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Jeremie Renier
Martina Gusman
Pablo Trapero
Ricardo Darín
Elefante Branco
Elefante Branco
Logo no início do filme, o personagem de Ricardo Darín explica ao de Jérémie Renier o que é o Elefante Branco, a favela de Villa Virgen que tem uma promessa eterna de construção de novas moradias para os moradores locais e que nunca fica pronta. Porém, ao final da trama fica a sensação de que o verdadeiro Elefante Branco, a imensa instituição que não serve para nada, é outra, bem mais próxima da vida dos dois padres. E isso faz do filme de Pablo Trapero algo ainda mais forte e perspicaz em sua crítica social e religiosa.
A história se passa em meio a uma favela, o tráfico, a briga de gangues e a espera do dinheiro para obras, mas é impressionante como Pablo Trapero consegue construir um drama íntimo diante de questões tão amplas. Toda a ação é centrada em três pilares, dois padres interpretados por Ricardo Darín e Jérémie Renier, e uma ativista social vivida por Martina Gusman (que junto com Darín, tinha feito o outro filme de Trapero, Abutres). São eles que conduzem nossos olhares por cada problema ali vivido, principalmente pelo garoto apelidado de Macaquinho que terá ações pontuais por todo o filme.
Cada um tem a sua construção bem definida, fugindo de estereótipos, intercalando motivos pessoais com escolhas gerais. Darín é Julián, o pároco local, um homem que precisa encontrar um substituto para si, preocupado com o futuro daquelas pessoas. Todo o seu trabalho social segue uma linha tênue de respeito de regras e envolvimento parcial. Porém, o seu escolhido, o padre Nicolás não pensa assim. Impulsivo, o personagem de Jérémie Renier não aceita seguir simplesmente a mesma cartilha, acaba se envolvendo mais do que devia com a ativista Luciana de Martina Gusman, e também com a população local.
Esse embate traz bons momentos para o filme como quando Nicolás entra em um dos territórios do tráfico para resgatar o corpo do parente do traficante rival. A câmera acompanha os passos do padre entrando nos becos, portas, salas secretas, em um ritmo bastante realista, criando uma tensão crescente. Tudo isso, principalmente, porque os outros padres já haviam dito que era preciso esperar Julián, pois só ele resolveria aquilo. Mas, Nicolás não quer esperar, acredita que recuperar o corpo é a melhor solução para não iniciar uma guerra e simplesmente vai. Ficamos o tempo inteiro esperando que o pior aconteça, por causa de sua impulsividade.
Outro ponto chave é a greve e piquete nas obras, com a população acampando no local. Tanto Nicolás quanto Luciana estão lá, ajudando os manifestantes e até os insuflando em diversos momentos, o que faz com que Julián também se irrite e se preocupe, vendo de sua janela toda a confusão armada e a chegada da polícia. Mas, mesmo assim, ele não é um padre ausente, não se omite à luta, nem mesmo aceita aquela situação passivamente, apenas vê a questão de uma maneira mais fria, menos apaixonada como os outros dois. Sua experiência o faz preferir a diplomacia, o problema é que ela se demonstra não ser a melhor opção.
O jogo de relações humanas díspares demonstrado em Elefante Branco é um retrato cruel do que vemos em diversos pontos de países subdesenvolvidos, com pessoas pobres sofrendo, sendo ludibriadas pelo governo e tendo a Igreja Católica como um ponto de conciliação. Uma construção deturpada de fé, que nos leva a acomodação pela espera da justiça divina. Porém, que não parece funcionar mais tão bem quanto antes. A própria ação dos moradores demonstra isso. E a forma como Pablo Trapero vai nos conduzindo por dentro dessas minúcias é muito competente.
Elefante Branco é mesmo um forte retrato de uma situação de calamidade. Uma denúncia sem medos, sem panos quentes, que vai em um crescente narrativo que nos abarca. O clímax não nos comove apenas pela constatação da impotência diante de determinados fatos, mas pela própria discrepância dos que querem ajudar e dos que querem apenas posar de benevolentes. Algo parecido com a própria construção da crítica social em nosso cinema, expondo o óbvio sem a força de metade dessas imagens da obra argentina. Pablo Trapero nos conta uma história, nos coloca dentro dela e nos faz sentir sua força com uma competência que vemos em poucos cineastas.
Elefante Branco (Elefante blanco, 2012 / Argentina)
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Pablo Trapero, Martín Mauregui, Santiago Mitre e Alejandro Fadel
Com: Ricardo Darín, Jérémie Renier e Martina Gusman
Duração: 110 min.
A história se passa em meio a uma favela, o tráfico, a briga de gangues e a espera do dinheiro para obras, mas é impressionante como Pablo Trapero consegue construir um drama íntimo diante de questões tão amplas. Toda a ação é centrada em três pilares, dois padres interpretados por Ricardo Darín e Jérémie Renier, e uma ativista social vivida por Martina Gusman (que junto com Darín, tinha feito o outro filme de Trapero, Abutres). São eles que conduzem nossos olhares por cada problema ali vivido, principalmente pelo garoto apelidado de Macaquinho que terá ações pontuais por todo o filme.
Cada um tem a sua construção bem definida, fugindo de estereótipos, intercalando motivos pessoais com escolhas gerais. Darín é Julián, o pároco local, um homem que precisa encontrar um substituto para si, preocupado com o futuro daquelas pessoas. Todo o seu trabalho social segue uma linha tênue de respeito de regras e envolvimento parcial. Porém, o seu escolhido, o padre Nicolás não pensa assim. Impulsivo, o personagem de Jérémie Renier não aceita seguir simplesmente a mesma cartilha, acaba se envolvendo mais do que devia com a ativista Luciana de Martina Gusman, e também com a população local.
Esse embate traz bons momentos para o filme como quando Nicolás entra em um dos territórios do tráfico para resgatar o corpo do parente do traficante rival. A câmera acompanha os passos do padre entrando nos becos, portas, salas secretas, em um ritmo bastante realista, criando uma tensão crescente. Tudo isso, principalmente, porque os outros padres já haviam dito que era preciso esperar Julián, pois só ele resolveria aquilo. Mas, Nicolás não quer esperar, acredita que recuperar o corpo é a melhor solução para não iniciar uma guerra e simplesmente vai. Ficamos o tempo inteiro esperando que o pior aconteça, por causa de sua impulsividade.
Outro ponto chave é a greve e piquete nas obras, com a população acampando no local. Tanto Nicolás quanto Luciana estão lá, ajudando os manifestantes e até os insuflando em diversos momentos, o que faz com que Julián também se irrite e se preocupe, vendo de sua janela toda a confusão armada e a chegada da polícia. Mas, mesmo assim, ele não é um padre ausente, não se omite à luta, nem mesmo aceita aquela situação passivamente, apenas vê a questão de uma maneira mais fria, menos apaixonada como os outros dois. Sua experiência o faz preferir a diplomacia, o problema é que ela se demonstra não ser a melhor opção.
O jogo de relações humanas díspares demonstrado em Elefante Branco é um retrato cruel do que vemos em diversos pontos de países subdesenvolvidos, com pessoas pobres sofrendo, sendo ludibriadas pelo governo e tendo a Igreja Católica como um ponto de conciliação. Uma construção deturpada de fé, que nos leva a acomodação pela espera da justiça divina. Porém, que não parece funcionar mais tão bem quanto antes. A própria ação dos moradores demonstra isso. E a forma como Pablo Trapero vai nos conduzindo por dentro dessas minúcias é muito competente.
Elefante Branco é mesmo um forte retrato de uma situação de calamidade. Uma denúncia sem medos, sem panos quentes, que vai em um crescente narrativo que nos abarca. O clímax não nos comove apenas pela constatação da impotência diante de determinados fatos, mas pela própria discrepância dos que querem ajudar e dos que querem apenas posar de benevolentes. Algo parecido com a própria construção da crítica social em nosso cinema, expondo o óbvio sem a força de metade dessas imagens da obra argentina. Pablo Trapero nos conta uma história, nos coloca dentro dela e nos faz sentir sua força com uma competência que vemos em poucos cineastas.
Elefante Branco (Elefante blanco, 2012 / Argentina)
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Pablo Trapero, Martín Mauregui, Santiago Mitre e Alejandro Fadel
Com: Ricardo Darín, Jérémie Renier e Martina Gusman
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Elefante Branco
2013-01-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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