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FICI - O Pequeno Jornalista: Zarafa

ZarafaSexta-feira fui convidada pelo FICI para participar da sessão O Pequeno Jornalista. Após a sessão do filme Zarafa, conversei com as crianças, junto ao crítico Amenar Costa, sobre as funções possíveis de jornalista cultural diante de um filme. Falamos sobre as matérias possíveis com curiosidades, novidades e informações gerais sobre os filmes a serem lançados. Sobre as entrevistas com realizadores e as diversas funções envolvidas em um filme. E claro, sobre a crítica, explicando um pouco do olhar diante de um filme.

Nessa parte, começamos a provocar a nossa plateia, demonstrando a eles como deve ser uma análise. Perguntamos sobre seus filmes preferidos e o porquê disso. Sobre o que acharam de Zarafa e sobre o que o filme falava. Se eles recomendariam o filme aos amigos. E tiramos também algumas dúvidas sobre o enredo. Foi uma experiência bastante rica perceber a atenção e visão dos pequenos. Fiquei surpresa com a variedade dos filmes citados, quase nenhum infantil sendo uma platéia de crianças de uma média de 10 anos, e com alguns comentários. Apesar da maioria responder que gostou porque era legal, ou coisa do gênero, alguns conseguiram desenvolver um raciocínio interessante sobre suas preferências.

ZarafaFoi muito bom perceber também o quanto eles prestaram atenção no filme assistido, lembrando de detalhes e discutindo o enredo. A dúvida ficou por conta da compreensão do vilão do filme, o mercador de escravos, que as vezes se confundia, para eles, com o beduíno Hassan. Talvez essa confusão seja porque o protagonista Maki, apesar de ser ajudado por Hassan, acaba brigando com ele várias vezes.

Apesar da euforia que dominou a sala quando começamos a circular perguntando sobre os filmes preferidos, no geral, a plateia se comportou de uma forma bem educada, participando e prestando a atenção. É sempre bom poder falar com crianças e demonstrar um pouco para elas que cinema pode ser mais do que simples diversão passageira. Fico feliz que o FICI continue trazendo experiências assim para todos nós.

Zarafa

ZarafaA animação de Rémi Bezançon e Jean-Christophe Lie gerou polêmica ao ser lançada. Por contar a história da primeira girafa da França, muita gente não aceitou a licença poética e se revoltou com a deturpação da verdade. Mas, o fato é que Zarafa é uma fábula sobre amizade, promessas e sobrevivência das tribos africanas.

O pequeno Maki é um dos muitos africanos presos por um mercador de escravos. Um dia, ele consegue fugir e acaba conhecendo um grupo de girafas, passando a viver com elas. Quando o mercador o encontra, acaba matando um dos animais, mas Maki consegue fugir com uma filhote que ele chama de Zarafa, com a ajuda de um beduíno chamado Hassan. Apesar de o proteger, Hassan acaba se envolvendo em uma missão que desagrada Maki, ele tem que levar a girafa Zarafa como um presente para o rei da França em troca de apoio para libertar Alexandria dos turcos. Começa, então, uma jornada do menino para tentar resgatar sua amiga e cumprir a promessa que ele fez à mãe do animal de sempre protegê-la e levá-la de volta para casa.

ZarafaToda a narrativa é contada através de um ancião que explica a história para um grupo de crianças de sua tribo, sentado embaixo de um baobá. A visão é bela e a construção, apesar de simples, tem nuanças interessantes como a própria história da África e suas tribos desfalcadas pelo tráfico indiscriminado de escravos. A ligação de Maki com outra menina africana de nome Sula apesar de clichê, tem seu charme. E a viagem de Zarafa para a França, apesar de fantasiosa não deixa de ser divertida para os pequenos.

Claro que vacas e menino caindo de pára-quedas em um navio de piratas é forçar nossa paciência, assim como a dança grega sem o menor contexto. Assim como a caricatura do rei francês e sua corte pode ser uma crítica exagerada. Mas, tudo parece não ter tanto peso diante da fábula da amizade entre o garoto e a girafinha. É bonito ver sua dedicação, seu empenho de cumprir uma promessa feita e tudo o que ele aprende em sua jornada. Zarafa acaba trazendo valores esquecidos em muitas obras infantis que, em uma linguagem rápida, preferem entreter apenas com cenas mirabolantes.

ZarafaHá furos e falta de sentido em algumas questões como o fato deles não terem usado o balão para ajudar Zarafa a fugir do zoológico já que sua cela era sem teto. Ou a personalidade da pirata Bouboulina que a princípio parece assustadora, mas logo se torna uma lady mansa e até se insinua para Hassan. A personagem Sula também fica pouco desenvolvida, sempre aparecendo e desaparecendo apenas para gritar "Maki". A resolução do caso Zarafa também é meio forçada. Mas, o conjunto da obra acaba desculpando esses deslizes.

O mesmo acontece com a parte técnica. Ainda que o 2D aqui seja limitado, onde podemos perceber a economia de cenários em movimento em uma estrutura próxima das animações antigas, o filme tem um visual bonito. Explora bem as paisagens dos países por onde passa, principalmente nas imagens aéreas que o balão proporciona, resultando em um produto bem feito. Bastante infantil, mas, ainda assim com um tema que rende boas discussões.


Zarafa (Zarafa, 2012 / França)
Direção: Rémi Bezançon, Jean-Christophe Lie
Roteiro: Alexander Abela, Rémi Bezançon
Com: Max Renaudin Pratt, Simon Abkarian e François-Xavier Demaison
Duração: 80 min

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