Os Fantasmas Contra-Atacam
De todas as histórias de Natal, o conto de Charles Dickens me parece o mais encantador. Quer dizer, isso tirando as questões relacionadas ao nascimento do Cristo em si. Porque Scrooge nos fala de uma maneira universal, sem Papai Noel (símbolo do capitalismo) ou mesmo caráter religioso (já que nem todo mundo é cristão), sobre a necessidade de sermos pessoas melhores. Talvez por isso tenha sido tantas vezes levado ao cinema, das mais diversas maneiras.
Uma delas é essa comédia rasgada protagonizada por Bill Murray que já foi figura fácil em diversas Sessões da Tarde. Os Fantasmas Contra-Atacam dirigido por Richard Donner tem um viés interessante, já que usa da metalinguagem para construir sua trama de uma maneira criativa e divertida. Murray é Frank Cross, presidente de um canal televisivo IBC, que teve a "brilhante" ideia de fazer um show ao vivo na noite de Natal. O show seria exatamente a encenação do conto de Charles Dickens, começaria às 22h e terminaria nas doze badaladas. Ou seja, atores e funcionários juntos, trabalhando em plena noite de Natal, enquanto famílias assistem em suas casas.
Só essa ideia já nos dá um perfil do personagem. Mas, toda a primeira parte do filme o constrói com um monstro ainda pior que o Scrooge original. Primeiro na apresentação das vinhetas de fim de ano, com todos com medo de seu veredito. Depois, na própria vinheta que ele criou para o especial, com bombas e terrorismo capaz de matar velhinhas do coração. Por fim, pelo embate e demissão do atrapalhado funcionário Eliot, vivido por Bobcat Goldthwait. Isso sem falar na escolha dos presentes de Natal junto com a sua secretária, onde ele divide as pessoas entre as que merecem receber toalha e vídeo cassete.
Aliás, a sua relação com a secretária é outro ponto complexo, já que depende dela e ao mesmo tempo a trata como um capacho. A moça ainda tem um filhinho traumatizado, que não fala e é feito de bobo pelos próprios irmãos. Ela e Eliot seriam uma espécie de mistura do funcionário de Scrooge. Frank não parece mesmo ter muito jeito com as pessoas, seu único irmão é quase renegado, ganharia uma toalha se a secretária não mudasse. E a ex-namorada Claire, também cansou das escolhas dele, apesar de continuar amando-o.
É quando ele é avisado pelo ex-chefe que surge no escritório como um morto-vivo em decomposição de que precisa mudar. Por isso, receberá a visita de três fantasmas. O do passado, do presente e do futuro. Como a televisão está em pleno processo de pré-produção do Conto de Natal, essa mistura fica interessante, servindo muitas vezes de gancho entre uma trama e outra. Porém, ainda que os fantasmas que visitam Frank sejam parecidos com os dos contos, há um exagero caricatural que leva tudo para a comédia, perdendo um pouco da tensão daquela história.
Há ainda o recurso batido de piadas pastelão como a produtora que apanha. A cada nova cena, ela está lá, toda quebrada, sofrendo mais um acidente. Uma linguagem própria para atrair crianças. Já que há um tom leve em todo filme, mesmo nos momentos mais tensos. O ritmo é também ágil, com piadas e ação a todo o momento, como na cena do restaurante, onde Frank tem diversas alucinações. Um jogo para agradar a todos os públicos.
Mas, o momento-chave é mesmo a virada final, após todas as viagens, reflexões e descobertas. Porque Os Fantasmas Contra-Atacam fala disso. Dessa possibilidade que o Natal nos traz de refletir sobre nossas atitudes, de pensar na vida, de estar entre amigos, pessoas queridas e buscarmos sermos melhores. Não apenas nessa noite mágica, por qual motivo seja. Mas, sempre. Só depende de nós. Foi isso também que o Cristo veio nos dizer, é isso que ele representa, o amor. Então, "ponha um pouco de amor no seu coração" e Feliz Natal!
Os Fantasmas Contra-Atacam (Scrooged, 1988 / EUA)
Direção: Richard Donner
Roteiro: Mitch Glazer, Michael O'Donoghue
Com: Bill Murray, Karen Allen, Bobcat Goldthwait, John Forsythe, David Johansen e Carol Kane
Duração: 101 min.
Uma delas é essa comédia rasgada protagonizada por Bill Murray que já foi figura fácil em diversas Sessões da Tarde. Os Fantasmas Contra-Atacam dirigido por Richard Donner tem um viés interessante, já que usa da metalinguagem para construir sua trama de uma maneira criativa e divertida. Murray é Frank Cross, presidente de um canal televisivo IBC, que teve a "brilhante" ideia de fazer um show ao vivo na noite de Natal. O show seria exatamente a encenação do conto de Charles Dickens, começaria às 22h e terminaria nas doze badaladas. Ou seja, atores e funcionários juntos, trabalhando em plena noite de Natal, enquanto famílias assistem em suas casas.
Só essa ideia já nos dá um perfil do personagem. Mas, toda a primeira parte do filme o constrói com um monstro ainda pior que o Scrooge original. Primeiro na apresentação das vinhetas de fim de ano, com todos com medo de seu veredito. Depois, na própria vinheta que ele criou para o especial, com bombas e terrorismo capaz de matar velhinhas do coração. Por fim, pelo embate e demissão do atrapalhado funcionário Eliot, vivido por Bobcat Goldthwait. Isso sem falar na escolha dos presentes de Natal junto com a sua secretária, onde ele divide as pessoas entre as que merecem receber toalha e vídeo cassete.
Aliás, a sua relação com a secretária é outro ponto complexo, já que depende dela e ao mesmo tempo a trata como um capacho. A moça ainda tem um filhinho traumatizado, que não fala e é feito de bobo pelos próprios irmãos. Ela e Eliot seriam uma espécie de mistura do funcionário de Scrooge. Frank não parece mesmo ter muito jeito com as pessoas, seu único irmão é quase renegado, ganharia uma toalha se a secretária não mudasse. E a ex-namorada Claire, também cansou das escolhas dele, apesar de continuar amando-o.
É quando ele é avisado pelo ex-chefe que surge no escritório como um morto-vivo em decomposição de que precisa mudar. Por isso, receberá a visita de três fantasmas. O do passado, do presente e do futuro. Como a televisão está em pleno processo de pré-produção do Conto de Natal, essa mistura fica interessante, servindo muitas vezes de gancho entre uma trama e outra. Porém, ainda que os fantasmas que visitam Frank sejam parecidos com os dos contos, há um exagero caricatural que leva tudo para a comédia, perdendo um pouco da tensão daquela história.
Há ainda o recurso batido de piadas pastelão como a produtora que apanha. A cada nova cena, ela está lá, toda quebrada, sofrendo mais um acidente. Uma linguagem própria para atrair crianças. Já que há um tom leve em todo filme, mesmo nos momentos mais tensos. O ritmo é também ágil, com piadas e ação a todo o momento, como na cena do restaurante, onde Frank tem diversas alucinações. Um jogo para agradar a todos os públicos.
Mas, o momento-chave é mesmo a virada final, após todas as viagens, reflexões e descobertas. Porque Os Fantasmas Contra-Atacam fala disso. Dessa possibilidade que o Natal nos traz de refletir sobre nossas atitudes, de pensar na vida, de estar entre amigos, pessoas queridas e buscarmos sermos melhores. Não apenas nessa noite mágica, por qual motivo seja. Mas, sempre. Só depende de nós. Foi isso também que o Cristo veio nos dizer, é isso que ele representa, o amor. Então, "ponha um pouco de amor no seu coração" e Feliz Natal!
Os Fantasmas Contra-Atacam (Scrooged, 1988 / EUA)
Direção: Richard Donner
Roteiro: Mitch Glazer, Michael O'Donoghue
Com: Bill Murray, Karen Allen, Bobcat Goldthwait, John Forsythe, David Johansen e Carol Kane
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Fantasmas Contra-Atacam
2012-12-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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