Um filme sensível que consegue demonstrar bem essa situação lamentável e que Bernard Attal soube traduzir bem. O diretor, que mora em Salvador, apresentou o filme em diversos eventos na cidade e pudemos conversar com ele antes da pré-estreia no UCI Paralela. Vejam como foi.
CinePipocaCult: Bernard, o filme é baseado em um conto de Stefan Zweig, como foi o processo de escolha e criação desta história?
Bernard Attal: É uma história bem baiana, bem brasileira que aconteceu no sul da Bahia que conta a transformação de um jovem que vai atrás de uma coleção rara. E nesse processo ele passa por experiências que o transformam. Um filme que tem uma narrativa bem brasileira, baseada no conto de Stefan Zweig, que acontece na Alemanha, mas completamente adaptado para a realidade local.
CPC: Você é francês, radicado no Brasil, mas porque Itajuípe? Você morou lá, já conhecia a região?
B.A.: Não, eu como muitos franceses cheguei ao Brasil por causa dos romances de Jorge Amado. Então, quando eu cheguei, procurei conhecer o Sul da Bahia e lá conheci uma realidade completamente oposta aos romances de Jorge Amado porque a crise do cacau já tinha passado por lá. Eu conheci um povo, não apenas os fazendeiros, mas todos os trabalhadores rurais que perderam o emprego. Uma realidade extremamente forte. Então, eu resolvi fazer um filme lá, e Itajuípe é o município que mais preserva o seu patrimônio ecológico e histórico. Acho que Itajuípe ainda tem traços interessantes da história da região.
CPC: Como foi a escolha de Vladimir Brichta para protagonista, você já pensou nele desde o início ou foi em busca de um perfil?
B.A.: Não, eu não escrevi o roteiro pensando nos atores. Eu escrevi junto com o Sérgio Machado e como o conto era muito pequenino, a gente precisava criar os personagens, a história deles, os conflitos deles. Só depois fomos pensar no elenco. Aí, eu vi o Vladimir em uma peça em Salvador onde ele fazia um papel dramático. Então, eu vi que o ator cômico que eu conhecia tinha um traço de atuação bem maior do que a maioria das pessoas achava. Propus o papel para ele, e ele gostou.
CPC: Seu filme acabou sendo o último papel de Walmor Chagas. Você acha que isso repercute no filme?
B.A.: Não sei como isso repercute no filme, para nós foi algo que deu ainda mais responsabilidade para que o filme seja visto. O Walmor gostava muito de cinema, mas não fez o tanto que ele queria. Então, queremos muito que o filme alcance o público. Divulgar e distribuir um filme no Brasil é um desafio grande. Mas, a partir do momento em que o Walmor, que foi muito generoso com o filme e com os atores que participaram dele, faleceu, a gente fica com uma responsabilidade a mais. De fazer com que o talento dele seja completamente reconhecido. Então, foi uma alegria grande quando ele ganhou o prêmio póstumo do Kikito de melhor ator coadjuvante em Gramado.
CPC: É o seu primeiro filme longa-metragem, você já tem outros projetos?
B.A.: Estou trabalhando com vários projetos, ainda não defini qual será o próximo. Vai ser na Bahia, porque acho que a Bahia oferece uma paisagem humana e uma cenografia diversa. São muitas histórias que podem ser trabalhadas. Vai ser um filme baiano, mas ainda não sei o que, aonde.
CPC: E vai ser outro drama, tem preferência por algum gênero?
B.A.: Não, para mim o importante é saber alcançar o público. Não faço o filme para mim, faço um filme para tocar o público, para que tenha esse misto de emoções, de impressões, de histórias, então, por isso que a gente trabalhou bastante na narrativa do filme. Para que o filme seja instigante, para que o público tenha vontade de ficar até o final para ver como essa história vai se desdobrar.