A Pixar nos acostumou mal. Tanto em sua técnica precisa quanto em seus roteiros envolventes com subcamadas para atingir a diversos públicos. O grande problema de Outback - Uma Galera Animal, nova animação da PlayArte, é esse. Apesar de bem feito na customização dos personagens, não chega a impressionar em detalhes, com um 3D básico e muitas paisagens de fundo estáticas. Apesar de uma história engraçada, é bastante infantil, boba até para os adultos. Ainda assim, um filme que vai divertir do princípio ao fim.
A trama traz a história de Johnny, um coala branco que é discriminado em seu habitat natural por ser diferente. Cansado de ser desprezado, o bichinho parte com dois bichinhos inusitados, um macaco fotógrafo e um demônio da tasmânia, que querem se aproveitar dele em um circo. O problema é que as aventuras não acabariam por aí. Um acidente leva o trio para uma comunidade de animais que é ameaçada pelo malvado crocodilo Bog, no deserto de Outback. E o pequeno Coala vai ter que se transformar em um herói para ajudá-los e finalmente encontrar o seu lar. Então, é uma aventura bem feita, cheia de clichês, como o herói por acaso, a possível parceira romântica forte e destemida, o grupo de crentes que o faz herói, o vilão malvado e seus comparsas. Isso sem falar na dupla de aproveitadores que fica sempre em cima do muro. Ainda assim, Outback traz um personagem inusitado, um wombat ancião que sempre aparece com frases "sábias" irônicas, em um estilo bem "o mestre dos magos" do desenho Caverna do Dragão. Suas aparições são as mais interessantes do filme.
Uma coisa interessante no roteiro é usar a questão do coala branco, um animal realmente raro que está em perigo de extinção, como ponto de partida. Apesar do mote ficar parecendo um patinho feio às avessas, não deixa de trazer uma questão humanitária curiosa. Mas, o desenvolvimento é muito pouco criativo, repetitivo e, por vezes, forçado, tornando Outback, de fato, um filme menor, ainda que a cadência do roteiro nos envolva e divirta o tempo inteiro. Pode parecer paradoxal, mas é que fica a sensação de algo completamente descartável. 
Ainda que Johnny seja uma fofura de bichinho, é um personagem frágil, sem grandes atrativos, nem identificações com a platéia. Assim como todos os demais que nos trazem um tom genérico de vários outros que já vimos por aí. Como já disse, o wombat ancião é o mais inusitado. Mas, mesmo ele, acaba se tornando repetitivo em sua previsão catastrófica da "morte" de Johnny, podendo irritar plateias mais exigentes. E para os que cresceram assistindo o Sítio do Pica Pau Amarelo, ainda é possível olhar para o vilão Bog em algumas cenas e cantarolar: "cuidado com a cuca que a cuca te pega". O crocodilo é a caricatura do malvado, andando em duas pernas e querendo acabar com o coala metido. A técnica é outro problema. Nossos olhos começam a se acostumar com o padrão atual de tecnologia, então muita coisa acaba incomodando. As paisagens estáticas soam mal feitas, a simulação da iluminação é pouco cuidada. Assim como os enquadramentos e distribuição em tela. Ainda assim, algumas cenas de ação com a projeção 3D dão uma boa imersão no cenário, a exemplo da cena inicial com todas aquelas descidas.
Para completar, a distribuição brasileira traz um título auto-explicativo com um trocadilho "espertinho" que pode afastar muita gente: "uma galera animal". O filme é isso, uma galerinha do barulho aprontando todas no deserto do Outback. E por incrível que pareça, não chega a irritar. Diverte mesmo os adultos, apesar de ser também facilmente esquecível.
Outback - Uma Galera Animal (The Outback, 2012 / Coréia do Sul / EUA)
Direção: Kyung Ho Lee
Roteiro: Chris Denk, Timothy Wayne Peternel
Duração: 85 min
