando as novas Olimpíadas, símbolo maior de paz entre as nações através do esporte. Isso, no entanto, fica de lado a medida que as manifestações e a conspiração governamental ganham força.
E o melhor de Akira é que todo esse embasamento filosófico que constitui a história vem com uma direção precisa em um ritmo forte de filmes de ação. As cenas de perseguição de moto no início da trama, por exemplo, são uma pintura. Literalmente, já que há o efeito do rastro colorido das máquinas quando elas passam em alta velocidade. Katsuhiro Otomo se preocupa com os detalhes de cada enquadramento, mesmo os mais secundários que enriquecem a cena. Como no trânsito, quando uma criança dentro do carro percebe a movimentação e se assusta. Ou na escola quando o diretor limpa calmamente os óculos enquanto o professor bate na gangue. O estádio Olímpico em construção, cenário da busca por Akira também é rico em detalhes, até os acabamentos da obra estão bem localizados.
E a ação não é o único elemento da trama. A ficção científica com todas as teorias que tornam Akira um mito é bem explorada. Há boas cenas com as três crianças psíquicas, assim como o tratamento de Tetsuo. E o suspense em torno de Akira também é bastante eficiente. Desde a primeira aparição de Takashi no meio da manifestação nas ruas. Há um mistério em torno de sua figura envelhecida. Ele fica sempre na sombra, se esconde, está assustado. É visto de longe como uma criança normal pelos personagens, mas desde o começo o espectador vê sua aparência. O estranhamento se confirma com o grito poderoso que destrói boa parte das coisas ao seu redor. São elementos que nos envolvem e geram curiosidade, criando uma boa cadência na curva dramática da trama.
Como se não bastasse tudo isso, Akira toca em um assunto bastante caro ao ser humano: a amizade. Kaneda e Tetsuo não são simples companheiros de gangue que se vêem envolvidos em uma trama de conspiração com doses sobrenaturais. São antes de tudo amigos em crise. Órfãos com dificuldades de relacionamento, desde o início Kaneda se acostumou ao papel de protetor de Tetsuo. O que no início gerava um sentimento de gratidão, foi se tornando raiva. Tetsuo queria ser reconhecido, ter valor, não viver a sombra de Kaneda. E esse traço de sua personalidade é fundamental para o desenvolvimento do personagem e suas escolhas a medida que seus poderes vão sendo desenvolvidos. Essa boa construção dos personagens, tornando-os únicos para aqueles papéis torna a história mais rica, consistente.
O filme Akira de 1988 não é uma simples adaptação de um mangá famoso. Mesmo porque há muitas diferenças entre as duas obras, principalmente na figura de Akira que aqui se torna algo impalpável. É uma obra bem realizada, consistente, que se fecha em si mesma e apresenta camadas diversas de profundidade na história e na arte gráfica. Uma boa mistura de gêneros, certezas e incertezas do ser humano. Resta saber se Jaume Collet-Serra, diretor escolhido pela Warner para versão de Hollywood, será capaz de traduzir tudo isso em um bom filme.
Akira (Akira: 1988 / Japão)
Direção: Katsuhiro Otomo
Roteiro: Izô Hashimoto e Katsuhiro Otomo
Com: Mitsuo Iwata, Nozomu Sasaki, Mami Koyama, Tarô Ishida
Duração: 124 min.
A trama é ambientada em um mundo pós terceira guerra mundial, em uma Neo Tóquio que se prepara para as Olímpiadas 2020. Mas, o clima não é dos melhores, a cidade está repleta de ataques terroristas e manifestações diversas. No meio disso, encontra-se Kaneda e seu amigo Tetsuo, dois orfãos motoqueiros que vivem em rixas com Os Palhaços, uma gangue rival. Em uma dessas brigas em duas rodas, Tetsuo encontra um garoto especial e se vê no meio de uma experiência científica secreta que envolvem crianças psíquicas e um mito energético chamado Akira. A força desse ser, hoje desaparecido, foi a responsável pela explosão de Tóquio e início da terceira guerra. O governo esconde tais experimentos e acha que agora pode controlá-los, mas Tetsuo irá mostrar que eles estavam errados.
É fácil perceber porque Akira faz tanto sucesso e arrebata tantos fãs até hoje. Uma animação de 1988 que constrói uma mitologia em torno de si com elementos novos e antigos misturados. Afinal, a energia que move o mundo, a origem da vida, o sexto sentido, nada disso é novo. Mas, a forma como os elementos se encaixam no roteiro e a roupagem moderna aproveitando o ainda medo da Guerra Fria e de uma nova bomba sobre o Japão na época dão o embasamento necessário para a trama. É interessante ver ainda que apesar de tudo eles sobreviveram e já estão programando as novas Olimpíadas, símbolo maior de paz entre as nações através do esporte. Isso, no entanto, fica de lado a medida que as manifestações e a conspiração governamental ganham força.
E o melhor de Akira é que todo esse embasamento filosófico que constitui a história vem com uma direção precisa em um ritmo forte de filmes de ação. As cenas de perseguição de moto no início da trama, por exemplo, são uma pintura. Literalmente, já que há o efeito do rastro colorido das máquinas quando elas passam em alta velocidade. Katsuhiro Otomo se preocupa com os detalhes de cada enquadramento, mesmo os mais secundários que enriquecem a cena. Como no trânsito, quando uma criança dentro do carro percebe a movimentação e se assusta. Ou na escola quando o diretor limpa calmamente os óculos enquanto o professor bate na gangue. O estádio Olímpico em construção, cenário da busca por Akira também é rico em detalhes, até os acabamentos da obra estão bem localizados.
E a ação não é o único elemento da trama. A ficção científica com todas as teorias que tornam Akira um mito é bem explorada. Há boas cenas com as três crianças psíquicas, assim como o tratamento de Tetsuo. E o suspense em torno de Akira também é bastante eficiente. Desde a primeira aparição de Takashi no meio da manifestação nas ruas. Há um mistério em torno de sua figura envelhecida. Ele fica sempre na sombra, se esconde, está assustado. É visto de longe como uma criança normal pelos personagens, mas desde o começo o espectador vê sua aparência. O estranhamento se confirma com o grito poderoso que destrói boa parte das coisas ao seu redor. São elementos que nos envolvem e geram curiosidade, criando uma boa cadência na curva dramática da trama.
Como se não bastasse tudo isso, Akira toca em um assunto bastante caro ao ser humano: a amizade. Kaneda e Tetsuo não são simples companheiros de gangue que se vêem envolvidos em uma trama de conspiração com doses sobrenaturais. São antes de tudo amigos em crise. Órfãos com dificuldades de relacionamento, desde o início Kaneda se acostumou ao papel de protetor de Tetsuo. O que no início gerava um sentimento de gratidão, foi se tornando raiva. Tetsuo queria ser reconhecido, ter valor, não viver a sombra de Kaneda. E esse traço de sua personalidade é fundamental para o desenvolvimento do personagem e suas escolhas a medida que seus poderes vão sendo desenvolvidos. Essa boa construção dos personagens, tornando-os únicos para aqueles papéis torna a história mais rica, consistente.
O filme Akira de 1988 não é uma simples adaptação de um mangá famoso. Mesmo porque há muitas diferenças entre as duas obras, principalmente na figura de Akira que aqui se torna algo impalpável. É uma obra bem realizada, consistente, que se fecha em si mesma e apresenta camadas diversas de profundidade na história e na arte gráfica. Uma boa mistura de gêneros, certezas e incertezas do ser humano. Resta saber se Jaume Collet-Serra, diretor escolhido pela Warner para versão de Hollywood, será capaz de traduzir tudo isso em um bom filme.
Akira (Akira: 1988 / Japão)
Direção: Katsuhiro Otomo
Roteiro: Izô Hashimoto e Katsuhiro Otomo
Com: Mitsuo Iwata, Nozomu Sasaki, Mami Koyama, Tarô Ishida
Duração: 124 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Akira
2011-11-08T09:33:00-02:00
Amanda Aouad
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