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Festival Varilux - Parte 1

O Festival Varilux mais uma vez trouxe ao Brasil uma boa safra de filmes franceses, alguns que talvez nunca estreiem por aqui. Uma pena que, mais uma vez, não seja um festival com moldes mais populares, onde é possível se inscrever, comprar passaportes ou ter valores de ingressos mais em conta. Cada cinema continuou praticando seus próprios preços, o que dificulta acompanhar a todos os filmes.

O maior destaque do Festival foi mesmo o aclamado Intocáveis, mas teve também outras pérolas como Políssia. Outros filmes decepcionaram como My Way, o mito além da música sobre a carreira de Claude François e Paris-Manhatan, sobre uma moça apaixonada pelo diretor Woody Allen. Mas, em um balanço, foi mesmo um bom Festival. Vejamos mais detalhadamente alguns dos filmes.

E Agora, Aonde Vamos?

E Agora, Aonde Vamos?Uma pequena vila em meio a um país destruído pela guerra religiosa. Uma espécie de oásis mantido por mulheres incríveis que inventam milhares de artifícios para manter a paz. Ainda que aparente. E Agora, Aonde Vamos? é divertido, contagiante e emocionante. Um musical inusitado que já se inicia com uma cena extremamente plástica e tem na força de suas protagonistas a empatia necessária para conquistar o público.

A rixa entre cristãos e muçulmanos não parece atingir aquela pequena vila. Porém, a calmaria aparente tem o seu preço, o jogo de cintura das suas mulheres que criam coisas incríveis. E Nadine Labaki demonstra as desavenças de uma maneira muito fluida e cheia de ironia. A cena do discurso do prefeito antes de ligar a televisão é incrível. E é assistindo a televisão também que as mulheres começam a agir, criando confusões imensas na plateia para que os homens não prestem atenção na notícia da guerra.

E Agora, Aonde Vamos?Mas, é difícil com desconfianças e perdas de controle a todo o momento pelos homens. Qualquer coisa que pareça errada é erro do possível inimigo religioso. Essa divisão exata entre homens em guerra, mulheres lutando por paz é de uma sabedoria delicada. Mesmo que seja preciso forjar milagres e até contratar dançarinas para entreter seus maridos.

E Agora, Aonde Vamos? nunca nos situa em um país, o que é interessante. Aquela aldeia poderia estar em qualquer lugar, não é isso que importa, mas a questão religiosa e o desespero de suas moradoras. Nadine Labaki acerta ao colocar humor e números musicais nessa história densa. Ainda que o filme traga momentos de dor e reflexão aberta, tudo é construído de uma maneira sutil, ingênua até, mas gostosa de acompanhar.

Não há como não se solidarizar com a luta daquelas mulheres, mas também não dá para permanecer daquele jeito. Ainda que a última peripécia tenha sido a mais inteligente de todas, após a tragédia, o título do filme pula em nossa frente. Afinal, E Agora, Aonde Vamos? Nunca um título de filme coube tão bem na boca de seus personagens.


E Agora, Aonde Vamos? (Et Maintenant, on va où?, 2011 / França)
Direção: Nadine Labaki
Roteiro: Nadine Labaki e Thomas Bidegain
Com: Claude Baz Moussawbaa, Leyla Hakim e Nadine Labaki
Duração: 140 min.



Paris-Manhattan

Paris-ManhattanHá filmes que enganam pelo argumento, sem verdadeiramente enganar. Paris-Manhattan é o que promete sua sinopse, uma moça apaixonada por Woody Allen, que é pressionada por sua família para se casar, enquanto fica em seu quarto conversando com um famoso poster do diretor.

Essa inusitada situação traz momentos hilários, com as reflexões de Allen (que empresta sua voz à fantasia) e as reações da moça que cresce aos nossos olhos até chegar aos dias atuais. Só de olhar para a expressão enigmática do diretor e ouvi-lo já nos rende boas risadas. Mas, o problema é que Paris-Manhattan não se sustenta nisso. Pelo contrário, Sophie Lellouche explora menos as situações que esse argumento inusitado poderia render, como os filmes "indicados" pela protagonista que é farmacêutica, para investir em sua família louca e boba ao mesmo tempo.

Paris-ManhattanAlice, que é vidrada em Woody Allen e passa horas conversando com seu poster, acaba sendo a mais normal de todos os membros. Mas, isso não rende a boa trama que poderia. A caça do pai, da irmã e até do cunhado por um pretendente para a moça, chega a ser cansativa e repetitiva. A problemática da sobrinha com seu namorado misterioso é tola em todos os sentidos, inclusive na resolução. E a questão da traição no casamento da irmão proporciona as cenas mais vexatórias do filme. Isso sem falar da mãe e seu problema com o álcool que surge do nada.

Talvez o personagem mais interessante seja Victor, vivido pelo ator Patrick Bruel. Como um amigo conselheiro de Alice que vai se aproximando aos poucos, ele é sensato, inteligente e sortudo, por que não dizer? Ele é o homem real, o que pode tirar Alice daquele mundo que não é nada maravilhoso. E a relação dos dois convence mais do que qualquer outra situação no filme. Pena que ela também fica em segundo plano naquele emaranhado de atrapalhadas.

Ainda assim, é possível rir com um humor sutil que nos traz piadas internas de filmes de Woody Allen. Fora as escolhas de enquadramento que nos levam a vê-lo "contracenar" com Alice em "diálogos" memoráveis. Paris-Manhattan só precisava disso, Victor, Alice e Woody Allen, mas ao trazer a família, Sophie Lellouche desandou o seu primeiro passo.


Paris-Manhattan (Paris-Manhattan, 2012 / França)
Direção: Sophie Lellouche
Roteiro: Sophie Lellouche
Com: Alice Taglioni, Patrick Bruel, Marine Delterme e Woody Allen.
Duração: 77 min.

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