O homem que mudou o jogo
Albert Einstein já dizia que "Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes". Foi assim que deve ter pensando também Billy Beane. Se ele tinha um time pequeno com pouco dinheiro para gerir, porque fazer o mesmo que já vinha sendo feito há anos sem bons resultados? As vezes só é necessário um pouco de coragem para ousar, e ele fez, mudando de vez o jogo.
Moneyball, filme de Bennett Miller, que ganhou no Brasil um título que conta quase tudo, é sobre esse homem corajoso que ousou mexer no mundo milionário e tradicional do baseball norte-americano. Para quem gosta do esporte e acompanhou a realidade, deve ser mesmo um deleite. Para nós, pobres mortais do resto do mundo não deixa de ser interessante. Por que O Homem que Mudou o Jogo não é apenas sobre Billy Beane, o baseball, suas regras e negociações financeiras. É sobre decisões de vida, segundas chances, oportunidades de arriscar e mudanças de atitude diante de uma rotina secular.
Boa parte da trama é centrada em Brad Pitt que interpreta o protagonista Billy Beane com competência, apesar de não ser a melhor interpretação do ano. Estamos com ele quase todo o tempo, longe dos estádios, acompanhando os resultados pela televisão, rádio ou estatísticas no computador. Só desgrudamos de sua visão quando há inserções de reportagens e clipes de partidas que nos dão o clima exato do que seja aquela paixão. Essas imagens dão quase uma idéia de documentário, o que não deixa de ser interessante e curioso, afinal, é mesmo uma história verídica.
É interessante como o baseball nunca conquistou de vez o brasileiro, enquanto é uma paixão nacional nos Estados Unidos. É raro aqui ver um taco, uma bola ou uma luva do esporte, enquanto que cada jovem americano tem pelo menos um. Ainda assim, o roteiro de Steven Zaillian e Aaron Sorkin não nos deixa perdidos diante dos acontecimentos. É possível acompanhar as estratégias de troca de jogadores, os resultados das partidas, a tensão diante de cada derrota, a noção do quão ousado o protagonista está sendo em ir de encontro a tudo e todos. O roteiro só falha em querer humanizá-lo demais associando sua história na juventude e escolha profissional com aquele momento. Acaba ficando piegas como se fosse necessário esse artifício para nos aproximarmos do personagem e comprar sua briga. Para isso já tínhamos a filha e a boa dinâmica de cobranças a cada resultado e nova aposta.
Bennett Miller, no entanto, é hábil ao construir suas escolhas. Há planos muito fechados para contrastar com os abertos no campo, por exemplo, aproximando o espectador da história que acontece nos bastidores. Há também ótimos momentos nos corredores quando ele coloca Brad Pitt andando em planos mais abertos, dando uma sensação de diminuição dele diante da grandiosidade daquilo tudo, uma boa metáfora da guerra que está enfrentando. Isso sem falar no ritmo que imprime às decisões a partir do corte rápido de câmera, como na reunião para definição dos jogadores a serem comprados.
Mas, ainda que tenha alguns deslizes, o roteiro constrói bem a trajetória de coragem de Bennett Miller, desde o encontro com Peter Brand, o economista vivido por Jonah Hill que irá dar a idéia das estatísticas de jogo, passando pelo embate com os olheiros do Oakland Athletics, até a guerra com o técnico Art Howe, interpretado por Philip Seymour Hoffman que parece estar apenas cumprindo tabela em um personagem tão pequeno. Desenvolve bem ainda a tensão com a família, os jogos, o campeonato, o mundo do baseball em si. Tudo é construído com harmonia. É fácil de acompanhar, de seguir, de torcer pelo personagem. Já as atuações estão todas boas, corretas, mas, apesar das indicações ao Oscar, não impressionam tanto.
O Homem que Mudou o Jogo se resume, então, a um bom filme. Bem realizado, coerente, mas longe de ser uma obra-prima. Sua principal força, além de falar da paixão americana, é trazer uma história envolvente de coragem para mudar o estabelecido.
O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball: 2012 / EUA)
Direção: Bennett Miller
Roteiro: Steven Zaillian, Aaron Sorkin
Com: Brad Pitt, Robin Wright, Philip Seymour Hoffman, Jonah Hill.
Duração: 133 min.
Moneyball, filme de Bennett Miller, que ganhou no Brasil um título que conta quase tudo, é sobre esse homem corajoso que ousou mexer no mundo milionário e tradicional do baseball norte-americano. Para quem gosta do esporte e acompanhou a realidade, deve ser mesmo um deleite. Para nós, pobres mortais do resto do mundo não deixa de ser interessante. Por que O Homem que Mudou o Jogo não é apenas sobre Billy Beane, o baseball, suas regras e negociações financeiras. É sobre decisões de vida, segundas chances, oportunidades de arriscar e mudanças de atitude diante de uma rotina secular.
Boa parte da trama é centrada em Brad Pitt que interpreta o protagonista Billy Beane com competência, apesar de não ser a melhor interpretação do ano. Estamos com ele quase todo o tempo, longe dos estádios, acompanhando os resultados pela televisão, rádio ou estatísticas no computador. Só desgrudamos de sua visão quando há inserções de reportagens e clipes de partidas que nos dão o clima exato do que seja aquela paixão. Essas imagens dão quase uma idéia de documentário, o que não deixa de ser interessante e curioso, afinal, é mesmo uma história verídica.
É interessante como o baseball nunca conquistou de vez o brasileiro, enquanto é uma paixão nacional nos Estados Unidos. É raro aqui ver um taco, uma bola ou uma luva do esporte, enquanto que cada jovem americano tem pelo menos um. Ainda assim, o roteiro de Steven Zaillian e Aaron Sorkin não nos deixa perdidos diante dos acontecimentos. É possível acompanhar as estratégias de troca de jogadores, os resultados das partidas, a tensão diante de cada derrota, a noção do quão ousado o protagonista está sendo em ir de encontro a tudo e todos. O roteiro só falha em querer humanizá-lo demais associando sua história na juventude e escolha profissional com aquele momento. Acaba ficando piegas como se fosse necessário esse artifício para nos aproximarmos do personagem e comprar sua briga. Para isso já tínhamos a filha e a boa dinâmica de cobranças a cada resultado e nova aposta.
Bennett Miller, no entanto, é hábil ao construir suas escolhas. Há planos muito fechados para contrastar com os abertos no campo, por exemplo, aproximando o espectador da história que acontece nos bastidores. Há também ótimos momentos nos corredores quando ele coloca Brad Pitt andando em planos mais abertos, dando uma sensação de diminuição dele diante da grandiosidade daquilo tudo, uma boa metáfora da guerra que está enfrentando. Isso sem falar no ritmo que imprime às decisões a partir do corte rápido de câmera, como na reunião para definição dos jogadores a serem comprados.
Mas, ainda que tenha alguns deslizes, o roteiro constrói bem a trajetória de coragem de Bennett Miller, desde o encontro com Peter Brand, o economista vivido por Jonah Hill que irá dar a idéia das estatísticas de jogo, passando pelo embate com os olheiros do Oakland Athletics, até a guerra com o técnico Art Howe, interpretado por Philip Seymour Hoffman que parece estar apenas cumprindo tabela em um personagem tão pequeno. Desenvolve bem ainda a tensão com a família, os jogos, o campeonato, o mundo do baseball em si. Tudo é construído com harmonia. É fácil de acompanhar, de seguir, de torcer pelo personagem. Já as atuações estão todas boas, corretas, mas, apesar das indicações ao Oscar, não impressionam tanto.
O Homem que Mudou o Jogo se resume, então, a um bom filme. Bem realizado, coerente, mas longe de ser uma obra-prima. Sua principal força, além de falar da paixão americana, é trazer uma história envolvente de coragem para mudar o estabelecido.
O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball: 2012 / EUA)
Direção: Bennett Miller
Roteiro: Steven Zaillian, Aaron Sorkin
Com: Brad Pitt, Robin Wright, Philip Seymour Hoffman, Jonah Hill.
Duração: 133 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O homem que mudou o jogo
2012-02-19T08:39:00-02:00
Amanda Aouad
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