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Entrevista: Walter Carvalho sobre Raul, o início, o fim e o meio

Raul Seixas - Walter CarvalhoWalter Carvalho, ícone da fotografia cinematográfica no país, estreia seu sexto filme como diretor. O documentário Raul, o início, o fim e o meio, já ganhou prêmios no Festival de São Paulo e chega aos cinemas brasileiros no dia 23 de março. Englobando toda a carreira do cantor Raul Seixas e procurando conhecer o homem por trás do mito, o filme tem agradado por onde tem passado. Semana passada, a equipe esteve em Salvador para a primeira pré-estreia pública. Estiveram presentes em solo baiano, o produtor Denis Feijão, idealizador do projeto, Vivian Seixas, a filha do cantor, e o diretor Walter Carvalho, com quem tivemos a honra de conversar.

Antes da sessão, o produtor Denis Feijão agradeceu a presença de todos, a equipe e os patrocinadores, a distribuidora Paramount e a UCI Orient pela pré-estreia. Segundo ele, estava feliz por inciar a carreira do filme em Salvador, terra de Raul, e que agora, ele era do público. Falou ainda da importância do artista, do seu talento, de seu pioneirismo, definindo-o como pai do rock. A sensação ao sair da sessão era que as pessoas estavam mesmo felizes com o resultado. Levei parte de meus alunos para a sessão e todos elogiaram bastante, dando a dimensão de que Carvalho conseguiu atingir seu público.

Abaixo, o bate-papo com o diretor.

Raul Seixas - Walter Carvalho
Vivian Seixas e Walter Carvalho
Como você definiria o filme Raul, o início, o fim e o meio?
Acho que Raul, o início, o fim e o meio significa que Raul Seixas virou filme. Ele já tinha sido de tudo, agora é um filme. O mito virou filme.

Qual foi a maior dificuldade encontrada para fazer o filme?
A dificuldade, como a maioria dos filmes brasileiros, sobretudo os documentários, é produção. Você conseguir recursos, patrocínio para produzir um documentário. A tendência é sempre preferir a ficção, documentário é mais delicado, você trata com a realidade, a realidade sempre assusta. No resto, não, eu tive com o meu produtor Denis Feijão, as minhas exigências e solicitações atendidas. Eu dirigi o filme com bastante tranquilidade.

E a pesquisa, como foi o processo?
Todo o material do Raul que estava na internet, eu evitei. Porque já era conhecido. Isso talvez tenha sido a maior dificuldade. Porque muita coisa tinha ido parar na internet. Eu consegui algumas coisas inéditas que estão no filme, toda aquela parte de show no Canecão na parte final é inédita. Eu fiz apelos em vários programas de televisão solicitando às pessoas que tivessem material inédito para nos procurar.

A ideia era trazer mesmo o novo, curiosidades?
É, porque o que acontece, o período que o Raul apareceu e fez sucesso nacional, que é a partir de 72 com a música Let me sing no Festival Internacional da canção, é um período de restrição. É o período Médici (Emílio Garrastazu Médici, conhecido como um dos presidentes mais linha dura, da ditadura militar brasileira). Então, você não tinha a facilidade que você tem hoje de gravar com celular, câmeras caseiras. Os registros eram mais raros. E o que tem, está na internet. Eu tive que correr atrás do que tinha de inédito.

Raul Seixas - Walter Carvalho
Carlos Eládio, Sylvio Passos, Vivian Seixas e Walter Carvalho
E nessa pesquisa, o que mais te chamou a atenção? Tinha curiosidades que você não conhecia da vida dele? Algum fato surpreendente?
Tem uma coisa que me chama muito a atenção, que é uma sacação muito perpiscaz do Raul, que pode ter sido até mesmo intuitivo, mas é um fato que não tem como escapar. O Raul, apaixonado por Elvis Presley desde pequeno, mistura o rock com o xaxado, com o baião. Ele mistura Elvis Presley, com Luis Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Essa sacação acho que é o legado do Raul.

E como é o Walter Carvalho diretor? Você ainda se pega pensando na fotografia do filme?
Olha só, eu sou um fotógrafo que dirige. Sou um diretor de fotografia que dirige e nunca deixarei de ser fotógrafo, sempre vou continuar fotografando. Mas, também não vou deixar de dirigir, porque eu gosto, me sinto a vontade. Dirigi a fotografia de muitos filmes importantes e isso me deu uma estrada imensa para perder o medo. Não é que eu tenha experiência, isso não existe. Experiência é um farol ligado para trás. A quantidade de filmes que eu fiz como fotógrafo me levaram a perder o medo de dirigir. Ainda mais depois dos cinquenta, onde todo salto é mortal. Mas, por exemplo, dia 30 de março está estreando no Brasil, Heleno, que foi um filme que eu fotografei. Então, eu lanço um filme como diretor no dia 23 e no dia 30 como fotógrafo.

Trabalhar com o seu filho é mais fácil ou difícil?
Muito mais fácil. A gente se entende muito bem. O Lula (Carvalho, diretor de fotografia) durante muito tempo foi meu assistente, meu câmera, como foi assistente de outros fotógrafos. E o segredo de trabalhar com Lula é admitir ele como fotógrafo e não como filho. Nós nunca levamos para o set de trabalho, as nossas diferenças de pai e filho, nem nossas combinações. Sempre foi uma coisa de profissional.

Raul Seixas - Walter Carvalho
Walter Carvalho e Vivian Seixas
Você acha que o brasileiro ainda tem restrições com documentários?
Tem. Um filme brasileiro documentário quando faz muito sucesso faz 80 mil, 60 mil. Raros os que passam de 100 mil. Isso quando faz sucesso. A maioria fica em 10, 5 mil. Então, ainda tem uma resistência do público quanto ao documentário, embora tenha melhorado nos últimos anos sensivelmente. Até pela quantidade de documentários que tem sido feitos.

O fato de ser sobre Raul Seixas, um ícone, com uma legião de fãs, conta para o seu filme? Qual a expectativa?
O Raul, na largada, ele tem uma vantagem em se tratando de quem é. Ele é um cara que tem uma comunicação com o público muito grande, mesmo depois de morto, 22 anos depois, ele continua um mito. Isso vai ajudar, mas não é nada garantido. Você nunca sabe por que o público compra um ingresso e vai ao cinema. Se soubesse, todos os produtores estariam ricos.

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