Dredd
Da HQ de Carlos Ezquerra e John Wagner surge o juiz Dredd. Um homem sem sentimentos, implacável em seu julgamento em prol da justiça em um mundo pós-apocalíptico onde julgar e executar na megalópole Mega City Um se tornou rotina de quase soldados intitulados juízes. Em 1995, Danny Cannon e Sylvester Stallone quase assassinaram o personagem com um filme de qualidade duvidosa. Agora, Peter Travis resgata-o dos quadrinhos para uma aventura forte e sem preocupações com o politicamente correto.
Primeiro é preciso ressaltar que Dredd não é um remake de O Juiz. É uma nova adaptação do personagem, com uma trama completamente diferente do filme de 95. Aqui, Dredd é encarregado de treinar uma novata candidata a juíza que tem poderes psíquicos. O problema é que logo no primeiro chamado, eles se vêem envolvidos com uma gangue perigosa liderada pela assustadora Ma-Ma. Todo o treinamento agora, vai valer a vida dos dois.
Pete Travis impõe a Dredd uma estética impressionantemente crua, com violência explícita. Mas, ao mesmo tempo, extremamente plástica. O uso do slow-motion dá um charme especial à trama, por estar completamente dentro da narrativa. Em Mega Ciy Um, existe uma droga chamada "Slo-Mo" (bem original, hehe), que faz seu usuário ver tudo a 1% da velocidade normal. A câmera quase fotográfica passeia pelos detalhes com um efeito impressionante, ainda mais em 3D, nos fazendo entrar no clima. E Travis ainda brinca com os pontos de vista dos personagens (nada parecido com seu mais famoso filme), nos dando em uma mesma cena a velocidade normal e slow em troca de planos rápidos, onde não apenas a imagem, como o som é contrastado de uma maneira muito impactante.
Esquecendo o politicamente correto que praticamente aboliu o sangue do cinema, Dredd é um festival de manchas vermelhas. Nada é poupado à platéia. Partes dos corpos rolam, cabeças são esmagadas, olhos furados, balas atravessam rostos. Tudo construído e demonstrado em detalhes. O filme é cru também na composição dos personagens. Personagens tipos, é verdade, não há nuanças, mas faz parte da narrativa aqui proposta. A ideia não é construir uma trajetória para os personagens, mas sim aquele mundo caótico dos quadrinhos. É uma escolha, não um erro.
E em se falando em personagens é preciso elogiar o comprometimento com que Karl Urban encarna Dredd, sem alteração de emoções. E sem tirar em nenhum momento o seu capacete para mostrar o rosto do ator, nisso palmas também para Pete Travis e para os produtores do filme que mantiveram a essência do personagem. Não há nele, reviravoltas, nem envolvimento pessoal. Ele é aquela máquina de justiça a que se propõe. Mas, para contrastar com a sua insensibilidade, claro, temos a novata vivida por Olivia Thirlby. Além de não usar capacete com a desculpa esfarrapada de prejudicar seus poderes psíquicos, ela é emocionalmente abalável. Vacila em vários momentos, tem dúvidas e se importa com os outros. E do outro lado do jogo temos ainda Lena Headey como a traficante Ma-Ma, um poço de maldade seria sua definição clichê, sem atenuantes.
Dredd é composto por ação e tensão constante. Aprisionados naquele prédio decadente de Peach Trees, eles estudam as possibilidades de vencer a luta sem tornar a narrativa cansativa em nenhum momento. A adrenalina fica em alta. Mas, a emoção parece anestesiada. Depois de tantos tiros e corpos voando, a morte começa a não impressionar mais. Não ficamos chocados quando todo um setor é destruído, levando homens, mulheres, crianças, bandidos ou inocentes, em rajadas de bala. O visual se torna o impacto, sem que raciocinemos com o que tudo aquilo possa significar.
Mesmo com corrupção, drogas, violência e luta por justiça, não nos é permitido paralelos com a vida real. Ou mesmo com uma possível sociedade futura. Dredd não nos dá o luxo de questionamentos, mas produz efeitos de impacto em nossas mentes. Tem a sua função. Principalmente em sua concepção estética. E é um ótimo filme naquilo em que se propõe. Na violência que choca, mas que depois se torna rotineira. Na direção de arte de um mundo decadente. Na trilha sonora minuciosamente escolhida.
Dredd é um filme para agradar aos fãs que mereciam algo melhor do que as peripécias de Sylvester Stallone. Muito bem realizado, impactante e esteticamente empolgante. Vazio, é verdade, não há transformação nem propósito em sua trajetória. Apenas mais um episódio na vida desse racional juiz. Mas, em sua proposta, é extremamente bem sucedido.
Dredd (Dredd 3D, 2012 / EUA)
Direção: Pete Travis
Roteiro: Alex Garland
Com: Karl Urban, Olivia Thirlby e Lena Headey
Duração: 95 min
Primeiro é preciso ressaltar que Dredd não é um remake de O Juiz. É uma nova adaptação do personagem, com uma trama completamente diferente do filme de 95. Aqui, Dredd é encarregado de treinar uma novata candidata a juíza que tem poderes psíquicos. O problema é que logo no primeiro chamado, eles se vêem envolvidos com uma gangue perigosa liderada pela assustadora Ma-Ma. Todo o treinamento agora, vai valer a vida dos dois.
Pete Travis impõe a Dredd uma estética impressionantemente crua, com violência explícita. Mas, ao mesmo tempo, extremamente plástica. O uso do slow-motion dá um charme especial à trama, por estar completamente dentro da narrativa. Em Mega Ciy Um, existe uma droga chamada "Slo-Mo" (bem original, hehe), que faz seu usuário ver tudo a 1% da velocidade normal. A câmera quase fotográfica passeia pelos detalhes com um efeito impressionante, ainda mais em 3D, nos fazendo entrar no clima. E Travis ainda brinca com os pontos de vista dos personagens (nada parecido com seu mais famoso filme), nos dando em uma mesma cena a velocidade normal e slow em troca de planos rápidos, onde não apenas a imagem, como o som é contrastado de uma maneira muito impactante.
Esquecendo o politicamente correto que praticamente aboliu o sangue do cinema, Dredd é um festival de manchas vermelhas. Nada é poupado à platéia. Partes dos corpos rolam, cabeças são esmagadas, olhos furados, balas atravessam rostos. Tudo construído e demonstrado em detalhes. O filme é cru também na composição dos personagens. Personagens tipos, é verdade, não há nuanças, mas faz parte da narrativa aqui proposta. A ideia não é construir uma trajetória para os personagens, mas sim aquele mundo caótico dos quadrinhos. É uma escolha, não um erro.
E em se falando em personagens é preciso elogiar o comprometimento com que Karl Urban encarna Dredd, sem alteração de emoções. E sem tirar em nenhum momento o seu capacete para mostrar o rosto do ator, nisso palmas também para Pete Travis e para os produtores do filme que mantiveram a essência do personagem. Não há nele, reviravoltas, nem envolvimento pessoal. Ele é aquela máquina de justiça a que se propõe. Mas, para contrastar com a sua insensibilidade, claro, temos a novata vivida por Olivia Thirlby. Além de não usar capacete com a desculpa esfarrapada de prejudicar seus poderes psíquicos, ela é emocionalmente abalável. Vacila em vários momentos, tem dúvidas e se importa com os outros. E do outro lado do jogo temos ainda Lena Headey como a traficante Ma-Ma, um poço de maldade seria sua definição clichê, sem atenuantes.
Dredd é composto por ação e tensão constante. Aprisionados naquele prédio decadente de Peach Trees, eles estudam as possibilidades de vencer a luta sem tornar a narrativa cansativa em nenhum momento. A adrenalina fica em alta. Mas, a emoção parece anestesiada. Depois de tantos tiros e corpos voando, a morte começa a não impressionar mais. Não ficamos chocados quando todo um setor é destruído, levando homens, mulheres, crianças, bandidos ou inocentes, em rajadas de bala. O visual se torna o impacto, sem que raciocinemos com o que tudo aquilo possa significar.
Mesmo com corrupção, drogas, violência e luta por justiça, não nos é permitido paralelos com a vida real. Ou mesmo com uma possível sociedade futura. Dredd não nos dá o luxo de questionamentos, mas produz efeitos de impacto em nossas mentes. Tem a sua função. Principalmente em sua concepção estética. E é um ótimo filme naquilo em que se propõe. Na violência que choca, mas que depois se torna rotineira. Na direção de arte de um mundo decadente. Na trilha sonora minuciosamente escolhida.
Dredd é um filme para agradar aos fãs que mereciam algo melhor do que as peripécias de Sylvester Stallone. Muito bem realizado, impactante e esteticamente empolgante. Vazio, é verdade, não há transformação nem propósito em sua trajetória. Apenas mais um episódio na vida desse racional juiz. Mas, em sua proposta, é extremamente bem sucedido.
Dredd (Dredd 3D, 2012 / EUA)
Direção: Pete Travis
Roteiro: Alex Garland
Com: Karl Urban, Olivia Thirlby e Lena Headey
Duração: 95 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Dredd
2012-09-22T11:18:00-03:00
Amanda Aouad
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