Porque uma coisa que conta contra O Cavaleiro Solitário é o tempo. Duas horas e meia parecem intermináveis, ainda mais com a caricatura de Tonto composta por Johnny Depp. O filme é dele, não resta dúvidas, Armie Hammer não é o cavaleiro solitário que tem um índio como companheiro. Ele é o parceiro de Tonto, um índio esquisito que vive com um corvo morto em cima da cabeça, mas não para de alimentá-lo, e tem teorias estranhas sobre a natureza das coisas.
O roteiro de Justin Haythe e Ted Elliott opta por construir toda a trama em flashback, com um Tonto velho contando a um garotinho sua história em uma exposição de um parque. É interessante que essa escolha acaba nos colocando na mesma posição do garotinho, que conhece a lenda de uma maneira diferente daquela que é contada. E sempre estranha as mudanças mais esquisitas. Isso acaba sendo uma boa escolha, mas as idas e vindas para essa situação, com direito a pausar no meio da ação, acabam tornando o filme ainda mais cansativo.
De qualquer maneira, esta versão brinca com tudo que podemos imaginar saber sobre o Cavaleiro Solitário. Até a expressão Kemosabe, com a qual Tonto sempre se referiu ao amigo, é alvo de brincadeira, ganhando outro significado. O grito "Aiô, Silver", também não falta, assim como a música característica, sempre com um tom jocoso e um certo ar de estranhamento.
Mas, isso não significa que falte ação ao Cavaleiro Solitário. Pelo contrário, o filme possui diversas sequências de pura adrenalina desde o começo da projeção com a chegada do trem e fuga de determinado vilão. Temos índios, cavalaria, bandidos e mocinhos em diversas batalhas seja por terra, prata ou honra. E muitos desses momentos são empolgantes. Mas, acaba gerando um contraste muito grande em relação às partes de humor, ao contrário de Piratas do Caribe onde os dois gêneros pareciam viver em melhor harmonia.
Johnny Depp também é um problema. Um bom ator, sem dúvidas, mas que se especializou tanto na caricatura de um personagem estranho que cansou. Parece estar sempre repetindo os mesmos trejeitos e esquisitices. O contrário de Helena Bonham Carter, que apesar de também estar abusando do estereótipo, consegue ainda fazer papéis como a rainha Elizabeth em O Discurso do Rei, e está se preparando para viver Liz Taylor. Sua personagem aqui funciona, apesar de também ser mais uma exótica descabelada. Já Armie Hammer está correto como o Cavaleiro, faz mais pose que outra coisa, mas funciona.
O que complica mais o resultado final do filme é mesmo sua duração. É muito tempo, muitas reviravoltas para uma trama tão simples. Bandidos fugidos que matam os rangers e estão armando um plano para ficar ricos, usando o trem, os índios e até a cavalaria. Cabe ao Cavaleiro e a Tonto impedir isso. Mas, claro que nada poderá ser tão simples.
O Cavaleiro Solitário, no final não é um filme ruim. Mas, é cansativo e tem problemas crônicos, principalmente em sua tentativa de sátira inteligente de um gênero. Sofre também do cansaço do seu verdadeiro protagonista, Johnny Depp e seu esquisito índio exótico.
O Cavaleiro Solitário (The Lone Range, 2013 / EUA)
Direção: Gore Verbinski
Roteiro: Justin Haythe e Ted Elliott
Com: Johnny Depp, Armie Hammer, William Fichtner, Helena Bonham Carter e Ruth Wilson
Duração: 149 min.