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Uma História de Amor e Fúria
Uma História de Amor e Fúria
Antes de qualquer coisa, há de se admirar a coragem de Luiz Bolognesi em lançar uma animação adulta no Brasil. Em um país onde até Os Simpsons passa pela manhã por não compreender que nem toda animação é para crianças, é um risco.
E Uma História de Amor e Fúria não tem nada de infantil. Mesmo puxando para a história do Brasil, a trama não é didática. Muitas das críticas, inclusive, está na entrelinhas, pois Luiz Bolognesi traz uma visão bastante polêmica de nossa cultura, aquela que não está nos livros de história. A vida dos renegados, dos esquecidos, dos injustiçados, dos incompreendidos. Uma história de lutas, nome original do filme, que é construída entre o amor e a fúria. O amor do protagonista por sua Janaína e sua fúria diante das injustiças do mundo.
Interessante que, apesar de ser um guerreiro imortal, o protagonista dublado por Selton Mello muda de nome a cada fase da trama. Enquanto que a personagem dublada por Camila Pitanga é sempre Janaína, talvez para facilitar o reconhecimento do seu espírito em diversas encarnações. Ou porque para ele é sempre sua Janaína. O fato é que a trama tem esse referencial místico, de um homem que vira pássaro e sobrevoa o mundo até reencontrar o seu grande amor e vivenciar alguma situação, onde está sempre do lado mais frágil.
O único problema do roteiro de Uma História de Amor e Fúria é que ele acaba sendo muito episódico. Não consegue aprofundar sua trama de luta eterna contra Aiangá e nos dá uma sensação de amostra grátis a cada momento histórico. Primeiro a destruição dos Tupinambás, ainda no início da colonização do país. Depois no Maranhão, no Império, na época da revolta da balaiada. Pulando para a época da ditadura militar e chegando por fim em um futuro, não muito distante, onde o mundo está em racionamento total de água.
Parece que a jornada do nosso guerreiro vai perdendo fôlego, a primeira parte é melhor desenvolvida, com diversos detalhes de apresentação, construção do problema e resolução trágica. Assim como a animação que capricha em detalhes de desenhos, simula ângulos e movimentos de câmera incríveis e nos dá uma sensação de detalhes imensa. Mesmo que seja uma animação 2D com algumas limitações de recursos, vide os tradicionais "planos" fotográficos com apenas a "câmera" percorrendo a imagem. Mas, à medida que as histórias avançam, esse preciosismo técnico vai diminuindo. A cada história vamos tendo menos ângulos, menos movimentos de câmera e menos desenvolvimento de trama.
Fica a sensação de querer mais, até porque o filme é curto para os padrões internacionais, apenas uma hora e quinze minutos. Teria fôlego ainda para desenvolver melhor, principalmente a situação do futuro hipotético. Tudo poderia ser muito mais rico, o que não faz de Uma História de Amor e Fúria uma proposta pobre. Há valores importantes ali, até o despertar de uma mente que possa pensar e questionar a história do nosso país.
Essa é uma característica que Luiz Bolognesi já tinha demonstrado em Terra Vermelha. E de que certa forma está em todos os roteiros que ele já escreveu como em Bicho de Sete Cabeças, Chega de Saudade e até As Melhores Coisas do Mundo. Essa defesa do mais frágil, do lado perdedor que tem algo de forte em sua luta. Não por acaso, há frases fortes no filme como "Meus heróis não viraram estátuas", que é o nome do livro que ele lançou com Pedro Puntoni. Estão contemplados no filme, os Tupinambás que foram dizimados pelos Tupis e portugueses. A origem do cangaço, após a derrota na revolta da balaiada. A Falange Vermelha, em uma mistura de presos políticos e presos comuns pós ditadura e, de certa forma, todos os brasileiros, excluídos das situações de elite governamental do nosso país.
Então, independente das limitações e problemas, Uma História de Amor e Fúria é um marco na cinematografia brasileira. Um filme que mexe com padrões, com conceitos e com fórmulas estabelecidas. Poderia ser melhor, sempre poderia. Mas, já é um grande passo, não apenas para o desenvolvimento de outro mercado de animação no país, como para ajudar o nosso povo a pensar sua história e seu futuro, afinal, como o próprio filme alerta, "viver sem conhecer o passado é viver no escuro".
Uma história de Amor e Fúria (Uma história de Amor e Fúria, 2013 / Brasil)
Direção: Luiz Bolognesi
Roteiro: Luiz Bolognesi
Voz: Selton Mello, Camila Pitanga, Rodrigo Santoro
Duração: 75 min.
E Uma História de Amor e Fúria não tem nada de infantil. Mesmo puxando para a história do Brasil, a trama não é didática. Muitas das críticas, inclusive, está na entrelinhas, pois Luiz Bolognesi traz uma visão bastante polêmica de nossa cultura, aquela que não está nos livros de história. A vida dos renegados, dos esquecidos, dos injustiçados, dos incompreendidos. Uma história de lutas, nome original do filme, que é construída entre o amor e a fúria. O amor do protagonista por sua Janaína e sua fúria diante das injustiças do mundo.
Interessante que, apesar de ser um guerreiro imortal, o protagonista dublado por Selton Mello muda de nome a cada fase da trama. Enquanto que a personagem dublada por Camila Pitanga é sempre Janaína, talvez para facilitar o reconhecimento do seu espírito em diversas encarnações. Ou porque para ele é sempre sua Janaína. O fato é que a trama tem esse referencial místico, de um homem que vira pássaro e sobrevoa o mundo até reencontrar o seu grande amor e vivenciar alguma situação, onde está sempre do lado mais frágil.
O único problema do roteiro de Uma História de Amor e Fúria é que ele acaba sendo muito episódico. Não consegue aprofundar sua trama de luta eterna contra Aiangá e nos dá uma sensação de amostra grátis a cada momento histórico. Primeiro a destruição dos Tupinambás, ainda no início da colonização do país. Depois no Maranhão, no Império, na época da revolta da balaiada. Pulando para a época da ditadura militar e chegando por fim em um futuro, não muito distante, onde o mundo está em racionamento total de água.
Parece que a jornada do nosso guerreiro vai perdendo fôlego, a primeira parte é melhor desenvolvida, com diversos detalhes de apresentação, construção do problema e resolução trágica. Assim como a animação que capricha em detalhes de desenhos, simula ângulos e movimentos de câmera incríveis e nos dá uma sensação de detalhes imensa. Mesmo que seja uma animação 2D com algumas limitações de recursos, vide os tradicionais "planos" fotográficos com apenas a "câmera" percorrendo a imagem. Mas, à medida que as histórias avançam, esse preciosismo técnico vai diminuindo. A cada história vamos tendo menos ângulos, menos movimentos de câmera e menos desenvolvimento de trama.
Fica a sensação de querer mais, até porque o filme é curto para os padrões internacionais, apenas uma hora e quinze minutos. Teria fôlego ainda para desenvolver melhor, principalmente a situação do futuro hipotético. Tudo poderia ser muito mais rico, o que não faz de Uma História de Amor e Fúria uma proposta pobre. Há valores importantes ali, até o despertar de uma mente que possa pensar e questionar a história do nosso país.
Essa é uma característica que Luiz Bolognesi já tinha demonstrado em Terra Vermelha. E de que certa forma está em todos os roteiros que ele já escreveu como em Bicho de Sete Cabeças, Chega de Saudade e até As Melhores Coisas do Mundo. Essa defesa do mais frágil, do lado perdedor que tem algo de forte em sua luta. Não por acaso, há frases fortes no filme como "Meus heróis não viraram estátuas", que é o nome do livro que ele lançou com Pedro Puntoni. Estão contemplados no filme, os Tupinambás que foram dizimados pelos Tupis e portugueses. A origem do cangaço, após a derrota na revolta da balaiada. A Falange Vermelha, em uma mistura de presos políticos e presos comuns pós ditadura e, de certa forma, todos os brasileiros, excluídos das situações de elite governamental do nosso país.
Então, independente das limitações e problemas, Uma História de Amor e Fúria é um marco na cinematografia brasileira. Um filme que mexe com padrões, com conceitos e com fórmulas estabelecidas. Poderia ser melhor, sempre poderia. Mas, já é um grande passo, não apenas para o desenvolvimento de outro mercado de animação no país, como para ajudar o nosso povo a pensar sua história e seu futuro, afinal, como o próprio filme alerta, "viver sem conhecer o passado é viver no escuro".
Uma história de Amor e Fúria (Uma história de Amor e Fúria, 2013 / Brasil)
Direção: Luiz Bolognesi
Roteiro: Luiz Bolognesi
Voz: Selton Mello, Camila Pitanga, Rodrigo Santoro
Duração: 75 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Uma História de Amor e Fúria
2013-04-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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