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Gael García Bernal
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Pablo Larraín
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1988, o Chile vive uma ditadura que já dura 15 anos. A pressão internacional é grande e o ditador Pinochet resolve promover um Plebiscito perguntando à população se ele deve continuar no governo por mais 8 anos ou não. Um jogo arriscado, que ele não espera perder, assim como seus adversários acham que é apenas uma manobra para continuar a ditadura com o "aval" do povo. Mas, o mundo está de olho no Chile durante esse período.
No meio dessa batalha está o publicitário René Saavedra, vivido por Gael García Bernal. Um homem exilado, que atualmente faz o seu trabalho sem muitos ideais, ainda que tenha um filho com uma revolucionária. Porém, ele acaba sendo contratado pela campanha do Não para criar uma estratégia que possa comover a população e alertar para a necessidade de votar sem medo. Começa então, um jogo de imagens perigoso e interessante ao mesmo tempo, já que René não acredita em campanhas de conscientização. Sua ideia é criar um clima de euforia com a possibilidade de um Chile livre.
Para falar de um período histórico que tem a televisão chilena como principal arma, Pablo Larraín cria uma estética especial para seu filme. Não que não tenha inovações tecnológicas, mas a dimensão da tela, por exemplo, é 4x3, e há um jogo estético interessante, principalmente na abertura e encerramento com uma passagem de folhas de flipchart onde as imagens estão levemente fora de registro.
Outro ponto interessante das escolhas de direção é a utilização de imagens reais das duas campanhas. Temos inclusive imagens do próprio Pinochet fazendo discursos e tentando ludibriar a população. E depoimentos de artistas conhecidos como Jane Fonda, Christopher Reeve e Richard Dreyfuss. O paralelo entre as gravações e os programas é muito bem realizado, com simulações das mesmas situações e construção de um clima de tensão próprio de campanhas políticas. As escolhas, os comentários, a forma como cada equipe vai analisando a concorrente, o clima de tensão. Tudo segue um ritmo bem realista e instigante.
Claro, que aquela campanha tem uma tensão a mais. O Chile ainda vive a ditadura, a censura e os coligados da campanha do Não tem que enfrentar uma ameaça velada do exército. Há todo um jogo psicológico, principalmente à noite, com as famílias daquelas pessoas, o que deixa a disputa mais pessoal. Enquanto isso, na televisão, a disputa ideológica é em outro nível. Há um jogo subliminar, o poder do capitalismo, a forma como as estratégias publicitárias constroem e destroem imagens. A política por trás de cada uma das campanhas.
E o mais instigante, é que, apesar de estar na campanha do Não, enquanto que seu chefe está na campanha do Sim, René Saavedra continua em paralelo com seu trabalho publicitário, ajudando a vender roupas e sabonetes. Essa escolha de condução do roteiro deixa as diversas camadas críticas do filme ainda melhores. Ajudando a pensar, não apenas naquele momento histórico, na questão da ditadura, da liberdade de expressão, mas na própria forma como o nosso mundo lida com imagens hoje em dia. Há sonhos, há ideias, mas há também o trabalho, puro e simples do marketing.
Por isso, o terceiro ato de No se torna algo tão forte. É um momento político único em um país a possibilidade de se terminar com uma ditadura através do símbolo mais democrático possível que é o voto direto. A onda crescente de euforia e a possibilidade real de poder fazer aquilo constroem a esperança em um mundo melhor. É emocionante, é belo. Mas, Pablo Larraín nos surpreende, indo além e nos fazendo refletir profundamente sobre tudo aquilo que envolve nossa vida. Sem dúvidas, um grande filme.
No (No, 2012 / Chile)
Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Pedro Peirano
Com: Gael García Bernal, Alfredo Castro e Antonia Zegers
Duração: 118 min.
No meio dessa batalha está o publicitário René Saavedra, vivido por Gael García Bernal. Um homem exilado, que atualmente faz o seu trabalho sem muitos ideais, ainda que tenha um filho com uma revolucionária. Porém, ele acaba sendo contratado pela campanha do Não para criar uma estratégia que possa comover a população e alertar para a necessidade de votar sem medo. Começa então, um jogo de imagens perigoso e interessante ao mesmo tempo, já que René não acredita em campanhas de conscientização. Sua ideia é criar um clima de euforia com a possibilidade de um Chile livre.
Para falar de um período histórico que tem a televisão chilena como principal arma, Pablo Larraín cria uma estética especial para seu filme. Não que não tenha inovações tecnológicas, mas a dimensão da tela, por exemplo, é 4x3, e há um jogo estético interessante, principalmente na abertura e encerramento com uma passagem de folhas de flipchart onde as imagens estão levemente fora de registro.
Outro ponto interessante das escolhas de direção é a utilização de imagens reais das duas campanhas. Temos inclusive imagens do próprio Pinochet fazendo discursos e tentando ludibriar a população. E depoimentos de artistas conhecidos como Jane Fonda, Christopher Reeve e Richard Dreyfuss. O paralelo entre as gravações e os programas é muito bem realizado, com simulações das mesmas situações e construção de um clima de tensão próprio de campanhas políticas. As escolhas, os comentários, a forma como cada equipe vai analisando a concorrente, o clima de tensão. Tudo segue um ritmo bem realista e instigante.
Claro, que aquela campanha tem uma tensão a mais. O Chile ainda vive a ditadura, a censura e os coligados da campanha do Não tem que enfrentar uma ameaça velada do exército. Há todo um jogo psicológico, principalmente à noite, com as famílias daquelas pessoas, o que deixa a disputa mais pessoal. Enquanto isso, na televisão, a disputa ideológica é em outro nível. Há um jogo subliminar, o poder do capitalismo, a forma como as estratégias publicitárias constroem e destroem imagens. A política por trás de cada uma das campanhas.
E o mais instigante, é que, apesar de estar na campanha do Não, enquanto que seu chefe está na campanha do Sim, René Saavedra continua em paralelo com seu trabalho publicitário, ajudando a vender roupas e sabonetes. Essa escolha de condução do roteiro deixa as diversas camadas críticas do filme ainda melhores. Ajudando a pensar, não apenas naquele momento histórico, na questão da ditadura, da liberdade de expressão, mas na própria forma como o nosso mundo lida com imagens hoje em dia. Há sonhos, há ideias, mas há também o trabalho, puro e simples do marketing.
Por isso, o terceiro ato de No se torna algo tão forte. É um momento político único em um país a possibilidade de se terminar com uma ditadura através do símbolo mais democrático possível que é o voto direto. A onda crescente de euforia e a possibilidade real de poder fazer aquilo constroem a esperança em um mundo melhor. É emocionante, é belo. Mas, Pablo Larraín nos surpreende, indo além e nos fazendo refletir profundamente sobre tudo aquilo que envolve nossa vida. Sem dúvidas, um grande filme.
No (No, 2012 / Chile)
Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Pedro Peirano
Com: Gael García Bernal, Alfredo Castro e Antonia Zegers
Duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
No
2013-01-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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