Mas, dos oito candidatos que já estrearam no Brasil (Tão forte e Tão perto chegará no soar do gongo dia 24/02) há dois candidatos que se tornaram praticamente absolutos na preferência dos apostadores e desta que vos fala. Apesar de ter ficado muito bem impressionada com A Árvore da Vida, uma verdadeira experiência estética que levanta questionamentos existenciais básicos de todos nós como "quem somos, de onde viemos e para onde vamos", tenho que me render a duas obras tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Duas obras que homenageiam o cinema em sua essência e sua origem: O Artista e A Invenção de Hugo Cabret. É impressionante o caminho que os dois percorrem. E é bastante significativo que eles sejam Francês e Americano em sua eterna disputa da verdadeira criação do cinema.
Mais impressionante ainda é perceber que o filme francês é quem enaltece a indústria de Holywood, enquanto que o filme americano resgata a genialidade e pioneirismo dos franceses na sétima arte. Aliás, chama a atenção o fato de Scorsese não introduzir em nenhum momento Thomas Edison em sua aula de história do cinema. Para quem não ligou o nome a pessoa, foi Edison quem primeiro criou uma máquina para captar imagens em movimento. Até hoje os americanos brigam que foi ele o pai do cinema e não os Lumière, apesar de terem sido os irmãos franceses os primeiros a fazer uma exibição pública de uma projeção em uma sala cinematográfica.
Em A Invenção de Hugo Cabret, Scorsese prefere enaltecer o pioneirismo francês, esquecendo completamente o cinema norte-americano. Ele nos mostra não apenas o invento dos Lumière, mas principalmente o homem que tornou o invento uma possibilidade de arte: Georges Méliès. Inspirado na obra desse incrível cineasta, Hugo nos conduz aos primórdios do cinema, a arte de contar histórias e ao entretenimento. Demonstrando que a França, e consequentemente a Europa, também já foi símbolo de cinema de entretenimento e que tudo se modificou com a Guerra. Aí que vieram as teorias de autor, o cinema de arte, os movimentos vanguardistas. Mas, a conclusão no final é de que o cinema é um espaço de expressão artística e que precisamos valorizar o passado.
Em contrapartida, o francês Michel Hazanavicius retorna aos primórdios do cinema norte-americano, já industrializado, mas ainda mudo, para nos mostrar que americano também pode fazer filme de arte. Ou seja que Holywood também pode se preocupar com um filme, considerando-o mais do que um entretenimento fácil. Na visão de George Valentin, ele é um artista e os filmes são espaço de expressão, não apenas modismo para atrair o público. No final, ele chega a conclusão de que o cinema é um entretenimento que busca o público e que precisa se utilizar das novas tecnologias para inovar e recriar suas possibilidades.
Na realidade, Hugo e O Artista se complementam, analisam, mostram, representam as duas faces do cinema: sua capacidade artística e sua função de entretenimento em camadas e lógicas diversas. É incrível o quão belos ambos podem ser, principalmente por terem dois diretores que sabem explorar bem a linguagem cinematográfica nos entregando duas grandes obras de arte que entretém. Por isso são emocionantes, por isso, entram desde já para a história do cinema. E por isso, são meus favoritos para a noite do dia 26 de fevereiro. Só resta saber se a Academia concordará com isso.
Como disse, Terrence Malick conseguiu construir uma experiência estética ímpar com seu filme. Um deleite para os olhos e para a mente. O filme traz um homem em um momento de questionamento da vida. O personagem de Sean Penn é o verdadeiro maestro das questões da humanidade ao rever seus valores, suas origens, a origem do universo, da raça humana. Ao questionar a existência de Deus e a verdadeira fé e espiritualidade. É forte, é belo, é profundo, pena que muitos não o entenderam.
Meia-Noite em Paris
Woody Allen retornou ao seu tom irônico para nos conduzir em uma viagem fantástica pelo passado, questionando os valores dos intelectuais, inclusive dele próprio, que acham que perderam o melhor da festa nascendo na década errada. É uma delícia acompanhar o personagem de Owen Wilson contracenando com o passado e redescobrindo o valor do presente. Todas as piadas com os artistas, suas obras e seus temperamentos são um plus para essa divertida história.
Os Descendentes
Talvez o filme mais simples de todos, Alexander Payne nos envolve e emociona com quase nada. O resgate dos valores familiares, as dúvidas e decisões do personagem de George Clooney, a situação do Havaí, tudo vai nos sendo contado e demonstrado com muito talento e arte.
Tão Forte e Tão Perto
A busca do pequeno Oskar pelo que ele chama de retardamento dos seus oito minutos com o pai, falecido no desastre de 11 de setembro, é mesmo emocionante. Exagera em alguns pontos, é verdade, mas consegue nos envolver naquela busca quase insana, na dor da tragédia e na situação dos familiares que cercam o garoto. Ainda tem como plus, a incrível interpretação de Max Von Sydow, uma boa atuação de Sandra Bullock e participações especiais como Tom Hanks e Viola Davis.
Histórias Cruzadas
Apesar do tom piegas, do excesso de drama e de alguns estereótipos e clichês tabus, esse é o tipo de filme que sempre irá arrebatar multidões. Porque ele fala de assuntos necessários e ainda existentes. É competente em nos envolver e emocionar com o drama de mulheres que eram vistas quase como não-humanas. E as interpretações ajudam nessa identificação e lógica. Destaque para Viola Davis em uma interpretação emocionante.
O Homem que Mudou o Jogo
Um bom filme, sem dúvidas, que apesar de utilizar o baseball, esporte pouco conhecido dos brasileiros, fala acima de tudo de coragem e decisões de vida. É correto em sua condução e convence, apesar de não ser algo que empolga. Brad Pitt está indicado para melhor ator, e é muito válido, mas já o vi em momentos melhores.
Cavalo de Guerra
O mais polêmico da lista em minha visão. Spielberg quis emocionar a todo custo e acabou construindo um filme aquém do seu talento. Tudo soa exagerado, a trilha, a bela fotografia, a superação do cavalo, a perseverança do garoto, a primeira guerra mundial. Não me convenceu, preferia ver Tudo Pelo Poder em seu lugar nessa lista.