A pré-estreia em Salvador aconteceu na terça-feira dia 16, e estiveram presentes o produtor LG Tubaldini Jr, o Tuba, e os atores Fábio Porchat e Érico Brás, que faz uma participação especial como o travesti Roberval. Antes da sessão, houve uma coletiva de imprensa e pudemos conhecer um pouco mais sobre o processo de criação e novidades de cada um. Vejam como foi.
Dois Terços - O filme fala sobre Concurso Público. Como foi o processo de criação do filme, de pesquisa, como foi a sua relação com os concurseiros?
Tuba - Eu sou o produtor do filme, gostaria que Pedro Vasconcelos estivesse aqui, porque ele foi o diretor, um grande acerto porque é um diretor com grande talento para dirigir atores, ainda mais com um elenco estelar como esse. Respondendo a sua pergunta, o filme é baseado em fatos reais e nós ficamos três anos em pesquisa com os concurseiros e os roteiristas. A gente chegou a um roteiro que parecia mais cabível e convidamos o Pedrinho para dirigir. Mas, foi um processo de muita pesquisa. Não só histórias reais, como histórias saídas da cabeça do Fábio que a gente não consegue colocar tudo no roteiro.
Fábio – E eles falaram uma coisa. Eu nunca prestei concurso público, mas eles falaram que tem muita gente prestando concurso público e, realmente, perto de você tem alguém agora prestando concurso público. É muito próximo e eu não sabia disso.
Tuba – Doze milhões de pessoas todos os anos prestam algum concurso público.
Fábio – Virou profissão, prestar concurso
Érico – Eu tenho um irmão mais velho que presta todo ano.
Fábio – Aí, ele nem vai mais prestar, né? Só se inscreve...
Érico – Isso, só se inscreve e diz: perdi. (risos)
Fábio – Mas, eu conversei com algumas pessoas e é um negócio mesmo. As pessoas loucas dentro desse processo, porque tem que passar, tem que passar, tem que passar. E fazem cursinho, estudam. Então, é uma vida mesmo de estudo, 100%, não tem vida.
Dois Terços - Então, o filme poderia ser um drama?
Fábio – Não (risos). Olha essa foto, olha minha roupa (risos).
Dois Terços - Pelas histórias dos concurseiros?
Tuba – Ah, sim, poderia ser drama, comédia, poderia ser tudo.
Fábio – Poderia ser de zumbi, inclusive (risos)
CinePipocacult - Falem um pouco sobre o personagem de vocês.
Fábio - O meu é o Rogério Carlos, um gaúcho de Pelotas, reprimido pelo pai, que se cobra muito, é muito contido. E é um dos quatro finalistas do concurso público para Juiz Federal. Mas, aos poucos vai se descobrindo.
Érico - O meu é Roberval, um travesti que é quase uma mulher, elegantérrima, não perde a pose.
A Tarde - Fábio, como foi fazer um personagem que tinha que se controlar, ter gestos mais comedidos?
Fábio – Pois é, isso foi o que eu queria fazer, não mexer minhas mãos. Eu mexo a mão demais porque eu sou muito expansivo. E o caso do Rogério Carlos que é super reprimido em casa e que no final se descobre, eu quis fazer exatamente essa mudança. Então, o filme todo eu estou segurando a minha mão. Até no cartaz ela tá colada ao corpo. Porque como esse cara é reprimido, ele mesmo se reprime, foi isso que pensei.
Tribuna da Bahia - Fábio, você é um artista que usa muito o improviso, o que tem no filme que foi improviso seu e o que seguiu o roteiro?
Fábio – A minha dança no final do filme tem bastante improviso, apesar de eu ter feito aulas de dança com Alan lá no Rio, coreógrafo que me ajudou muito. Eu improvisei bastante no tribunal, a dança no tribunal. A composição do personagem foi muito livre, assim. Apesar de ter um diretor que aprovava ou não, mas ele deixava a gente criar a vontade. Em relação ao texto, tudo é o que é, as coisas que foram incorporadas ao roteiro, acabaram sendo feitas nos ensaios, que o diretor dizia: "isso tá legal fica, isso tá demais, sai". Mas, no geral, foi tudo muito ensaiadinho. Né, Érico?
Érico – É como ele falou, o que surgiu de improviso servia para embasamento do personagem, você pensa nas coisas, mas na hora de rodar, você fica dentro daquele universo, mas faz o que está escrito. Servia de apoio.
Fala Cinéfilo - Érico, como surgiu o convite para você participar do filme?
Érico – No ano passado, o Pedro Vasconcelos me ligou e disse, a gente está fazendo um filme e tem um personagem que acho que dá para você fazer. Aí, na primeira prova de figurino foi uma complicação, porque eu tenho as costas muito largas e o personagem é praticamente uma mulher. Só não é mulher mesmo porque não tem jeito. Mas, aí o Pedro disse: "não, dá pra fazer, a gente vai conseguir". E aí, juntou também com umas ideias que eu tinha e deu uma coisa que acho que vocês vão gostar.
Correio da Bahia - Como foi a escolha do diretor?
Tuba – O diretor é a peça chave, porque ele é o mago, que conduz tudo. E a grande desafio do filme é conseguir diretores que dirijam atores. A maioria não consegue dirigir direito ou delegam. E o Pedrinho tinha um histórico muito sólido de dirigir atores, dez ou quinze anos em novelas e teatro. Então, achamos que tava na hora dele começar no cinema. Então, ele leu o roteiro, gostou e começamos.
CinePipocaCult - Você falou que o filme é baseado em histórias reais. Mas, a gente percebe que há muitas referências também. O filme começa meio como Se Beber Não Case, a cena do Fábio lembra Será que ele é?, queria que você falasse um pouco das referências do filme.
Tuba – A sua pergunta é inteligente. Todo mundo fala do Se Beber Não Case. Se você analisar friamente, o que ele fez foi zerar as histórias de quatro caras e um fim de semana, mas ele não é o único. Mas, é fato, a gente tem inspiração em vários filmes. Todo mundo bebe de alguma fonte.
Fábio – E eu também, para fazer o personagem assisti vários filmes. A Rainha das Loucas, Será que ele é?, Para Wong Foo, Obrigada Por Tudo!, Priscila.
Correio da Bahia - A gente está acostumado a ver filme americano no topo das bilheterias, mas esse ano temos muitas comédias brasileiras de sucesso como De Pernas pro Ar 2.
Fábio – Vai que dá certo (risos).
Correio da Bahia - É (risos). Então, como uma reflexão mesmo, porque vocês acham que esse gênero faz tanto sucesso no Brasil, o que vocês acham que atrai tanto na comédia?
Fábio - Sempre atraiu, o público brasileiro gosta de rir, é muito divertido, está sempre feliz, sempre rindo. Sempre brincando, contando piada. Por que ressurgiu agora, seria a pergunta. Porque os filmes brasileiros estão melhores, cada vez mais bem feitos, com roteiros melhores, com uma imagem melhor. E o público está começando a perder esse preconceito. Acho que a comédia está fazendo o filme brasileiro sair dessa categoria filme nacional e entrar para categoria filme. A gente tinha drama, comédia, filme nacional. Agora a gente já tem a comédia do Paulo, do Bruno Mazzeo, saiu um pouco da categoria filme nacional. Acho isso muito bom.
Érico – E acho que tem dois fatores importantes. Tem uma coisa que as situações que são abordadas nos filmes de comédia são situações do cotidiano. O cara vê uma situação daquela e pensa, "ah, eu vi no ônibus um cara que fez isso". O outro, "pô, a minha filha em casa fez isso com meu genro". "Minha mãe faz." Entende? Então, acho que todas as situações que estão abordadas na comédia, estão no cotidiano e a gente passa a se ver no cinema. Então, o público tem se aproximado do cinema brasileiro, através da comédia. Como no caso desse filme, que falamos aqui que todo mundo conhece alguém que tá fazendo ou fez concurso público. Tenho muitos amigos homossexuais, travestis. Então, há uma identificação.
Fábio – E no caso do filme, são quatro pessoas buscando uma vaga no concurso público, mas mais do que isso, são quatro pessoas buscando entender quem são de verdade. Porque eles ficaram tão enfurnados só estudando que eles não viveram. Acho que tem um pouco isso também. Viva a vida, se descubra e seja feliz. Você não precisa ser Juiz Federal para ser feliz, você pode ser gay em Ipanema, de mão dada com o Érico Brás. (risos)
A Tarde - A química de vocês foi tão boa no cinema, será que rolou alguma coisa? (risos)
Érico – Não confunda que eu nasci no Curuzu, eu lhe pego na saída (risos).
Fábio – A Vida imita a arte, mas a arte não imita a vida. (risos).
Érico – A gente brincou muito, acho que todo o elenco, a produção teve a felicidade na escolha. Todos nós tivemos a capacidade de brincar com os seus personagens. Hoje a gente está vivendo uma demagogia, uma viadagem em relação a homossexualidade, querendo cura pra isso. Gente, vamos deixar as pessoas serem felizes, fazerem o que quiser. E cada um olhe sua vida e faça o que quiser.
Fábio – Frase maravilhosa essa, né? Uma viadagem em relação a homossexualidade. (risos).
Érico – Então, a gente é bem resolvido e brinca com os personagens, sem ser necessariamente homossexual. Isso não significa que rolou algo antes, nem depois.
Fábio – Isso vamos deixar no ar. O que acontece em Salvador, fica em Salvador. (risos)
Érico (fazendo voz afeminada) – E o que acontece no Rio, fica no Rio (risos)
Fábio (fazendo voz e gestos afeminados) – Você diz isso agora. (risos)
Tribuna da Bahia - Você disse em uma entrevista que sua mulher achou que você fosse gay.
Fábio – É verdade. Ela ainda acha. (risos) Todo dia ela acorda e diz, hei, hei. Ah, sei.
Cinema Detalhado - Fábio, você está na televisão, no cinema, na internet, no teatro. Não pensa em tirar férias?
Fábio – Não tem por quê. Tô no cinema, tô na Grande Família, tô fazendo Meu Passado Me Condena no Multishow. Tô escrevendo para uma coluna no Estado de São Paulo. Na Porta dos Fundos, na internet. No teatro, fazendo Fora do Normal. É isso aí, não pode parar. Enquanto estiver sendo visto, tiver público, tem que fazer. Enquanto estiver dando conta, tô fazendo.
Fala Cinéfilo - Mas, Porta dos Fundos é a menina dos seus olhos. Existe alguma possibilidade de você abandonar para se dedicar a outro projeto?
Fábio – Não. Aliás, não quero abandonar nada para me dedicar a nada. O Porta dos Fundos é a minha empresa. Então, é muito legal. Você tem uma padaria, é ótimo. A pessoa pergunta, o que é melhor televisão ou internet. O melhor é ter seu próprio negócio. Se eu fosse dono de uma emissora de TV, eu diria que é maravilhosa, porque eu poderia fazer o que eu quisesse. Se eu tivesse uma padaria e quisesse fazer um pão vermelho em forma de peru. Vou fazer. É minha padaria, eu faço (risos).
Correio da Bahia - Com todos esses trabalhos, como está sendo lidar com a fama?
Fábio – Olha, as pessoas me conhecem na rua pelo Porta do Fundos. Claro que tudo agrega, mas é ele que me faz ser mais reconhecido. E claro, que eu comecei a existir de um ano pra cá, porque o Porta dos Fundos só tem um ano. E é muito bom ser reconhecido, mas é ruim também, porque eu não consigo mais passar despercebido. E pro comediante, pro ator, pro artista de modo geral é muito bom ficar sentadinho no banco da praça e ver as coisas que estão acontecendo sem ser visto. Porque isso vai te inspirando. Então, sinto falta disso, porque me empobrece como artista.
CinePipocaCult - Completando a pergunta dela. Dá uma sensação de que, apesar dos cinco serem talentosos, você é O Cara do Porta dos Fundos. Você sente isso?
Fábio – Não, eu acho que todo mundo ali é O Cara do Porta dos Fundos. Como eu sou o dono do negócio, eu escrevo também, eu me escalo para os textos que eu quero fazer. Então, tenho uma propriedade diferente, eu sei, eu fiz. Mas, acho que todo mundo ali é a cara do Porta dos Fundos. Agora, eu gosto de ser reconhecido como a cara do Porta dos Fundos porque é um negócio que eu gosto e gostaria de ser.
CinePipocaCult - E vai sair agora o filme do Porta dos Fundos, certo?
Fábio – Isso. O roteiro já está pronto e a gente começa a rodar em outubro. Não serão esquetes, como na internet, mas uma história única de um grupo de amigos que se encontra e vai contando o que aconteceu com cada um deles.