Antes da sessão, o produtor Denis Feijão agradeceu a presença de todos, a equipe e os patrocinadores, a distribuidora Paramount e a UCI Orient pela pré-estreia. Segundo ele, estava feliz por inciar a carreira do filme em Salvador, terra de Raul, e que agora, ele era do público. Falou ainda da importância do artista, do seu talento, de seu pioneirismo, definindo-o como pai do rock. A sensação ao sair da sessão era que as pessoas estavam mesmo felizes com o resultado. Levei parte de meus alunos para a sessão e todos elogiaram bastante, dando a dimensão de que Carvalho conseguiu atingir seu público.
Abaixo, o bate-papo com o diretor.
Vivian Seixas e Walter Carvalho |
Acho que Raul, o início, o fim e o meio significa que Raul Seixas virou filme. Ele já tinha sido de tudo, agora é um filme. O mito virou filme.
Qual foi a maior dificuldade encontrada para fazer o filme?
A dificuldade, como a maioria dos filmes brasileiros, sobretudo os documentários, é produção. Você conseguir recursos, patrocínio para produzir um documentário. A tendência é sempre preferir a ficção, documentário é mais delicado, você trata com a realidade, a realidade sempre assusta. No resto, não, eu tive com o meu produtor Denis Feijão, as minhas exigências e solicitações atendidas. Eu dirigi o filme com bastante tranquilidade.
E a pesquisa, como foi o processo?
Todo o material do Raul que estava na internet, eu evitei. Porque já era conhecido. Isso talvez tenha sido a maior dificuldade. Porque muita coisa tinha ido parar na internet. Eu consegui algumas coisas inéditas que estão no filme, toda aquela parte de show no Canecão na parte final é inédita. Eu fiz apelos em vários programas de televisão solicitando às pessoas que tivessem material inédito para nos procurar.
A ideia era trazer mesmo o novo, curiosidades?
É, porque o que acontece, o período que o Raul apareceu e fez sucesso nacional, que é a partir de 72 com a música Let me sing no Festival Internacional da canção, é um período de restrição. É o período Médici (Emílio Garrastazu Médici, conhecido como um dos presidentes mais linha dura, da ditadura militar brasileira). Então, você não tinha a facilidade que você tem hoje de gravar com celular, câmeras caseiras. Os registros eram mais raros. E o que tem, está na internet. Eu tive que correr atrás do que tinha de inédito.
Carlos Eládio, Sylvio Passos, Vivian Seixas e Walter Carvalho |
Tem uma coisa que me chama muito a atenção, que é uma sacação muito perpiscaz do Raul, que pode ter sido até mesmo intuitivo, mas é um fato que não tem como escapar. O Raul, apaixonado por Elvis Presley desde pequeno, mistura o rock com o xaxado, com o baião. Ele mistura Elvis Presley, com Luis Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Essa sacação acho que é o legado do Raul.
E como é o Walter Carvalho diretor? Você ainda se pega pensando na fotografia do filme?
Olha só, eu sou um fotógrafo que dirige. Sou um diretor de fotografia que dirige e nunca deixarei de ser fotógrafo, sempre vou continuar fotografando. Mas, também não vou deixar de dirigir, porque eu gosto, me sinto a vontade. Dirigi a fotografia de muitos filmes importantes e isso me deu uma estrada imensa para perder o medo. Não é que eu tenha experiência, isso não existe. Experiência é um farol ligado para trás. A quantidade de filmes que eu fiz como fotógrafo me levaram a perder o medo de dirigir. Ainda mais depois dos cinquenta, onde todo salto é mortal. Mas, por exemplo, dia 30 de março está estreando no Brasil, Heleno, que foi um filme que eu fotografei. Então, eu lanço um filme como diretor no dia 23 e no dia 30 como fotógrafo.
Trabalhar com o seu filho é mais fácil ou difícil?
Muito mais fácil. A gente se entende muito bem. O Lula (Carvalho, diretor de fotografia) durante muito tempo foi meu assistente, meu câmera, como foi assistente de outros fotógrafos. E o segredo de trabalhar com Lula é admitir ele como fotógrafo e não como filho. Nós nunca levamos para o set de trabalho, as nossas diferenças de pai e filho, nem nossas combinações. Sempre foi uma coisa de profissional.
Walter Carvalho e Vivian Seixas |
Tem. Um filme brasileiro documentário quando faz muito sucesso faz 80 mil, 60 mil. Raros os que passam de 100 mil. Isso quando faz sucesso. A maioria fica em 10, 5 mil. Então, ainda tem uma resistência do público quanto ao documentário, embora tenha melhorado nos últimos anos sensivelmente. Até pela quantidade de documentários que tem sido feitos.
O fato de ser sobre Raul Seixas, um ícone, com uma legião de fãs, conta para o seu filme? Qual a expectativa?
O Raul, na largada, ele tem uma vantagem em se tratando de quem é. Ele é um cara que tem uma comunicação com o público muito grande, mesmo depois de morto, 22 anos depois, ele continua um mito. Isso vai ajudar, mas não é nada garantido. Você nunca sabe por que o público compra um ingresso e vai ao cinema. Se soubesse, todos os produtores estariam ricos.