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Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios. O título solta a nossa imaginação, nossos sentimentos, capacidades de construir e reconstruir imagens poéticas. E é mais ou menos isso que é o novo filme de Beto Brant e Renato Ciasca, poesia. Focado muito mais no Lírico que no Dramático, constrói cenas que são quase cliques de uma máquina fotográfica, unidas entre si por pouca liga narrativa, mas com muita emoção e imagens bem trabalhadas.
A trama gira em torno de três pessoas. Lavínia, uma mulher instável e misteriosa que está dividida entre dois amores. Cauby, o jovem e belo fotógrafo com que tem uma relação bastante carnal e forte. Ernani, o maduro pastor que guia a comunidade esquecida no interior da Amazônia. Sua rotina é assim, entre o sexo e a reza. Entre o marido e o amante. Sem culpas, sem pensamentos, sem dores. Ela simplesmente segue o seu curso que é demonstrado em flashs, na primeira parte do filme. Até que, em determinado momento, retrocedemos no tempo, para conhecer sua história e assim, começar a complicar sua rotina.
Em paralelo a esse triângulo complexo, temos o personagem de Gero Camilo, Viktor Laurence. Um jornalista de fofocas frustrado que gostaria de ser um poeta. Fino, requintado, homossexual, distinto e ao mesmo tempo irônico e ferino em seus comentários. Viktor é a possibilidade de Gero sair dos estereótipos de seus últimos personagens. E ele se sai incrivelmente bem. Suas cenas são espaços líricos deslocados da trama principal, mas que funcionam como um coro grego, comentando-as, já que é amigo do personagem Cauby e lhe dá conselhos diversos. Um jogo interessante e perigoso entre o sigilo e a informação que vaza.
Entre o trio protagonista, o destaque é mesmo Camila Pitanga, não que Gustavo Machado esteja ruim como o fotógrafo Cauby, ou Zecarlos Machado esteja fraco como o pastor Ernani. Mas, a personagem Lavínia abre espaço para diversas nuanças interpretativas que desafiam Pitanga a todo momento. Uma mulher que muda de personalidade, passeando entre extremos e buscando equilíbrios de uma maneira bastante natural. Tudo nela é forte, complexo, encantador. Em nenhum momento se torna vulgar, mesmo sendo uma ex-prostituta que continua tendo muitas cenas de sexo. A diferença das personalidades está no olhar, nos gestos, na postura corporal, com os ombros mais abaixados, por exemplo, nos flashbacks. Já na parte final, onde é exigido outro tipo de interpretação, Camila Pitanga é bastante feliz, sem se tornar caricata ou exagerada, tornando Lavínia uma grande personagem de sua carreira.
Como poesia, Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios tem ainda uma construção estética bela, com diversas cenas poéticas como a índia batucando enquanto Lavínia e Cauby passeiam por uma praia. As cores, a fotografia, o tratamento da imagem, tudo contribui para um belo quadro, com emoções complexas. As matas estão sempre com um cor saturada, enquanto que na cidade a imagem é mais lavada. Os diversos planos sequência ajudam a manter um clima de rotina, um ritmo lento de dor e emoção. É um filme que nos leva a extremos, e que precisa de uma dose de cumplicidade para embarcar naquela história.
Ao mesmo tempo, o roteiro de Marçal Aquino se perde ao tentar unir essa trama poética com a narrativa política que trabalha como pano de fundo da história. Fica tudo muito sutil nos discursos de Ernani, sempre convocando Arcanjos e preparando o seu povo para uma guerra. A cena do rio com as madeiras sendo levadas em quantidade e o discurso de um sindicalista caem de pára-quedas na trama, sem nenhuma preparação ou sentido em tudo aquilo que já estava sendo feito. Da mesma forma como o desenrolar da trama de Ernani que pelo que foi demonstrado no filme, não se justificaria. Seria preciso uma preparação maior, um cuidado maior com o tema desmatamento, que fica solto diante daquilo que é focado na projeção. O que nos leva a uma curiosidade maior em relação ao livro em que foi baseado da autoria do próprio roteirista.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios é um belo filme. Uma poesia em tela, complexa e difícil para alguns apreciadores mais afoitos pelo drama. Mas, com uma construção técnica que impressiona, atores incrivelmente bem trabalhados e muito material para sair pensando. Tudo muito próximo do que o trio de autores já vem nos presenteando por todos esses anos.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, 2012 / Brasil)
Direção: Beto Brant e Renato Ciasca
Roteiro: Marçal Aquino, Beto Brant e Renato Ciasca
Com: Camila Pitanga, Gustavo Machado, Zecarlos Machado, Gero Camilo e Antonio Pitanga
Duração: 100 min.
A trama gira em torno de três pessoas. Lavínia, uma mulher instável e misteriosa que está dividida entre dois amores. Cauby, o jovem e belo fotógrafo com que tem uma relação bastante carnal e forte. Ernani, o maduro pastor que guia a comunidade esquecida no interior da Amazônia. Sua rotina é assim, entre o sexo e a reza. Entre o marido e o amante. Sem culpas, sem pensamentos, sem dores. Ela simplesmente segue o seu curso que é demonstrado em flashs, na primeira parte do filme. Até que, em determinado momento, retrocedemos no tempo, para conhecer sua história e assim, começar a complicar sua rotina.
Em paralelo a esse triângulo complexo, temos o personagem de Gero Camilo, Viktor Laurence. Um jornalista de fofocas frustrado que gostaria de ser um poeta. Fino, requintado, homossexual, distinto e ao mesmo tempo irônico e ferino em seus comentários. Viktor é a possibilidade de Gero sair dos estereótipos de seus últimos personagens. E ele se sai incrivelmente bem. Suas cenas são espaços líricos deslocados da trama principal, mas que funcionam como um coro grego, comentando-as, já que é amigo do personagem Cauby e lhe dá conselhos diversos. Um jogo interessante e perigoso entre o sigilo e a informação que vaza.
Entre o trio protagonista, o destaque é mesmo Camila Pitanga, não que Gustavo Machado esteja ruim como o fotógrafo Cauby, ou Zecarlos Machado esteja fraco como o pastor Ernani. Mas, a personagem Lavínia abre espaço para diversas nuanças interpretativas que desafiam Pitanga a todo momento. Uma mulher que muda de personalidade, passeando entre extremos e buscando equilíbrios de uma maneira bastante natural. Tudo nela é forte, complexo, encantador. Em nenhum momento se torna vulgar, mesmo sendo uma ex-prostituta que continua tendo muitas cenas de sexo. A diferença das personalidades está no olhar, nos gestos, na postura corporal, com os ombros mais abaixados, por exemplo, nos flashbacks. Já na parte final, onde é exigido outro tipo de interpretação, Camila Pitanga é bastante feliz, sem se tornar caricata ou exagerada, tornando Lavínia uma grande personagem de sua carreira.
Como poesia, Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios tem ainda uma construção estética bela, com diversas cenas poéticas como a índia batucando enquanto Lavínia e Cauby passeiam por uma praia. As cores, a fotografia, o tratamento da imagem, tudo contribui para um belo quadro, com emoções complexas. As matas estão sempre com um cor saturada, enquanto que na cidade a imagem é mais lavada. Os diversos planos sequência ajudam a manter um clima de rotina, um ritmo lento de dor e emoção. É um filme que nos leva a extremos, e que precisa de uma dose de cumplicidade para embarcar naquela história.
Ao mesmo tempo, o roteiro de Marçal Aquino se perde ao tentar unir essa trama poética com a narrativa política que trabalha como pano de fundo da história. Fica tudo muito sutil nos discursos de Ernani, sempre convocando Arcanjos e preparando o seu povo para uma guerra. A cena do rio com as madeiras sendo levadas em quantidade e o discurso de um sindicalista caem de pára-quedas na trama, sem nenhuma preparação ou sentido em tudo aquilo que já estava sendo feito. Da mesma forma como o desenrolar da trama de Ernani que pelo que foi demonstrado no filme, não se justificaria. Seria preciso uma preparação maior, um cuidado maior com o tema desmatamento, que fica solto diante daquilo que é focado na projeção. O que nos leva a uma curiosidade maior em relação ao livro em que foi baseado da autoria do próprio roteirista.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios é um belo filme. Uma poesia em tela, complexa e difícil para alguns apreciadores mais afoitos pelo drama. Mas, com uma construção técnica que impressiona, atores incrivelmente bem trabalhados e muito material para sair pensando. Tudo muito próximo do que o trio de autores já vem nos presenteando por todos esses anos.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, 2012 / Brasil)
Direção: Beto Brant e Renato Ciasca
Roteiro: Marçal Aquino, Beto Brant e Renato Ciasca
Com: Camila Pitanga, Gustavo Machado, Zecarlos Machado, Gero Camilo e Antonio Pitanga
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios
2012-04-23T08:51:00-03:00
Amanda Aouad
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