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Para Roma com Amor
Para Roma com Amor
A expectativa é mesmo uma má companhia do cinema. Depois de construir uma trama tão genial quanto a de Meia-Noite em Paris, esperava-se com ansiedade o que Woody Allen aprontaria em Roma. Mas, na capital italiana o novaiorquino não foi tão genial. O que não significa que fez um filme ruim, pelo contrário, temos mais uma vez um texto ácido, sutil, engraçado e extremamente inteligente.
Para Roma com Amor é uma grande ironia. Para Paris, Woody Allen fez uma declaração de amor rasgada, já começando pelo clipe inicial fabuloso. Em Roma, o diretor, roteirista e ator, preferiu construir uma crônica em forma de paródia. Há ingredientes aqui de estereótipos do povo italiano, sua alegria extrema, sua aparente despreocupação com as coisas sérias, seu jeito de ser. Engraçado é que a maioria dos personagens são americanos morando em Roma, o que não os impede de já serem italianizados. Mas, a essência está em cada história pontual.
A partir do guarda de trânsito, vivido por Pierluigi Marchionne, somos apresentados à cidade e ao conceito de que tudo pode acontecer nas ruas de Roma. O narrador, só aparece no início e final, ao contrário da já conhecida voz over de boa parte dos filmes de Allen. Ainda assim, ele dá o tom do roteiro que é fragmentado em quatro histórias independentes que transcorrem de forma paralelas. Quer dizer, não tão paralela assim, já que enquanto em uma trama temos passagens de tempo elásticas de meses, em outras estamos sempre no mesmo dia. E é na sutileza dessas quatro tramas que se intercalam em tema, apesar de nunca se cruzarem fisicamente, que Woody Allen tece a sua tese sobre a superficialidade humana.
É interessante perceber a sutileza de cada piada e situação imposta. Umas tramas funcionam melhor que outras, é verdade. Mas, de alguma forma todas se complementam. O ponto focal é a família de Michelangelo, um italiano típico, com ideais humanitários, filho de um agente funerário com um talento especial e que conhece uma bela americana nas ruas da cidade, apaixonando-se. O casal resolve se casar e os pais da noiva vem de Nova York para as famílias se conhecerem. O pai da noiva é interpretado pelo próprio Woody Allen, o personagem mais interessante do filme, em uma atuação genial. Deste núcleo, parte as principais divagações do filme, sendo as outras três tramas apenas reações e amostras da superficialidade do mundo moderno.
Temos uma família romana comum, onde o patriarca (Roberto Benigni) de repente fica famoso, sendo perseguido por paparazzis em todos os cantos. É uma grande piada com esse mundo superficial televisivo, onde ter fama é mais importante que ter talento. Uma coisa que parece ser sempre bastante criticada na Itália e que Fellini demonstrou bem em Ginger e Fred. Temos ainda o jovem vivido por Jesse Eisenberg que se encanta pela bela amiga da namorada vivida por Ellen Page. Nessa trama, o ponto vivido por Alec Baldwin deixa o tema mais explícito demonstrando como a moça é construída. "Ela decora uma frase da cada autor para parecer culta", ele diz, por exemplo. Por fim, temos o casal de italianos do interior que chegam à capital para impressionar os parentes e seus amigos "importantes". Mas, um acaba envolvido por uma prostituta (Penélope Cruz), enquanto que o outro se encanta por um ator de cinema, .
À medida em que Woody Allen vai nos mostrando o quão ridículo é viver de aparências, vamos nos envolvendo com aquelas histórias. Há ironias em cada escolha, como por exemplo, a quase angelical Ellen Page representar uma mulher fatal, irresistível para qualquer tipo de homem. "Até o seu nome é sexy", sentencia Alec Baldwin em determinado momento. Da mesma forma, o ator símbolo sexual que encanta a jovem Milly. Um homem careca, gordinho e desengonçado, mas que é um astro de cinema, e só por isso, se torna algo irresistível para a pudica "ragazza". E claro, a trama mais óbvia, onde Roberto Benigni, ou melhor, seu personagem Leopoldo Pisanello é abordado com as perguntas mais tolas como "o que comeu no café da manhã" ou "como faz a barba".
Na trama do encontro das duas famílias, a pontuação é o mais interessante. Há os estereótipos do "comunista", da psiquiatra, do produtor fonográfico que se reconstroem de uma maneira interessante. A situação absurda do tenor de banheiro é a cereja no bolo, mas todo o diálogo e situações daquela casa nos dão o contraponto da superficialidade desejada dos outros três. Claro que há encenações, máscaras, mas tudo ali parece ser desnudado de uma maneira inteligente.
E, apesar de ser melhor roteirista que diretor, Woody Allen consegue bons momentos com as escolhas de câmera como a cena em que Milly se perde em Roma e um plano giratório nos dá a sensação exata de confusão, como se tudo parecesse igual naquelas construções antigas. Outro momento incrível é quando o personagem de Allen descobre o tenor, andando pelo corredor e parando assombrado na porta do banheiro, a forma como escolhe o plano e a montagem com a cena no chuveiro dão uma sensação bem engraçada. Por outro lado, a trilha sonora erra feio em escolher músicas temas para cada história, ainda que clássicos italianos, tornando-as uma espécie de legenda da troca de situação. Até os narradores têm sua música própria. Além de criar uma repetição chata, é extremante clichê e cansativa.
Para Roma com Amor é, então, um bom filme. Não é genial como Meia Noite em Paris, não é o melhor que Woody Allen pode nos apresentar, mas tem pontos positivos em um texto inteligente, com um humor ácido e tramas envolventes. Afinal, Woody Allen não é um "imbecille"* tão grande assim, nos dois sentidos...
* Piada apenas para quem viu o filme.
Para Roma com Amor (To Rome with Love, 2012 / USA / Itália)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Com: Woody Allen, Penélope Cruz, Jesse Eisenberg, Roberto Benigni, Alec Baldwin, Ellen Page
Duração: 102 min.
Para Roma com Amor é uma grande ironia. Para Paris, Woody Allen fez uma declaração de amor rasgada, já começando pelo clipe inicial fabuloso. Em Roma, o diretor, roteirista e ator, preferiu construir uma crônica em forma de paródia. Há ingredientes aqui de estereótipos do povo italiano, sua alegria extrema, sua aparente despreocupação com as coisas sérias, seu jeito de ser. Engraçado é que a maioria dos personagens são americanos morando em Roma, o que não os impede de já serem italianizados. Mas, a essência está em cada história pontual.
A partir do guarda de trânsito, vivido por Pierluigi Marchionne, somos apresentados à cidade e ao conceito de que tudo pode acontecer nas ruas de Roma. O narrador, só aparece no início e final, ao contrário da já conhecida voz over de boa parte dos filmes de Allen. Ainda assim, ele dá o tom do roteiro que é fragmentado em quatro histórias independentes que transcorrem de forma paralelas. Quer dizer, não tão paralela assim, já que enquanto em uma trama temos passagens de tempo elásticas de meses, em outras estamos sempre no mesmo dia. E é na sutileza dessas quatro tramas que se intercalam em tema, apesar de nunca se cruzarem fisicamente, que Woody Allen tece a sua tese sobre a superficialidade humana.
É interessante perceber a sutileza de cada piada e situação imposta. Umas tramas funcionam melhor que outras, é verdade. Mas, de alguma forma todas se complementam. O ponto focal é a família de Michelangelo, um italiano típico, com ideais humanitários, filho de um agente funerário com um talento especial e que conhece uma bela americana nas ruas da cidade, apaixonando-se. O casal resolve se casar e os pais da noiva vem de Nova York para as famílias se conhecerem. O pai da noiva é interpretado pelo próprio Woody Allen, o personagem mais interessante do filme, em uma atuação genial. Deste núcleo, parte as principais divagações do filme, sendo as outras três tramas apenas reações e amostras da superficialidade do mundo moderno.
Temos uma família romana comum, onde o patriarca (Roberto Benigni) de repente fica famoso, sendo perseguido por paparazzis em todos os cantos. É uma grande piada com esse mundo superficial televisivo, onde ter fama é mais importante que ter talento. Uma coisa que parece ser sempre bastante criticada na Itália e que Fellini demonstrou bem em Ginger e Fred. Temos ainda o jovem vivido por Jesse Eisenberg que se encanta pela bela amiga da namorada vivida por Ellen Page. Nessa trama, o ponto vivido por Alec Baldwin deixa o tema mais explícito demonstrando como a moça é construída. "Ela decora uma frase da cada autor para parecer culta", ele diz, por exemplo. Por fim, temos o casal de italianos do interior que chegam à capital para impressionar os parentes e seus amigos "importantes". Mas, um acaba envolvido por uma prostituta (Penélope Cruz), enquanto que o outro se encanta por um ator de cinema, .
À medida em que Woody Allen vai nos mostrando o quão ridículo é viver de aparências, vamos nos envolvendo com aquelas histórias. Há ironias em cada escolha, como por exemplo, a quase angelical Ellen Page representar uma mulher fatal, irresistível para qualquer tipo de homem. "Até o seu nome é sexy", sentencia Alec Baldwin em determinado momento. Da mesma forma, o ator símbolo sexual que encanta a jovem Milly. Um homem careca, gordinho e desengonçado, mas que é um astro de cinema, e só por isso, se torna algo irresistível para a pudica "ragazza". E claro, a trama mais óbvia, onde Roberto Benigni, ou melhor, seu personagem Leopoldo Pisanello é abordado com as perguntas mais tolas como "o que comeu no café da manhã" ou "como faz a barba".
Na trama do encontro das duas famílias, a pontuação é o mais interessante. Há os estereótipos do "comunista", da psiquiatra, do produtor fonográfico que se reconstroem de uma maneira interessante. A situação absurda do tenor de banheiro é a cereja no bolo, mas todo o diálogo e situações daquela casa nos dão o contraponto da superficialidade desejada dos outros três. Claro que há encenações, máscaras, mas tudo ali parece ser desnudado de uma maneira inteligente.
E, apesar de ser melhor roteirista que diretor, Woody Allen consegue bons momentos com as escolhas de câmera como a cena em que Milly se perde em Roma e um plano giratório nos dá a sensação exata de confusão, como se tudo parecesse igual naquelas construções antigas. Outro momento incrível é quando o personagem de Allen descobre o tenor, andando pelo corredor e parando assombrado na porta do banheiro, a forma como escolhe o plano e a montagem com a cena no chuveiro dão uma sensação bem engraçada. Por outro lado, a trilha sonora erra feio em escolher músicas temas para cada história, ainda que clássicos italianos, tornando-as uma espécie de legenda da troca de situação. Até os narradores têm sua música própria. Além de criar uma repetição chata, é extremante clichê e cansativa.
Para Roma com Amor é, então, um bom filme. Não é genial como Meia Noite em Paris, não é o melhor que Woody Allen pode nos apresentar, mas tem pontos positivos em um texto inteligente, com um humor ácido e tramas envolventes. Afinal, Woody Allen não é um "imbecille"* tão grande assim, nos dois sentidos...
* Piada apenas para quem viu o filme.
Para Roma com Amor (To Rome with Love, 2012 / USA / Itália)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Com: Woody Allen, Penélope Cruz, Jesse Eisenberg, Roberto Benigni, Alec Baldwin, Ellen Page
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Para Roma com Amor
2012-06-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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