Titanic 3D
Foram nove anos esperando a tecnologia correta para realizar uma história futurista em um planeta distante com uma projeção em terceira dimensão. James Cameron não iria, então, após o aclamado Avatar, estragar a sua principal obra com uma conversão mal feita, apenas para ganhar uns dólares a mais. Iria? Acredite, foi o que ele fez. Na verdade, não chega a ser uma conversão mal feita. Há algo ali, uma textura diferente, alguma profundidade, uma sensação de deslocamento da tela e uma cena onde o 3D é perfeito, a que o Coração do Oceano afunda, mas nada de justifique uma nova ida ao cinema apenas pela tecnologia. Agora, projeções à parte, isso não quer dizer que a volta do filme à tela grande não seja um acontecimento.
Titanic é mesmo um marco no cinema mundial. Vencedor de onze Oscars no ano de 1998, das treze estatuetas a que concorria, o filme arrastou multidões para conhecer a história de amor de Jack, um jovem pobre que viaja por "sorte" no naufrágio mais famoso do mundo, e de Rose, a pobre menina rica que vive de aparências e "precisa" se casar com um grande herdeiro para salvar as finanças da família. Um melodrama clássico do amor proibido, que se mistura à história do próprio navio que sai do porto de Londres, sem nunca conseguir chegar ao seu destino. Quem não pode conferir isso na época, tem uma nova oportunidade de se encantar com imagens arrebatadoras, uma trilha sonora emocionante e efeitos especiais incríveis com o navio afundando. Tão incríveis que impressionam ainda hoje, quinze anos depois de realizados, em um período onde a tecnologia avançou a olhos vistos.
Tudo no filme funciona, ainda que os mais céticos encontrem vários erros de continuidade, clichês repetidos, resoluções forçadas e até problemas de narração. Mas, dentro da cartilha do programa de efeitos emocionais de um bom melodrama, James Cameron dá um show de competência. A estrutura do roteiro é muito bem pensada. Toda a parte inicial, com um tom científico, a caça ao tesouro, os dados históricos e o suspense em torno do que se trata a história prende a nossa atenção. Estamos nos ambientando com tudo aquilo até que a simpática velhinha de quase 101 anos, interpretada muito bem por Gloria Stuart, nos puxa para a fantasia. O Titanic não é apenas o naufrágio mais famoso do mundo, com vários cálculos teóricos. Havia pessoas ali, quase 1.500 vidas que foram interrompidas por um iceberg inesperado.
Os críticos mais ferrenhos, condenam Cameron por ter reduzido essa tragédia a uma história de amor. Mas, como dizia Antônio Carlos e Jocafi me perdoe se isso "vai de encontro aos intelectos que não usam o coração como expressão". Uma história de amor é um argumento válido para um filme de ficção que tem como pano de fundo a história real. Centrar sua trama em Jack e Rose é uma forma de humanizar o naufrágio e nos fazer sentir ali, junto com eles, em desespero pela morte iminente. Faz parte da construção da identificação no cinema. Escolhemos um protagonista para criar empatia e é com ele que vemos o mundo. O casal ali representa o todo. E tudo fica ainda mais maximizado pela simbologia do resgate de Rose, a garota que não tinha vivido ainda e através da dor tem a possibilidade de se libertar.
A construção do personagem Jack é muito bem feita. Ele vai surgindo aos poucos, primeiro em planos-detalhe, depois no jogo, passando pelas primeiras cenas no navio até o encontro com Rose. E aos poucos, ele vai conquistando a todos, inclusive a nós. É um sujeito fácil de se criar empatia, um herói moderno, um príncipe encantado. É claro que essa construção é idealizada, mas até isso se justifica. Afinal, estamos conhecendo a história pelo ponto de vista da velha Rose, que relembra sua história para os pesquisadores.
O próprio amor dos dois é idealizado, apesar de simples e puro. Como o encontro de duas crianças, duas almas sem preocupações maiores com responsabilidades, dívidas, planos para o futuro. Jack e Rose simplesmente vivem o momento. E se divertem muito transgredindo regras, aprontando "traquinagens", fugindo do noivo rico ou mesmo tendo sua primeira relação amorosa. É tudo muito leve, com muitas risadas e brincadeiras, apesar de esconder por trás disso consequências imensas, mudanças de paradigmas e radicalização de valores. E tanto Leonardo DiCaprio quanto Kate Winslet conseguem imprimir esse tom leve na relação dos dois, talvez por serem amigos na vida real e já terem uma química, mas é fácil acreditar neles.
James Cameron é bastante eficaz ao contar essa história. Não apenas pelo bom roteiro, mas pelas escolhas precisas da direção. Há diversos momentos de uma construção técnica que encanta pelos detalhes e pela grandiosidade. A começar pela cena do primeiro beijo do casal que já analisei aqui em Grandes Cenas. Tudo funciona ali, casal, momento, trilha sonora, fotografia, feitos para emocionar. Mas, há outros, como a cena do iceberg, em sua construção de tensão, desde os gritos, passando pelos alertas, o maquinário trabalhando, o objeto se aproximando e a colisão. Outra tomada que impressiona é o zoom out logo após o navio afundar, onde podemos ver o mar de gente desesperadas. Imagens que impressionam. Isso sem falar em toda a tensão nos momentos do naufrágio, realistas, bem arquitetadas e com efeitos especiais impressionantes, principalmente na construção do próprio navio.
Ou seja, com ou sem 3D, Titanic é um filme que possui força. Um clássico moderno com um belo roteiro, uma fotografia impressionante, uma direção detalhista e interpretações condizentes, isso sem falar na emocionante trilha sonora que gruda em nossos ouvidos. E não estou falando apenas da canção de Celine Dion, é bom deixar claro. Ver toda essa técnica a servido de uma boa história na tela do cinema é mesmo uma grande experiência. Ainda que com um 3D capenga.
Titanic (Titanic, 1997 / EUA) - versão em 3D - 2012.
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Com: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Gloria Stuart e Frances Fisher
Duração: 194 min
Titanic é mesmo um marco no cinema mundial. Vencedor de onze Oscars no ano de 1998, das treze estatuetas a que concorria, o filme arrastou multidões para conhecer a história de amor de Jack, um jovem pobre que viaja por "sorte" no naufrágio mais famoso do mundo, e de Rose, a pobre menina rica que vive de aparências e "precisa" se casar com um grande herdeiro para salvar as finanças da família. Um melodrama clássico do amor proibido, que se mistura à história do próprio navio que sai do porto de Londres, sem nunca conseguir chegar ao seu destino. Quem não pode conferir isso na época, tem uma nova oportunidade de se encantar com imagens arrebatadoras, uma trilha sonora emocionante e efeitos especiais incríveis com o navio afundando. Tão incríveis que impressionam ainda hoje, quinze anos depois de realizados, em um período onde a tecnologia avançou a olhos vistos.
Tudo no filme funciona, ainda que os mais céticos encontrem vários erros de continuidade, clichês repetidos, resoluções forçadas e até problemas de narração. Mas, dentro da cartilha do programa de efeitos emocionais de um bom melodrama, James Cameron dá um show de competência. A estrutura do roteiro é muito bem pensada. Toda a parte inicial, com um tom científico, a caça ao tesouro, os dados históricos e o suspense em torno do que se trata a história prende a nossa atenção. Estamos nos ambientando com tudo aquilo até que a simpática velhinha de quase 101 anos, interpretada muito bem por Gloria Stuart, nos puxa para a fantasia. O Titanic não é apenas o naufrágio mais famoso do mundo, com vários cálculos teóricos. Havia pessoas ali, quase 1.500 vidas que foram interrompidas por um iceberg inesperado.
Os críticos mais ferrenhos, condenam Cameron por ter reduzido essa tragédia a uma história de amor. Mas, como dizia Antônio Carlos e Jocafi me perdoe se isso "vai de encontro aos intelectos que não usam o coração como expressão". Uma história de amor é um argumento válido para um filme de ficção que tem como pano de fundo a história real. Centrar sua trama em Jack e Rose é uma forma de humanizar o naufrágio e nos fazer sentir ali, junto com eles, em desespero pela morte iminente. Faz parte da construção da identificação no cinema. Escolhemos um protagonista para criar empatia e é com ele que vemos o mundo. O casal ali representa o todo. E tudo fica ainda mais maximizado pela simbologia do resgate de Rose, a garota que não tinha vivido ainda e através da dor tem a possibilidade de se libertar.
A construção do personagem Jack é muito bem feita. Ele vai surgindo aos poucos, primeiro em planos-detalhe, depois no jogo, passando pelas primeiras cenas no navio até o encontro com Rose. E aos poucos, ele vai conquistando a todos, inclusive a nós. É um sujeito fácil de se criar empatia, um herói moderno, um príncipe encantado. É claro que essa construção é idealizada, mas até isso se justifica. Afinal, estamos conhecendo a história pelo ponto de vista da velha Rose, que relembra sua história para os pesquisadores.
O próprio amor dos dois é idealizado, apesar de simples e puro. Como o encontro de duas crianças, duas almas sem preocupações maiores com responsabilidades, dívidas, planos para o futuro. Jack e Rose simplesmente vivem o momento. E se divertem muito transgredindo regras, aprontando "traquinagens", fugindo do noivo rico ou mesmo tendo sua primeira relação amorosa. É tudo muito leve, com muitas risadas e brincadeiras, apesar de esconder por trás disso consequências imensas, mudanças de paradigmas e radicalização de valores. E tanto Leonardo DiCaprio quanto Kate Winslet conseguem imprimir esse tom leve na relação dos dois, talvez por serem amigos na vida real e já terem uma química, mas é fácil acreditar neles.
James Cameron é bastante eficaz ao contar essa história. Não apenas pelo bom roteiro, mas pelas escolhas precisas da direção. Há diversos momentos de uma construção técnica que encanta pelos detalhes e pela grandiosidade. A começar pela cena do primeiro beijo do casal que já analisei aqui em Grandes Cenas. Tudo funciona ali, casal, momento, trilha sonora, fotografia, feitos para emocionar. Mas, há outros, como a cena do iceberg, em sua construção de tensão, desde os gritos, passando pelos alertas, o maquinário trabalhando, o objeto se aproximando e a colisão. Outra tomada que impressiona é o zoom out logo após o navio afundar, onde podemos ver o mar de gente desesperadas. Imagens que impressionam. Isso sem falar em toda a tensão nos momentos do naufrágio, realistas, bem arquitetadas e com efeitos especiais impressionantes, principalmente na construção do próprio navio.
Ou seja, com ou sem 3D, Titanic é um filme que possui força. Um clássico moderno com um belo roteiro, uma fotografia impressionante, uma direção detalhista e interpretações condizentes, isso sem falar na emocionante trilha sonora que gruda em nossos ouvidos. E não estou falando apenas da canção de Celine Dion, é bom deixar claro. Ver toda essa técnica a servido de uma boa história na tela do cinema é mesmo uma grande experiência. Ainda que com um 3D capenga.
Titanic (Titanic, 1997 / EUA) - versão em 3D - 2012.
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Com: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Gloria Stuart e Frances Fisher
Duração: 194 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Titanic 3D
2012-04-11T17:01:00-03:00
Amanda Aouad
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