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Jorge Amado na terra de Gláuber Rocha
Jorge Amado na terra de Gláuber Rocha
Um dos maiores escritores do mundo, Jorge Amado se dizia um contador de "causos". É verdade, suas histórias são de pessoas que ele conheceu, de personagens que habitaram as ruas de Salvador, do Sul da Bahia, do Recôncavo, com seus sonhos, suas dores, suas esperanças. Uma miscigenação própria que define o próprio povo brasileiro e que Jorge soube retratar tão bem.
É preciso manter viva a sua obra. E aproveitando o centenário do escritor, surgiu o projeto Jorge Cine Amado. A proposta simples e direta: falar de Jorge Amado para alunos do ensino médio de escolas públicas pelo interior do Estado da Bahia. Um total de 18 cidades, para exibir filmes e conduzir um bate-papo sobre o escritor e suas obras, tendo como ponto de partida os filmes, mas sem nunca esquecer dos livros.
Vários foram os palestrantes e coube a mim, a cidade de Vitória da Conquista. Terra onde nasceu outro baiano ilustre, Gláuber Rocha. E bem na época da Mostra de Cinema da cidade. Tudo pareceu ainda mais mágico. Uma confluência bem vinda que nos levou a dois dias intensos, mais de seiscentos alunos no primeiro dia para ver Capitães da Areia, de Cecília Amado, Jorge Amado, de João Moreira Salles, e Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. No segundo dia, público ainda mais intenso, com mais de mil pessoas para o documentário Jorjamado no Cinema, de Gláuber Rocha, Quincas Berro D'água de Sérgio Machado, e Tieta, de Cacá Diegues.
E nisso tudo, eu. Com a missão de fazer a turma entender que aquilo ali era mais do que um entretenimento leve em um dia atípico de aula. Mais do que passar os filmes, o projeto sempre visou despertar corações. Tocar nossos jovens para a importância cultural daquele ser que retratou a eles próprios. Através da identificação abre-se o mundo e a literatura pode os levar a conhecimentos e gostos antes nunca vistos nos livros escolares. Por isso, é tão importante o link do visto na tela, com as páginas dos livros e as ruas.
Bate-papos rápidos, com perguntas ainda tímidas no primeiro dia, mas que nos trazia a responsabilidade de olhos atentos esperando por novos conhecimentos. É uma experiência indescritível, ainda mais com o formato de arena do auditório do Centro de Cultura da cidade. Estar com um microfone nas mãos e falar de Jorge Amado e seus temas traz uma energia imensa. Um homem que falou de política, de comunismo, de opressão dos coronéis, de mulheres, de sentimentos, de raças, religiões e amores conturbados, ou doces como o de Guma, em Mar Morto, um dos romances mais poéticos do escritor.
A mostra de filmes foi apenas uma mostra, de fato. Seis filmes, quatro livros expostos, diante de uma obra com 36 títulos. Mas, é apenas a fagulha inicial. Tivemos aqui o melhor de Jorge Amado no Cinema, para servir como inspiração e para instigar novas buscas. O impacto inicial com Capitães da Areia, um filme / livro de uma idealização maior do escritor foi a melhor escolha. No auge, o seu frescor comunista, na esperança por um mundo melhor, igualitário. Mundo esse que desabou, como ele mesmo falou no documentário de Moreira Salles, após conhecer as atrocidades da ditadura socialista, tão cruel quanto qualquer regime totalitário.
A experiência de vida de um homem que nos faz ver além do superficial, e que alguns gostam de menosprezar, por estar sempre retratando as zonas pobres das cidades, a prostituição, a bebedeira, jogatina, a vadiagem. Lembram de Vadinho e Quincas para jogar pedra e esquecem de Pedro Arcanjo ou Antônio Balduíno, por exemplo. Ou do próprio Guma, trabalhador, homem correto. Nem só de vagabundos vive as obras de Jorge. Mas, sim de pessoas do povo. Pessoas que lutam para viver em um mundo injusto e opressor. Negros que procuram respeito aos seus direitos. Homens e mulheres excluídos da história oficial. Brasileiros, sem preconceitos, sem raças, sem religiões únicas. Uma mistura saudável que só a gente sabe fazer e só Jorge Amado soube retratar. Agradeço a oportunidade de ter passado um pouco desse universo aos estudantes de Vitória da Conquista.
Um agradecimento especial a equipe que me acompanhou, Caco Monteiro (idealizador do projeto), Amanda Gracioli e Maria Carolina. E a João Carlos Sampaio, pelo convite.
Vejam mais algumas fotos e "salve Jorge"!
É preciso manter viva a sua obra. E aproveitando o centenário do escritor, surgiu o projeto Jorge Cine Amado. A proposta simples e direta: falar de Jorge Amado para alunos do ensino médio de escolas públicas pelo interior do Estado da Bahia. Um total de 18 cidades, para exibir filmes e conduzir um bate-papo sobre o escritor e suas obras, tendo como ponto de partida os filmes, mas sem nunca esquecer dos livros.
Vários foram os palestrantes e coube a mim, a cidade de Vitória da Conquista. Terra onde nasceu outro baiano ilustre, Gláuber Rocha. E bem na época da Mostra de Cinema da cidade. Tudo pareceu ainda mais mágico. Uma confluência bem vinda que nos levou a dois dias intensos, mais de seiscentos alunos no primeiro dia para ver Capitães da Areia, de Cecília Amado, Jorge Amado, de João Moreira Salles, e Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. No segundo dia, público ainda mais intenso, com mais de mil pessoas para o documentário Jorjamado no Cinema, de Gláuber Rocha, Quincas Berro D'água de Sérgio Machado, e Tieta, de Cacá Diegues.
E nisso tudo, eu. Com a missão de fazer a turma entender que aquilo ali era mais do que um entretenimento leve em um dia atípico de aula. Mais do que passar os filmes, o projeto sempre visou despertar corações. Tocar nossos jovens para a importância cultural daquele ser que retratou a eles próprios. Através da identificação abre-se o mundo e a literatura pode os levar a conhecimentos e gostos antes nunca vistos nos livros escolares. Por isso, é tão importante o link do visto na tela, com as páginas dos livros e as ruas.
Bate-papos rápidos, com perguntas ainda tímidas no primeiro dia, mas que nos trazia a responsabilidade de olhos atentos esperando por novos conhecimentos. É uma experiência indescritível, ainda mais com o formato de arena do auditório do Centro de Cultura da cidade. Estar com um microfone nas mãos e falar de Jorge Amado e seus temas traz uma energia imensa. Um homem que falou de política, de comunismo, de opressão dos coronéis, de mulheres, de sentimentos, de raças, religiões e amores conturbados, ou doces como o de Guma, em Mar Morto, um dos romances mais poéticos do escritor.
A mostra de filmes foi apenas uma mostra, de fato. Seis filmes, quatro livros expostos, diante de uma obra com 36 títulos. Mas, é apenas a fagulha inicial. Tivemos aqui o melhor de Jorge Amado no Cinema, para servir como inspiração e para instigar novas buscas. O impacto inicial com Capitães da Areia, um filme / livro de uma idealização maior do escritor foi a melhor escolha. No auge, o seu frescor comunista, na esperança por um mundo melhor, igualitário. Mundo esse que desabou, como ele mesmo falou no documentário de Moreira Salles, após conhecer as atrocidades da ditadura socialista, tão cruel quanto qualquer regime totalitário.
A experiência de vida de um homem que nos faz ver além do superficial, e que alguns gostam de menosprezar, por estar sempre retratando as zonas pobres das cidades, a prostituição, a bebedeira, jogatina, a vadiagem. Lembram de Vadinho e Quincas para jogar pedra e esquecem de Pedro Arcanjo ou Antônio Balduíno, por exemplo. Ou do próprio Guma, trabalhador, homem correto. Nem só de vagabundos vive as obras de Jorge. Mas, sim de pessoas do povo. Pessoas que lutam para viver em um mundo injusto e opressor. Negros que procuram respeito aos seus direitos. Homens e mulheres excluídos da história oficial. Brasileiros, sem preconceitos, sem raças, sem religiões únicas. Uma mistura saudável que só a gente sabe fazer e só Jorge Amado soube retratar. Agradeço a oportunidade de ter passado um pouco desse universo aos estudantes de Vitória da Conquista.
Um agradecimento especial a equipe que me acompanhou, Caco Monteiro (idealizador do projeto), Amanda Gracioli e Maria Carolina. E a João Carlos Sampaio, pelo convite.
Vejam mais algumas fotos e "salve Jorge"!
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Jorge Amado na terra de Gláuber Rocha
2012-11-10T07:30:00-03:00
Amanda Aouad
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