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Deus da Carnificina
Deus da Carnificina
Peça de teatro consagrada, escrita pela francesa Yasmina Reza, Deus da Carnificina já ganhou diversas montagens pelo mundo. Tem até uma adaptação brasileira com Júlia Lemmertz, Paulo Betti e Deborah Evelyn no elenco. Com roteiro da própria Reza e direção de Polanski, o texto chega ao cinema, e só por saber que não se trata de um teatro filmado já tem grandes méritos.
Um apartamento, dois casais, uma briga entre duas crianças como tema e uma sucessão de convenções sociais que vão caindo por terra. Deus da Carnificina se baseia na ironia, no texto que vai conduzindo Penelope, Nancy, Alan e Michael em uma catarse progressiva que primeiro sufoca e depois liberta. O texto irônico é essencial para aquele aparente nada e as interpretações de Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly sustentam um espetáculo que não nos faz ver o tempo passar.
Roman Polanski sempre foi um diretor corajoso e aqui provou mais uma de suas astúcias. Porque o parágrafo anterior poderia descrever tranquilamente uma peça teatral. Mas, o que temos em tela é cinema de qualidade, pois não há apenas uma câmera ligada documentando um espaço cênico. Polanski dá vida a sua história, guiando nosso olhar, mesmo que com pouquíssimos movimentos de câmera.
Os enquadramentos ajudam na condução da trama. É a escolha de um plano geral, de um close, de um detalhe e, na maioria das vezes, de um jogo de divisão de acordo com o clima da discussão. Primeiro temos os dois casais em uma situação de aparente apaziguamento. Os quatro tendem a aparecer mais vezes em um mesmo plano, ou então, cada dupla em separado. De repente, um celular inconveniente suga o personagem de Christoph Waltz para um plano solitário, contra os outros três. À medida em que os jogos e identificações vão mudando, a câmera vai acompanhando essas divisões.
Há também uma inteligente utilização de um enorme espelho no meio da sala. Aquele objeto não está ali por acaso. Polanski brinca com seus reflexos, em suas composições difusas. Assim como brinca com a profundidade de câmera. A linguagem cinematográfica é explorada ao máximo dentro das quatros paredes, colaborando com o ritmo das discussões, os jogos, disputas e as revelações das verdadeiras faces de cada uma daquelas pessoas.
Porque Deus da Carnificina é antes de tudo uma irônica desconstrução do senso de comunidade, tantas vezes repetido pela personagem de Jodie Foster. Penelope, dos quatro é a verdadeira defensora da honra, do que julga como certo, acima de qualquer coisa. É ela quem puxa aquela situação, como se os pais tivessem que resolver um problema de briga entre duas crianças. E é em sua escalada que a situação parece ser mais complicada. É um jogo muito inteligente de descortinagem da pompa da classe média/alta, em situações tragicômicas que nos envolve.
E é claro que, para um texto tão denso e intenso, era preciso quatro atores de grande porte. Cada um em sua particularidade, veste seu personagem como a própria persona a ser desfigurada. Há escalas de fleuma, preocupação, desespero, dor, irritação, ódio em cada pequeno gesto, em detalhes nas expressões, em uma construção corporal bem cuidada. Como na cena em que Christoph Waltz se encolhe na parede, vendo John C. Reilly tentar conter o desespero, enquanto Jodie Foster e Kate Winslet riem jocosas. É uma aula vê-los contracenando.
Deus da Carnificina é uma terapia coletiva intensa. Um retrato cruel de nossa sociedade e suas falsas convenções. Um desnudamento de almas, em um texto ferino e atuações incríveis. Mas, tudo isso, sobre a batuta do maestro Roman Polanski, que com poucos movimentos e um único cenário, nos dá um show de Cinema.
Deus da Carnificina (Carnage, 2012 / França)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski e Yasmina Reza
Com: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly
Duração: 80 min.
Um apartamento, dois casais, uma briga entre duas crianças como tema e uma sucessão de convenções sociais que vão caindo por terra. Deus da Carnificina se baseia na ironia, no texto que vai conduzindo Penelope, Nancy, Alan e Michael em uma catarse progressiva que primeiro sufoca e depois liberta. O texto irônico é essencial para aquele aparente nada e as interpretações de Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly sustentam um espetáculo que não nos faz ver o tempo passar.
Roman Polanski sempre foi um diretor corajoso e aqui provou mais uma de suas astúcias. Porque o parágrafo anterior poderia descrever tranquilamente uma peça teatral. Mas, o que temos em tela é cinema de qualidade, pois não há apenas uma câmera ligada documentando um espaço cênico. Polanski dá vida a sua história, guiando nosso olhar, mesmo que com pouquíssimos movimentos de câmera.
Os enquadramentos ajudam na condução da trama. É a escolha de um plano geral, de um close, de um detalhe e, na maioria das vezes, de um jogo de divisão de acordo com o clima da discussão. Primeiro temos os dois casais em uma situação de aparente apaziguamento. Os quatro tendem a aparecer mais vezes em um mesmo plano, ou então, cada dupla em separado. De repente, um celular inconveniente suga o personagem de Christoph Waltz para um plano solitário, contra os outros três. À medida em que os jogos e identificações vão mudando, a câmera vai acompanhando essas divisões.
Há também uma inteligente utilização de um enorme espelho no meio da sala. Aquele objeto não está ali por acaso. Polanski brinca com seus reflexos, em suas composições difusas. Assim como brinca com a profundidade de câmera. A linguagem cinematográfica é explorada ao máximo dentro das quatros paredes, colaborando com o ritmo das discussões, os jogos, disputas e as revelações das verdadeiras faces de cada uma daquelas pessoas.
Porque Deus da Carnificina é antes de tudo uma irônica desconstrução do senso de comunidade, tantas vezes repetido pela personagem de Jodie Foster. Penelope, dos quatro é a verdadeira defensora da honra, do que julga como certo, acima de qualquer coisa. É ela quem puxa aquela situação, como se os pais tivessem que resolver um problema de briga entre duas crianças. E é em sua escalada que a situação parece ser mais complicada. É um jogo muito inteligente de descortinagem da pompa da classe média/alta, em situações tragicômicas que nos envolve.
E é claro que, para um texto tão denso e intenso, era preciso quatro atores de grande porte. Cada um em sua particularidade, veste seu personagem como a própria persona a ser desfigurada. Há escalas de fleuma, preocupação, desespero, dor, irritação, ódio em cada pequeno gesto, em detalhes nas expressões, em uma construção corporal bem cuidada. Como na cena em que Christoph Waltz se encolhe na parede, vendo John C. Reilly tentar conter o desespero, enquanto Jodie Foster e Kate Winslet riem jocosas. É uma aula vê-los contracenando.
Deus da Carnificina é uma terapia coletiva intensa. Um retrato cruel de nossa sociedade e suas falsas convenções. Um desnudamento de almas, em um texto ferino e atuações incríveis. Mas, tudo isso, sobre a batuta do maestro Roman Polanski, que com poucos movimentos e um único cenário, nos dá um show de Cinema.
Deus da Carnificina (Carnage, 2012 / França)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski e Yasmina Reza
Com: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Deus da Carnificina
2012-06-10T16:10:00-03:00
Amanda Aouad
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