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2 Coelhos
2 Coelhos
O estreante Afonso Poyart conseguiu, com 3,5 milhões, criatividade e força de vontade, trazer às telas de cinema o filme nacional mais inovador em termos de linguagem desde Cidade de Deus. Não estou dizendo aqui que esse seja o melhor filme brasileiro dos últimos tempos, é bom deixar claro. Mas, sem dúvidas, chama a atenção o bom roteiro, a construção estética e todas as misturas feitas pelo cineasta que também assina o roteiro e a produção, além de participar da montagem de 2 Coelhos.
Aqui conhecemos Edgar, interpretado por Fernando Alves Pinto, um rapaz sarcástico e observador que nos narra a história em primeira pessoa, nos conduzindo em um plano elaborado por ele para algo que não sabemos bem do que se trata. A linguagem didática irônica lembra muito Ilha das Flores de Jorge Furtado. E é necessária, pois o roteiro não nos dá muitas pistas do que está acontecendo. É preciso entrar no jogo. Edgar nos apresenta bandidos de diversos níveis, políticos corruptos, um casal de advogado e promotora, mas sem muitas explicações sobre seu plano. Não há uma idéia exata de onde tudo isso irá parar e somos surpreendidos por diversas reviravoltas na trama.
E para nos surpreender, Poyart se utiliza de todos os recursos possíveis, desde um roteiro não-linear, que nos revela coisas do passado no futuro, até efeitos especiais diversos para simular pensamentos, sonhos, alucinações ou realidade. É mesmo um show de pirotecnia. Tem até uma referência bastante próxima a Sucker Punch nos momentos de pânico da personagem de Alessandra Negrini, efeitos tirados de O Passageiro do Futuro e diversas outras referências e inspirações de filmes de ação em geral.
E o melhor de tudo, 2 Coelhos consegue êxito em todos os quesitos. O filme é bastante feliz em sua condução ágil, envolvendo os espectadores naquela trama pouco explicada, mas bastante instigante. Afinal, o que pretende Edgar com tudo aquilo? Quem são seus aliados e seus inimigos? O que seu pai tem a ver com aquela história? E o personagem de Caco Ciocler, o professor arrasado que trabalha agora para seu pai? Ele parece tão deslocado de tudo aquilo e, de repente vamos sendo surpreendidos. Isso é que o filme de Afonso Poyart mais produz na gente: um efeito de constante surpresa. E isso é muito bom.
A trilha sonora também merece seu destaque. André Abujamra constrói momentos empolgantes, mesmo quando faz uma piadinha infame com o hit "Sou foda", do grupo Avassaladores. O som só é ponto negativo no início do filme, algum problema de mixagem torna a música muito alta e a voz de Fernando Alves Pinto quase inaudível, mas isso é consertado mais à frente, tornando todo o desenho de som harmônico e envolvente.
O elenco também tem seus méritos, ao contrário de Nosso Lar, aqui Fernando Alves Pinto nos convence com seu personagem enigmático. Assim como Alessandra Negrini e Caco Ciocler nas diversas facetas de seus personagens. Marat Descartes é outro destaque como o bandido Maicon que beira o caricato, mas o personagem pedia algo assim. Faz parte do jogo que Afonso Poyart cria, assim como o deputado corrupto vivido por Roberto Marchese. Ambos conseguem criar no estereótipo de forma interessante. Destaque ainda para Thogun que dosa bem o tom de comédia de seu personagem Bolinha. Isso sem falar na forma como Poyart conduz a construção dos personagens, apresentação e referências, que, pra começar, tem uma bela sacada na eleição do personagem de Zacarias.
Aliás, 2 Coelhos está repleto de referências estéticas ou diretas a diversos problemas do nosso país. É um filme crítico, ainda que aparente superficialidade em um jogo de culpa, redenção e egoísmo. Possui diversas camadas e é feito, antes de tudo, para entreter. Mas, com inteligência. Afonso Poyart chega em boa hora, com um filme maduro que marca mais uma vez a história do cinema brasileiro. Conseguimos, enfim, fazer um bom filme de ação, com pitadas de suspense e, claro, romance.
2 Coelhos (2 Coelhos: 2012 / Brasil)
Direção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart
Com: Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Aldine Muller, Marat Descartes, Roberto Marchese, Thaíde, Thogun.
Duração: 108 min.
Aqui conhecemos Edgar, interpretado por Fernando Alves Pinto, um rapaz sarcástico e observador que nos narra a história em primeira pessoa, nos conduzindo em um plano elaborado por ele para algo que não sabemos bem do que se trata. A linguagem didática irônica lembra muito Ilha das Flores de Jorge Furtado. E é necessária, pois o roteiro não nos dá muitas pistas do que está acontecendo. É preciso entrar no jogo. Edgar nos apresenta bandidos de diversos níveis, políticos corruptos, um casal de advogado e promotora, mas sem muitas explicações sobre seu plano. Não há uma idéia exata de onde tudo isso irá parar e somos surpreendidos por diversas reviravoltas na trama.
E para nos surpreender, Poyart se utiliza de todos os recursos possíveis, desde um roteiro não-linear, que nos revela coisas do passado no futuro, até efeitos especiais diversos para simular pensamentos, sonhos, alucinações ou realidade. É mesmo um show de pirotecnia. Tem até uma referência bastante próxima a Sucker Punch nos momentos de pânico da personagem de Alessandra Negrini, efeitos tirados de O Passageiro do Futuro e diversas outras referências e inspirações de filmes de ação em geral.
E o melhor de tudo, 2 Coelhos consegue êxito em todos os quesitos. O filme é bastante feliz em sua condução ágil, envolvendo os espectadores naquela trama pouco explicada, mas bastante instigante. Afinal, o que pretende Edgar com tudo aquilo? Quem são seus aliados e seus inimigos? O que seu pai tem a ver com aquela história? E o personagem de Caco Ciocler, o professor arrasado que trabalha agora para seu pai? Ele parece tão deslocado de tudo aquilo e, de repente vamos sendo surpreendidos. Isso é que o filme de Afonso Poyart mais produz na gente: um efeito de constante surpresa. E isso é muito bom.
A trilha sonora também merece seu destaque. André Abujamra constrói momentos empolgantes, mesmo quando faz uma piadinha infame com o hit "Sou foda", do grupo Avassaladores. O som só é ponto negativo no início do filme, algum problema de mixagem torna a música muito alta e a voz de Fernando Alves Pinto quase inaudível, mas isso é consertado mais à frente, tornando todo o desenho de som harmônico e envolvente.
O elenco também tem seus méritos, ao contrário de Nosso Lar, aqui Fernando Alves Pinto nos convence com seu personagem enigmático. Assim como Alessandra Negrini e Caco Ciocler nas diversas facetas de seus personagens. Marat Descartes é outro destaque como o bandido Maicon que beira o caricato, mas o personagem pedia algo assim. Faz parte do jogo que Afonso Poyart cria, assim como o deputado corrupto vivido por Roberto Marchese. Ambos conseguem criar no estereótipo de forma interessante. Destaque ainda para Thogun que dosa bem o tom de comédia de seu personagem Bolinha. Isso sem falar na forma como Poyart conduz a construção dos personagens, apresentação e referências, que, pra começar, tem uma bela sacada na eleição do personagem de Zacarias.
Aliás, 2 Coelhos está repleto de referências estéticas ou diretas a diversos problemas do nosso país. É um filme crítico, ainda que aparente superficialidade em um jogo de culpa, redenção e egoísmo. Possui diversas camadas e é feito, antes de tudo, para entreter. Mas, com inteligência. Afonso Poyart chega em boa hora, com um filme maduro que marca mais uma vez a história do cinema brasileiro. Conseguimos, enfim, fazer um bom filme de ação, com pitadas de suspense e, claro, romance.
2 Coelhos (2 Coelhos: 2012 / Brasil)
Direção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart
Com: Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Aldine Muller, Marat Descartes, Roberto Marchese, Thaíde, Thogun.
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
2 Coelhos
2012-01-20T08:30:00-02:00
Amanda Aouad
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