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Carlota Joaquina - Princesa do Brazil
Carlota Joaquina - Princesa do Brazil
Como amanhã é o Dia Internacional da Mulher, resolvi homenagear Carla Camurati. Atriz, diretora, produtora que com sua garra conseguiu ser o marco da retomada do cinema brasileiro. Seu filme Carlota Joaquina - Princesa do Brazil pode não ser o melhor exemplo do nosso cinema, mas tem inúmeras qualidades, a começar pelo mote histórico, passando pela criatividade de um filme de baixo orçamento, até a linguagem farsesca que tem seus atrativos.
A trama histórica centra na figura de Carlota Joaquina, princesa espanhola que casa com Dom João ainda criança, se muda para Portugal e depois para o Brasil contra sua vontade. Napoleão está prestes a invadir a Península Ibérica e a corte portuguesa precisa fugir. Nada melhor do que sua colônia mais rica e quase esquecida no sul da América. Toda a história, no entanto, é narrada nos tempos atuais por um escocês vivido pelo ator Brent Hieatt que conta para a pequena Yolanda o que ele sabe sobre a História do Brasil e da princesa espanhola. A garotinha é interpretada pela atriz Ludmila Dayer, que também faz a Carlota quando criança.
É interessante essa escolha de Carla Camurati em narrar a história pela visão do escocês e da esperta garota. Primeiro, porque como narradores, eles ajudam a narrativa a andar, dando saltos históricos mais precisos e criando uma certa agilidade no processo. Seus comentários servem como pontuação para cada novo assunto. Por outro lado, isso ajuda também na escolha do tom farsesco. Carlota Joaquina não é um filme fiel à história da personagem. Aliás, uma frase no final do filme já aponta que, quando se trata de história, quanto mais se lê, menos se sabe. E Camurati brinca com isso, exagerando nos estereótipos e lendas criadas pelo olhar popular. Ainda mais por uma visão estrangeira.
Não por acaso, a direção de arte e as encenações são sempre extremamente over. Muita cor, muita caricatura, muitas situações absurdas como a chegada da corte na Bahia, tendo mulheres e homens negros pintados recebendo-os de uma maneira bastante peculiar. Ou mesmo ainda na Europa, com a construção da figura de Dom João e de sua mãe, a Rainha Louca. Toda a corte portuguesa parece um grande hospício, é verdade. E quando chegam no Brasil tudo isso apenas piora. Seja pelo calor, pela caricatura de um país de pessoas semi-nuas ou mesmo do Dom João bobão com suas coxas de galinha no bolso.
Por trás da construção caricata, no entanto, como uma boa farsa, Carla Camurati nos apresenta críticas fortes a nossa própria história. Toda a construção do nosso país feita da forma mais errada possível, como a corte solicitando as moradias alheias para alojar seus membros. Ou a criação do Banco do Brasil e o sumiço do ouro brasileiro. Isso sem falar na postura dos comerciantes, inflacionando os produtos e a burguesia vendendo favores reais. A corrupção é explicada e implantada de maneira muito inteligente e sutil.
Assim como é sutil a defesa da figura do próprio Dom João, visto como um bobão, mas que no fundo é um esperto. Não por acaso ele sempre finge não ver as traições de sua esposa, mas afasta cada um de seus amantes. Assim como lida com seus filhos de uma maneira bastante dura. A conversa que ele tem com Dom Pedro mesmo, aceitando que este fique no Brasil é engraçada. Seria uma forma de manter o país junto a Portugal, ainda que aparentemente independente. Entre piadas e caricaturas, Carla Camurati dá uma aula crítica de história. Ainda que uma verba apertada acabe construindo um filme claustrofóbico, com planos sempre muito fechados, objetos de artes limitados e uma reconstituição histórica que mais se assemelha ao teatro que o cinema.
De qualquer maneira, tem um forte apelo educativo. Tanto foi assim que este foi o mote para que ela distribuísse seu filme. Aproveitando a imagem de atriz "global" ela foi de escola em escola, fez palestras, apareceu em programas televisivos e vendeu a sua obra como um registro importante para discutir nossa história. Carlota Joaquina - Princesa do Brazil está até hoje na lista de vestibulares e tem mesmo seus méritos. É o marco da Retomada do cinema brasileiro e uma oportunidade de mostrar que um filme pode ir além do entretenimento. Ainda que use uma linguagem completamente estranha para a maioria do público.
Carlota Joaquina - Princesa do Brazil (Carlota Joaquina - Princesa do Brazil, 1995 / Brasil)
Direção: Carla Camurati
Roteiro: Carla Camurati, Melanie Dimantas, Angus Mitchell
Com: Marieta Severo, Marco Nanini, Norton Nascimento, Marcos Palmeira, Ludmila Dayer e Brent Hieatt
Duração: 100 min.
A trama histórica centra na figura de Carlota Joaquina, princesa espanhola que casa com Dom João ainda criança, se muda para Portugal e depois para o Brasil contra sua vontade. Napoleão está prestes a invadir a Península Ibérica e a corte portuguesa precisa fugir. Nada melhor do que sua colônia mais rica e quase esquecida no sul da América. Toda a história, no entanto, é narrada nos tempos atuais por um escocês vivido pelo ator Brent Hieatt que conta para a pequena Yolanda o que ele sabe sobre a História do Brasil e da princesa espanhola. A garotinha é interpretada pela atriz Ludmila Dayer, que também faz a Carlota quando criança.
É interessante essa escolha de Carla Camurati em narrar a história pela visão do escocês e da esperta garota. Primeiro, porque como narradores, eles ajudam a narrativa a andar, dando saltos históricos mais precisos e criando uma certa agilidade no processo. Seus comentários servem como pontuação para cada novo assunto. Por outro lado, isso ajuda também na escolha do tom farsesco. Carlota Joaquina não é um filme fiel à história da personagem. Aliás, uma frase no final do filme já aponta que, quando se trata de história, quanto mais se lê, menos se sabe. E Camurati brinca com isso, exagerando nos estereótipos e lendas criadas pelo olhar popular. Ainda mais por uma visão estrangeira.
Não por acaso, a direção de arte e as encenações são sempre extremamente over. Muita cor, muita caricatura, muitas situações absurdas como a chegada da corte na Bahia, tendo mulheres e homens negros pintados recebendo-os de uma maneira bastante peculiar. Ou mesmo ainda na Europa, com a construção da figura de Dom João e de sua mãe, a Rainha Louca. Toda a corte portuguesa parece um grande hospício, é verdade. E quando chegam no Brasil tudo isso apenas piora. Seja pelo calor, pela caricatura de um país de pessoas semi-nuas ou mesmo do Dom João bobão com suas coxas de galinha no bolso.
Por trás da construção caricata, no entanto, como uma boa farsa, Carla Camurati nos apresenta críticas fortes a nossa própria história. Toda a construção do nosso país feita da forma mais errada possível, como a corte solicitando as moradias alheias para alojar seus membros. Ou a criação do Banco do Brasil e o sumiço do ouro brasileiro. Isso sem falar na postura dos comerciantes, inflacionando os produtos e a burguesia vendendo favores reais. A corrupção é explicada e implantada de maneira muito inteligente e sutil.
Assim como é sutil a defesa da figura do próprio Dom João, visto como um bobão, mas que no fundo é um esperto. Não por acaso ele sempre finge não ver as traições de sua esposa, mas afasta cada um de seus amantes. Assim como lida com seus filhos de uma maneira bastante dura. A conversa que ele tem com Dom Pedro mesmo, aceitando que este fique no Brasil é engraçada. Seria uma forma de manter o país junto a Portugal, ainda que aparentemente independente. Entre piadas e caricaturas, Carla Camurati dá uma aula crítica de história. Ainda que uma verba apertada acabe construindo um filme claustrofóbico, com planos sempre muito fechados, objetos de artes limitados e uma reconstituição histórica que mais se assemelha ao teatro que o cinema.
De qualquer maneira, tem um forte apelo educativo. Tanto foi assim que este foi o mote para que ela distribuísse seu filme. Aproveitando a imagem de atriz "global" ela foi de escola em escola, fez palestras, apareceu em programas televisivos e vendeu a sua obra como um registro importante para discutir nossa história. Carlota Joaquina - Princesa do Brazil está até hoje na lista de vestibulares e tem mesmo seus méritos. É o marco da Retomada do cinema brasileiro e uma oportunidade de mostrar que um filme pode ir além do entretenimento. Ainda que use uma linguagem completamente estranha para a maioria do público.
Carlota Joaquina - Princesa do Brazil (Carlota Joaquina - Princesa do Brazil, 1995 / Brasil)
Direção: Carla Camurati
Roteiro: Carla Camurati, Melanie Dimantas, Angus Mitchell
Com: Marieta Severo, Marco Nanini, Norton Nascimento, Marcos Palmeira, Ludmila Dayer e Brent Hieatt
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Carlota Joaquina - Princesa do Brazil
2013-03-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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