Giovanni Improtta, o homem do "felomenal". Se você vai em busca de mais um capítulo da telenovela Senhora do Destino, esqueça. Aliás, Maria do Carmo nem mesmo existe nessa realidade paralela, já que o roteiro só fala de uma primeira esposa do bicheiro e a atual, vivida por Andrea Beltrão. Mas, não se parecer com a novela não é exatamente uma qualidade, já que a trama se torna enfadonha ao tentar dar um embasamento maior ao mundo da contravenção. Zé Wilker e a roteirista Mariana Vielmond tentam aproximar a realidade de algo tipo a série Filhos do Carnaval, da HBO. Fica tudo muito impalpável e cansativo. Com o perdão da palavra, Giovanni Improtta é um filme chato.
É uma comédia onde não se dá risada. A tentativa é mais próxima de uma farsa, mas falta inteligência para lidar bem com isso. A ironia é tola, a crítica social é rasa, o jogo cênico não nos envolve. O filme acaba sendo um cansativo amontoado de nadas. Um bicheiro que quer viver na legalidade com um esquema estranho de uma cúpula que conseguirá abrir casinos sancionados pelo presidente da república. Seria o fim da contravenção. Mas, para isso, Giovanni Improtta precisa melhorar sua imagem, desligar-se do jogo do bicho. E, ao tentar fazer isso, ele acaba entrando em diversas complicações que o levam a ser preso por tráfico de órgãos.
E nessa história, vão aparecendo personagens e situações diversas que em vez de divertir cansam ainda mais o espectador. Como o filho do bicheiro sofrendo bullying na escola por causa de uma palestra que o pai deu. Ou o pastor cunhado do personagem que está sempre pregando em sua igreja. Ou ainda uma personagem vivida por Cristina Pereira que "ajuda" o esquema do bicho, sendo presa em batidas armadas. Isso sem falar em toda a situação envolvendo o triângulo amoroso de Giovanni, a esposa Marilene e a garota Patrícia vivida pela atriz, Julia Gorman. O pai da moça, Aureliano e toda a situação no clube, também é boba, principalmente pelo personagem de Jô Soares em uma participação sem graça.
Seguindo o tom farsesco que ajudam a compor o próprio personagem cafona que fala sempre errado, as caracterizações de cenas e figurinos são bastante estranhas e exageradas, como os cabelos de Milton Gonçalves e Othon Bastos, membros da tal cúpula que está armando a volta dos cassinos. Ou o colorido exagerado das roupas de Marilene que fazem a interpretação de Andrea Beltrão ficar ainda mais exagerada. Piadinhas soltas como os nomes dos seguranças de Giovanni ou sua situação dentro da cadeia, com uma cela que mais parece um hotel de luxo, não são suficientes para tornar o filme mais agradável.
Na realidade, Giovanni Improtta só ganha algum ritmo na parte final, quando a situação começa a se apresentar de fato, tendo algumas reviravoltas. Há inteligência em pontos como o Aureliano sambista, ou mesmo na situação que envolve o aparelho de mp3. Mas, ainda assim, falta carisma ao personagem. Falta uma história melhor embasada. Falta ritmo em toda a projeção. Falta humor. Tudo bem que uma crítica social não precisa ter humor pastelão, nem riso farto. Mas, precisa ter humor, mesmo que um humor ferino, irônico, inteligente.
Em sua estreia como diretor em cinema, José Wilker não chega a fazer um papel ruim. A técnica do filme, se não salta aos olhos, ao menos é correta. O filme não é mal feito, nesse sentido como outros que vemos por aí. Mas, ainda assim, a história não convence. Não é apenas o roteiro. São escolhas que fazem do filme algo complicado de digerir, como os "números" musicais por exemplo. Não é engraçado ouvir Luan e Vanessa em determinada cena, nem Zeca Pagodinho em outra. Fica uma foto legenda de mal gosto. Até o "felomenal" é dito de maneira gratuita, em uma cena forçada.
Não vou dizer que a escolha de colocar um personagem de uma telenovela em um filme seja um problema. Spin-offs podem funcionar muito bem, sem preconceitos. Não li o livro de Aguinaldo Silva que originou o filme, é verdade, mas o que pareceu é que o personagem não rendia uma trama só dele. A sua graça na época, talvez dependesse do contexto em que se inseria. Ao tirá-lo de lá, ficou vazio. Giovanni Improtta é isso, um filme vazio. Vamos torcer para que o filme de Crô, outro personagem de uma telenovela de Aguinaldo Silva, consiga algo mais interessante.
Giovanni Improtta (Giovanni Improtta, 2013 / Brasil)
Direção: José Wilker
Roteiro: Mariana Vielmond
Com: José Wilker, Andrea Beltrão, Thelmo Fernandes, André Mattos, Gillray Coutinho, Julia Gorman, Yago Machado, Norival Rizzo, Roney Villela, Paulo Mathias Jr, Thogun Teixeira, Cristina Pereira, Gregório Duvivier, Alcemar Vieira, Eduardo Galvão
Participações Especiais: Milton Gonçalves, Othon Bastos, Hugo Carvana, Guida Vianna, Paulo Goulart, Jô Soares
Duração: 101 min.