Reféns
Nicolas Cage tem ótimos filmes e bombas sem tamanho em sua carreira. Pode-se esperar qualquer coisa dele. Mas, fico me perguntando o que leva Nicole Kidman a aceitar participar de um filme que tem o roteiro de Reféns. Podem alegar que filme de ação não precisa de roteiro tão bem elaborado e outras bobagens que já ouvi por aí, mas esse supera qualquer expectativa.
Cage e Kidman são Kyle e Sarah Miller um casal aparentemente normal. Ele, um homem de negócios que vive mais fora de casa que dentro. Ela, uma mulher sempre à espera de uma noite especial. Para completar a família tradicional americana, temos Liana Liberato vivendo a adolescente Avery, superprotegida pela mãe, que só quer crescer e seguir a amiga "barra pesada" em uma festa. Tudo lindo até que bandidos invadem a mansão onde moram e os fazem de reféns. Kyle Miller negocia diamantes e a gangue parece ter certeza de que ele guarda uma fortuna ali dentro. O problema é que as aparências enganam em todas as partes dessa história e as reviravoltas vão tentar nos surpreender, apesar de acabar nos irritando.
O filme começa até bem. Temos a apresentação dos personagens, onde Joel Schumacher chama a nossa atenção para os detalhes que ficam no ar, como um isqueiro na beira da piscina ou a conversa de Cage com um possível sócio. Apesar da forma tola como os bandidos entram na casa, afinal ninguém abriria a porta sem ver o rosto ou documentos de quem entra, a tensão inicial também é boa. A câmera nervosa, com vários cortes nos deixa tensos e prontos para qualquer coisa. Os bandidos, todos de máscara, parecem ter feito bem o seu trabalho. Conhecem as vítimas, detalhes da casa, rotinas da família. Aí começam os problemas.
Primeiro, o roteiro do estreante Karl Gajdusek, além de cheio de furos e bastante clichê, é didático demais. A cada fala dos bandidos explicando o que sabem ou conhecem, vem um flashback explicativo. Até o que já deduzimos com a troca de olhares entre Nicole Kidman e Cam Gigandet é preciso reforçar. Tudo bem que depois terá um sentido, mas até lá, o filme já se perdeu por completo. A história se torna tola e não conseguimos criar empatia com nenhum dos dois lados. A curva dramática parece em uma escalada que vai piorando a cada nova revelação. Tanto nos motivos que levaram os bandidos ali, quanto nos segredos e verdades daquela família.
Claro que, apesar de coisas lamentáveis como Batman e Robin, Joel Schumacher é um diretor com talento. Ninguém faz Um Dia de Fúria ou 8 Milímetros, por exemplo, por pura sorte. Então, há qualidade na condução da história. Desde os planos detalhes criando suspense no início, até cenas ricas em simbolismos como quando Nicole Kidman tem uma faca no pescoço e o quadro abstrato atrás dela parece um corte sangrando. Há boa movimentação também nas cenas que não precisariam do recurso do flashback para nos manter atentos. Pela movimentação das câmeras e montagem, seria o suficiente para toda a projeção. O problema está todo no texto do novato Karl Gajdusek que não dá substância para justificar a trama. Nem nas motivações das ações, muito menos na construção dos personagens que parecem jogados ali sem muito planejamento. Não por acaso, máscaras são tiradas sem motivos, vestidos são experimentados e frases são ditas de uma forma quase leviana.
Diante de motivações tão frágeis fica difícil até exigir interpretação dos atores. Nicole Kidman está perdida nas ações de Sarah Miller, não consegue nos convencer em nenhum momento daquilo que se revela. Mais fácil seria acreditar em certas viagens psicóticas. Além disso, a maior parte do tempo ela só faz gritar. Nicolas Cage continua com sua expressão eterna de choro e os demais personagem parecem ainda mais perdidos naquela situação insólita. Mas, é mesmo difícil defender um texto que tem uma cena longa na cozinha, por exemplo, onde o bandido faz uma tortura psicológica em cima de Kidman exigindo que ela diga uma frase de efeito "eu mereço morrer", e isso não tem nenhuma consequência na história, para o bem ou para o mal. Aliás, a situação nem se justifica, mas é melhor parar antes que solte spoilers.
Reféns é daqueles filmes que a gente fica se perguntando como conseguiu chegar às telas. Ainda mais com uma equipe assim. E pensar que Nicole Kidman fez isso depois de algo como Reencontrando a Felicidade. Mesmo Nicolas Cage poderia escolher algo melhor. Além do próprio Joel Schumacher, que já nos brindou com tantos bons filmes.
Reféns (Trespass: 2011 / EUA)
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Karl Gajdusek
Com: Nicolas Cage, Nicole Kidman, Ben Mendelsohn, Liana Liberato.
Duração: 91 min.
Cage e Kidman são Kyle e Sarah Miller um casal aparentemente normal. Ele, um homem de negócios que vive mais fora de casa que dentro. Ela, uma mulher sempre à espera de uma noite especial. Para completar a família tradicional americana, temos Liana Liberato vivendo a adolescente Avery, superprotegida pela mãe, que só quer crescer e seguir a amiga "barra pesada" em uma festa. Tudo lindo até que bandidos invadem a mansão onde moram e os fazem de reféns. Kyle Miller negocia diamantes e a gangue parece ter certeza de que ele guarda uma fortuna ali dentro. O problema é que as aparências enganam em todas as partes dessa história e as reviravoltas vão tentar nos surpreender, apesar de acabar nos irritando.
O filme começa até bem. Temos a apresentação dos personagens, onde Joel Schumacher chama a nossa atenção para os detalhes que ficam no ar, como um isqueiro na beira da piscina ou a conversa de Cage com um possível sócio. Apesar da forma tola como os bandidos entram na casa, afinal ninguém abriria a porta sem ver o rosto ou documentos de quem entra, a tensão inicial também é boa. A câmera nervosa, com vários cortes nos deixa tensos e prontos para qualquer coisa. Os bandidos, todos de máscara, parecem ter feito bem o seu trabalho. Conhecem as vítimas, detalhes da casa, rotinas da família. Aí começam os problemas.
Primeiro, o roteiro do estreante Karl Gajdusek, além de cheio de furos e bastante clichê, é didático demais. A cada fala dos bandidos explicando o que sabem ou conhecem, vem um flashback explicativo. Até o que já deduzimos com a troca de olhares entre Nicole Kidman e Cam Gigandet é preciso reforçar. Tudo bem que depois terá um sentido, mas até lá, o filme já se perdeu por completo. A história se torna tola e não conseguimos criar empatia com nenhum dos dois lados. A curva dramática parece em uma escalada que vai piorando a cada nova revelação. Tanto nos motivos que levaram os bandidos ali, quanto nos segredos e verdades daquela família.
Claro que, apesar de coisas lamentáveis como Batman e Robin, Joel Schumacher é um diretor com talento. Ninguém faz Um Dia de Fúria ou 8 Milímetros, por exemplo, por pura sorte. Então, há qualidade na condução da história. Desde os planos detalhes criando suspense no início, até cenas ricas em simbolismos como quando Nicole Kidman tem uma faca no pescoço e o quadro abstrato atrás dela parece um corte sangrando. Há boa movimentação também nas cenas que não precisariam do recurso do flashback para nos manter atentos. Pela movimentação das câmeras e montagem, seria o suficiente para toda a projeção. O problema está todo no texto do novato Karl Gajdusek que não dá substância para justificar a trama. Nem nas motivações das ações, muito menos na construção dos personagens que parecem jogados ali sem muito planejamento. Não por acaso, máscaras são tiradas sem motivos, vestidos são experimentados e frases são ditas de uma forma quase leviana.
Diante de motivações tão frágeis fica difícil até exigir interpretação dos atores. Nicole Kidman está perdida nas ações de Sarah Miller, não consegue nos convencer em nenhum momento daquilo que se revela. Mais fácil seria acreditar em certas viagens psicóticas. Além disso, a maior parte do tempo ela só faz gritar. Nicolas Cage continua com sua expressão eterna de choro e os demais personagem parecem ainda mais perdidos naquela situação insólita. Mas, é mesmo difícil defender um texto que tem uma cena longa na cozinha, por exemplo, onde o bandido faz uma tortura psicológica em cima de Kidman exigindo que ela diga uma frase de efeito "eu mereço morrer", e isso não tem nenhuma consequência na história, para o bem ou para o mal. Aliás, a situação nem se justifica, mas é melhor parar antes que solte spoilers.
Reféns é daqueles filmes que a gente fica se perguntando como conseguiu chegar às telas. Ainda mais com uma equipe assim. E pensar que Nicole Kidman fez isso depois de algo como Reencontrando a Felicidade. Mesmo Nicolas Cage poderia escolher algo melhor. Além do próprio Joel Schumacher, que já nos brindou com tantos bons filmes.
Reféns (Trespass: 2011 / EUA)
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Karl Gajdusek
Com: Nicolas Cage, Nicole Kidman, Ben Mendelsohn, Liana Liberato.
Duração: 91 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Reféns
2011-11-15T10:33:00-02:00
Amanda Aouad
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