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W.E. - O Romance do Século
W.E. - O Romance do Século
Madonna está de volta aos cinemas em sua segunda tentativa como diretora. Em entrevistas, a cantora disse que se encantou com a história de Wallis Simpson e queria uma forma de demonstrar sua visão do acontecimento que marcou o Reino Unido, a renúncia do rei Edward VIII ao trono da Inglaterra. A proposta não deixa de ser interessante, o problema é que W.E. - O Romance do Século não tem a coragem de aprofundar nesse tema e o que vemos em tela é uma escolha confusa de contar a história pelo ponto de vista de uma personagem fictícia, Wally Winthrop, tornando Madonna e toda a produção alvos fáceis de diversas críticas.
Wally Winthrop é uma mulher reclusa, aparentemente bem casada com um médico de sucesso, mas que se sente profundamente infeliz. Ela passa seus dias em uma exposição bem peculiar, os pertences do duque e duquesa de Windsor (título que Edward recebe do irmão após abdicar do trono) que serão em breve leiloados. Lá, ela intensifica seus devaneios em relação a Wallis Simpson, mulher de quem se sente próxima por ter o mesmo nome e um sentimento de compreensão. É na exposição também que ela chama a atenção de um segurança russo, o galante Evgeni, que acabará conhecendo-a melhor que seu próprio marido. Em meio às duas tramas paralelas, o roteiro de W.E., também escrito por Madonna em parceria com Alek Keshishian vai sendo desenvolvido.
O filme tem duas qualidades inegáveis que chamam logo a atenção. O título, W.E., que são as iniciais do casal polêmico, mas que também juntas formam o pronome we, que significa nós. Uma boa síntese da situação em que vivem. A outra coisa é a trilha sonora. Como estrela da música pop, Madonna tem mesmo bom gosto musical e entende do assunto, logo, toda a parte sonora do filme é muito bem resolvida. Os problemas começam no roteiro, confuso e sem sentido em muitos momentos, terminando na direção, ainda imatura, que acaba querendo forçar situações que não existem. Como o excesso de planos-detalhe que buscam criar um clima de suspense constante na vida de Wally Winthrop, na tentativa, provavelmente, de encobrir o marasmo que ela é na realidade.
Na verdade, a existência da trama de 1998 é quase sem explicação. Se era para fazer um filme sobre o romance do século, porque não se concentrar nele? Qual a função exata do paralelo com a ficção. Provavelmente, a resposta mais próxima é a liberdade que esta escolha deu a Madonna para falar e criar o que bem entendesse. Pois dessa forma não se torna um filme histórico biográfico, com algumas obrigações para com o público, principalmente o exigente povo inglês e, claro, a família real. Ao colocar o ponto de vista de um personagem fictício, Madonna pode brincar com seu roteiro, sem necessariamente ser realista ou ferir a monarquia britânica. É apenas uma visão, uma sensação, uma tentativa de resgatar uma personagem polêmica da história e lhe dar dignidade.
Mas, essa escolha acaba sendo uma armadilha para a diretora ainda em início de carreira. É complicado costurar as duas tramas, sem parecer quase amador, com cenas forçadas de comparação, planos parecidos e uma obsessão digna de um psiquiatra. Aliás, é irônico que o marido ausente e insensível de Wally Winthrop seja um psiquiatra de renome, que ao invés de perceber o distúrbio da esposa, prefere chamá-la de vadia e sair com outras mulheres. Madonna acaba usando também de muitas muletas para contar a história que deseja, principalmente um documentário na televisão que narra a história do casal para nós, durante o primeiro ato do filme.
As atuações do quarteto principal, em contrapartida, funciona bem. Apesar de uma personagem tão impalpável, Abbie Cornish se sai bem como Wally Winthrop, a mulher obcecada pelo passado, e Oscar Isaac funciona como o segurança interessado por ela. Já James D'Arcy e Andrea Riseborough possuem uma boa química como o casal Edward e Wallis. E sua história é mais digna do que foi mostrado no filme O Discurso do Rei, por exemplo. Aliás, a partir dessa ligação e comparação podemos admirar ainda mais a interpretação de Colin Firth como o rei gago George e até mesmo de Helena Bonham Carter como sua esposa Elizabeth. Momentos-chave dos dois são utilizados em ambos os filmes como a visita à fazenda do casal, onde George tenta convencer Edward a não casar com a plebeia, e a cena do discurso de renúncia que separa os dois irmãos. Natalie Dormer e Laurence Fox, que aqui interpretam George e Elizabeth, não conseguem a mesma intensidade que o casal do filme de Tom Hooper.
W.E. - O Romance do Século é um filme que poderia ter sido. É inegável a boa intenção de Madonna e o seu esforço por construir uma trama em que acredita. Falta-lhe experiência, um bom roteirista e até mesmo um pouco mais de ousadia, coisa que nunca lhe faltou no palco. Ousadia para se arriscar, criar pontos de vista e nos envolver em tramas que aparentemente não são nossas. Aqui ela não consegue isso, pela inconstância de sua protagonista e pela confusão geral em tela. Mas, ainda assim, não é das piores coisas que já vimos em 2012.
W.E. - O Romance do Século (W.E.: 2011 / Reino Unido)
Direção: Madonna
Roteiro: Madonna e Alek Keshishian
Com: Abbie Cornish, James D'Arcy, Oscar Isaac e Andrea Riseborough
Duração: 119 min.
Wally Winthrop é uma mulher reclusa, aparentemente bem casada com um médico de sucesso, mas que se sente profundamente infeliz. Ela passa seus dias em uma exposição bem peculiar, os pertences do duque e duquesa de Windsor (título que Edward recebe do irmão após abdicar do trono) que serão em breve leiloados. Lá, ela intensifica seus devaneios em relação a Wallis Simpson, mulher de quem se sente próxima por ter o mesmo nome e um sentimento de compreensão. É na exposição também que ela chama a atenção de um segurança russo, o galante Evgeni, que acabará conhecendo-a melhor que seu próprio marido. Em meio às duas tramas paralelas, o roteiro de W.E., também escrito por Madonna em parceria com Alek Keshishian vai sendo desenvolvido.
O filme tem duas qualidades inegáveis que chamam logo a atenção. O título, W.E., que são as iniciais do casal polêmico, mas que também juntas formam o pronome we, que significa nós. Uma boa síntese da situação em que vivem. A outra coisa é a trilha sonora. Como estrela da música pop, Madonna tem mesmo bom gosto musical e entende do assunto, logo, toda a parte sonora do filme é muito bem resolvida. Os problemas começam no roteiro, confuso e sem sentido em muitos momentos, terminando na direção, ainda imatura, que acaba querendo forçar situações que não existem. Como o excesso de planos-detalhe que buscam criar um clima de suspense constante na vida de Wally Winthrop, na tentativa, provavelmente, de encobrir o marasmo que ela é na realidade.
Na verdade, a existência da trama de 1998 é quase sem explicação. Se era para fazer um filme sobre o romance do século, porque não se concentrar nele? Qual a função exata do paralelo com a ficção. Provavelmente, a resposta mais próxima é a liberdade que esta escolha deu a Madonna para falar e criar o que bem entendesse. Pois dessa forma não se torna um filme histórico biográfico, com algumas obrigações para com o público, principalmente o exigente povo inglês e, claro, a família real. Ao colocar o ponto de vista de um personagem fictício, Madonna pode brincar com seu roteiro, sem necessariamente ser realista ou ferir a monarquia britânica. É apenas uma visão, uma sensação, uma tentativa de resgatar uma personagem polêmica da história e lhe dar dignidade.
Mas, essa escolha acaba sendo uma armadilha para a diretora ainda em início de carreira. É complicado costurar as duas tramas, sem parecer quase amador, com cenas forçadas de comparação, planos parecidos e uma obsessão digna de um psiquiatra. Aliás, é irônico que o marido ausente e insensível de Wally Winthrop seja um psiquiatra de renome, que ao invés de perceber o distúrbio da esposa, prefere chamá-la de vadia e sair com outras mulheres. Madonna acaba usando também de muitas muletas para contar a história que deseja, principalmente um documentário na televisão que narra a história do casal para nós, durante o primeiro ato do filme.
As atuações do quarteto principal, em contrapartida, funciona bem. Apesar de uma personagem tão impalpável, Abbie Cornish se sai bem como Wally Winthrop, a mulher obcecada pelo passado, e Oscar Isaac funciona como o segurança interessado por ela. Já James D'Arcy e Andrea Riseborough possuem uma boa química como o casal Edward e Wallis. E sua história é mais digna do que foi mostrado no filme O Discurso do Rei, por exemplo. Aliás, a partir dessa ligação e comparação podemos admirar ainda mais a interpretação de Colin Firth como o rei gago George e até mesmo de Helena Bonham Carter como sua esposa Elizabeth. Momentos-chave dos dois são utilizados em ambos os filmes como a visita à fazenda do casal, onde George tenta convencer Edward a não casar com a plebeia, e a cena do discurso de renúncia que separa os dois irmãos. Natalie Dormer e Laurence Fox, que aqui interpretam George e Elizabeth, não conseguem a mesma intensidade que o casal do filme de Tom Hooper.
W.E. - O Romance do Século é um filme que poderia ter sido. É inegável a boa intenção de Madonna e o seu esforço por construir uma trama em que acredita. Falta-lhe experiência, um bom roteirista e até mesmo um pouco mais de ousadia, coisa que nunca lhe faltou no palco. Ousadia para se arriscar, criar pontos de vista e nos envolver em tramas que aparentemente não são nossas. Aqui ela não consegue isso, pela inconstância de sua protagonista e pela confusão geral em tela. Mas, ainda assim, não é das piores coisas que já vimos em 2012.
W.E. - O Romance do Século (W.E.: 2011 / Reino Unido)
Direção: Madonna
Roteiro: Madonna e Alek Keshishian
Com: Abbie Cornish, James D'Arcy, Oscar Isaac e Andrea Riseborough
Duração: 119 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
W.E. - O Romance do Século
2012-03-10T08:51:00-03:00
Amanda Aouad
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